Para atender as novas exigências impostas nas últimas décadas e trazer um olhar diferenciado sobre os saberes presentes nas estruturas das empresas, surge a necessidade da troca de informações e da construção do conhecimento organizacional. Uma grande quantidade de produções científicas tem sido desenvolvida sobre o tema aprendizagem organizacional. Em especial estudos relativos à formação para o trabalho, isto é, os programas de treinamento. Muitos pesquisadores relatam a deficiência desses programas, um deles é o italiano Bruno Maggi. Veja o que ele diz:
A maioria dos programas de formação é isolada do contexto organizacional, de análises das necessidades de formação e programas centrados nas prescrições hierárquicas, de atividades realizadas por agentes externos.
Uma dessas questões em relação à insatisfação frente à eficácia dos programas de treinamento passa pela linguagem, pois é ela que mobiliza o conhecimento e que gera saberes. Por meio dela podemos compreender as reais necessidades dos trabalhadores e elaborar programas de formação mais coerentes e satisfatórios, tanto para a empresa quanto para os funcionários.
A linguagem deve ser tratada como elemento fundamental para a produção e disseminação dos saberes presentes no trabalho, principalmente quando falamos em Gestão do Conhecimento. Essa ferramenta pode ser muito útil para os programas de formação e usada amplamente pelo setor de Gestão de Pessoas.
No entanto, sabe-se que compartilhar conhecimento não é uma atividade fácil e que existem muitas barreiras para que uma comunicação seja eficaz:
- A falta de uma linguagem comum que aproxime trabalhadores e gestores;
- A dificuldade em verbalizar as ações cotidianas e suas dificuldades;
- A resistência dos trabalhadores em revelar seus “segredos” de produção;
- O desconhecimento, por parte de quem elaborada os programas de formação, da importância de ouvir quem executa as atividades.
Ergologia e as necessidades reais de quem executa o trabalho
Dentre muitos estudos realizados acerca dos conhecimentos organizacionais e do trabalho, temos a Ergologia. Essa perspectiva surgiu na França no início da década de 80 a partir de discussões de um pequeno grupo de pesquisadores, dentre eles Yves Schwartz, Daniel Faita, Bernard Vuillon e Jacques Duraffourg. O grupo debatia acerca das mudanças do trabalho nos anos 80, onde emergiu a questão “O que é o trabalho?”
Surgiu também naquele momento a necessidade de construir um acesso mais profundo e rigoroso ao mundo do trabalho, ao que era trabalhar para poder avaliar a transformação em curso – declínio parcial do taylorismo e mudanças tecnológicas. Para avaliar essa mudança era preciso aproximar do trabalho de modo mais simples, diferente dos moldes acadêmicos já instituídos. Era preciso ouvir os trabalhadores, como relata a pesquisadora Elisa Borges:
Trata-se de uma outra maneira de ver o trabalho, focando o ponto de vista da atividade do trabalhador, não na ótica de um “recurso humano a ser administrado”, ou como uma “pessoa a ser gerida”, mas como um trabalhador (individual e coletivo) que também faz a gestão de seu trabalho
O interessante é que a Ergologia demonstra que o trabalho é atravessado por questões societárias, valores pessoais e socioculturais, relações complexas e por formas de inteligências sociais diferentes e complementares. Todas as descobertas e avanços acadêmicos conseguidos nos estudos realizados possuem como ferramenta central a linguagem.
Uma breve conclusão
Acredito que é possível melhorar os moldes dos programas tradicionais de formação para o trabalho e a linguagem é a força motriz para isso. Quer compartilhar alguma experiência pessoal neste sentido? Comente e vamos discutir o tema com mais profundidade.
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