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Vida pós-pandemia: será o fim do consumismo?

by Conrado Navarro
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Tem muita gente otimista em relação ao desfecho da situação vivida com a pandemia do coronavírus, e isso é ótimo. Mesmo com o elevado número de óbitos mundo afora (e no Brasil), duras e importantes lições serão aprendidas. Será que o fim do consumismo será um dos resultados práticos desta situação?

Por aqui, cabe discutir os reflexos financeiros da pandemia e um dos assuntos mais recorrentes no lado pessoal tem sido a redefinição de prioridades a partir da necessidade de manter o isolamento social. Para muitos brasileiros, foi uma oportunidade forçada de interromper o consumismo.

A conversa deve seguir por um rumo prático: o fato de deixar o consumismo de lado de forma temporária está realmente fazendo as pessoas pensarem mais (e melhor) nos seus hábitos e prioridades financeiras? É tentador responder que sim, mas ficar entusiasmado demais com isso é ingenuidade.

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Consumismo e o momento atual: a descoberta do íntimo?

Há uma esperança no ar de que a atual situação fará muitas pessoas pensarem mais nos seus hábitos de consumo e em como sua relação com o dinheiro estava errada – ou complicada, para dizer o mínimo.

Eu concordo e acho que toda crise traz elementos essenciais para um novo descobrimento do que realmente nos move, aproximando nossas intenções de nossas prioridades. Isso causa uma transformação real, mas que não dura tanto tempo assim na prática.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo mudou do consumo por necessidade para consumo por desejo. Necessidades são finitas, você as supre e fica tudo bem. Desejos, por outro lado, são infinitos. Tendências, moda, status, muita coisa mudou de lá para cá.

O que uma situação gravíssima como a pandemia faz é nos colocar de novo em contato com nossas necessidades, mas ainda inseridos no mundo do consumo por desejo. E mais, com maior apelo e insistência por parte de publicidade dirigida nos lembrando de como o desejo e o prazer são importantes.

Consumismo: o que vem depois de tudo isso?

Muitas empresas de marketing estão tentando se antecipar em relação ao comportamento do consumidor quando as coisas começarem a voltar ao normal, ainda que isso signifique um “novo normal”. Além de se antecipar, elas já estão pensando em como conectar nossas eventuais novas necessidades a status.

Há quem acredite que o consumidor vai dar vazão de forma muito agressiva a certos desejos represados pelo imposto isolamento social. Chamam isso de revenge buying, algo como “consumo de vingança”, termo que foi criado nos anos 80 para explicar por que a demanda por produtos estrangeiros explodia em países mais fechados.

Em muitos países, a flexibilização das regras de quarentena e isolamento já começam a dar sinais do que pode acontecer. Países mais maduros, com poder de compra mais elevado e maior nível de consciência econômica, observar os efeitos de uma possível demanda reprimida talvez seja mais raro.

A China deu um sinal de que o “consumo de vingança”, exemplo clássico de consumismo, pode realmente ocorrer por parte de quem tem poder aquisitivo. Segundo informações do site WWD, uma loja da Hermès faturou pelo menos R$ 14 milhões (ou 19 milhões yuan) no dia da reabertura de sua loja em Guangzhou, sul da China, no início de abril.

Será que veremos comportamentos parecidos em outros lugares do mundo? Eu acredito que sim! Claro que não podemos negar que a riqueza em geral será reduzida e que houve destruição de valor. Na prática, muita gente não terá condições de consumir como antes, ok, mas isso não muda o fato de que hoje elas seguem guiadas pelos seus desejos.

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Consumismo: é mais sobre nós do que sobre os outros (e os produtos)

Entra em cena um “antídoto” chamado educação financeira. É ingenuidade achar possível se blindar do novo mundo voltado para o desejo, afinal de contas também precisamos ser capazes de nos conectar com as pessoas deste mundo – e faremos isso também através de compras emocionais.

O mais importante é se organizar para que seja possível equilibrar melhor o que é necessidade e que tipo de prazer realmente faz sentido perseguir. O objetivo, afinal de contas, precisa ser transformar os raros e rápidos momentos de felicidade em lembranças significativas, capazes de dar sentido à vida.

Assim, cabe a nós não dar tanto foco a objetos de consumo, preferindo experiências de vida e conexão com outras pessoas. Mais tempo dedicado a servir e aprender com os demais que fechados em nosso mundo apenas tentando impressionar os outros através das redes sociais.

O momento atual de pandemia está realmente fazendo muita gente repensar suas atitudes, o que é ótimo. Mudar ou não, de fato, será um reflexo de escolhas individuais a serem feitas diante do mundo como ele sempre foi, e esse é o ponto central da discussão.

Para o bem e para o mal, o mundo não vai mudar! Embora essa visão pareça romântica e seja até mesmo desejável, não se anime muito. A maioria esmagadora das pessoas será como sempre foi, com uma boa parcela delas ainda mais sufocada pela realidade de só ter dinheiro para necessidades.

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Conclusão

Fim do consumismo? Não será dessa vez. Muita gente vai seguir comprando o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para impressionar quem não gosta. Talvez você, leitor do Dinheirama, já tenha descoberto que isso não faz sentido e só aumenta a ansiedade. Parabéns!

Eu, você, nossos leitores somos uma pequena parte. Cada vez maior, é verdade, mas ainda uma minoria. Juntos, temos feito muita diferença, mas a pressão social e as expectativas para demonstrarmos sinais de sucesso são cada vez mais fortes e maiores. O desafio permanece.

Foto: Pexels.

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