Marcelo comenta: “Navarro, estou tentando desenvolver um trabalho de conscientização e educação financeira com alguns de meus amigos e familiares, mas confesso estar desapontado com o rumo da coisa. São todos jovens, como eu você, e muitos não vêem a real necessidade de poupar, planejar e pensar no dinheiro de maneira mais inteligente. Para eles, viver não é isso. Enfim, como conseguir quebrar essa barreira inicial e mostrar a importância de tudo isso? Obrigado.”
Marcelo, meus parabéns pela atitude! É raro encontrar pessoas interessadas em compartilhar seus conhecimentos e opiniões sobre dinheiro, atitude bastante louvável de sua parte. Bem-vindo ao time dos que acreditam no poder da educação financeira. Devo confessar que responder ao seu questionamento será um desafio e tanto para minha capacidade de abstração e habilidade de argumentação. Na tentativa de encontrar palavras coerentes para o que penso, percebi que a melhor maneira de mostrar a importância do planejamento é usar exemplos do que pode acontecer quando ele não existe.
Consequências do exagero
A natureza humana é bastante inteligente, mas facilmente manipulável. O grande potencial emocional nos torna seres únicos, capazes de reações e sentimentos maravilhosos, mas muito perigosos quando misturados às finanças cotidianas. Como consequência do apelo emocional, compramos e consumimos produtos apenas para aumentar nossa sensação de bem-estar e nosso nível de satisfação. As necessidades, nossas e do próximo, nem sempre aparecem no topo da cadeia de prioridades.
A maioria de meus textos deixa clara minha natureza apaixonada. Acredito mais nas pessoas que no dinheiro e me orgulho muito de ser assim. Quando menciono, neste artigo, o envolvimento entre dinheiro e emoção, estou me referindo ao exagero, ao excesso, ao que realmente está além dos limites do bom senso. Nos jovens, é latente o desejo pelo “agora”, pela sensação de pleno bem-estar e poder. Simplificando, a busca pela realização imediata frustra a necessidade de pensar no dia seguinte.
Esse exagero pode trazer sérios efeitos colaterais no futuro:
• Aposentadoria tardia. Quanto mais você adia seus planos financeiros, mais posterga seu ideal de aposentadoria. Deixando para depois, o depois nunca chega, é o que diz meu senso prático. Comece a se preocupar com a idéia de parar de trabalhar enquanto você ainda tem mais gás e disposição, facilitando assim sua vida aos 40, 50 ou 60 anos. Longe demais? Repare que não tenho o menor interesse em definir o que significa aposentar-se cedo, já que essa é uma decisão bastante pessoal. A questão central é outra: você já se preocupa com isso?
• Trabalhar em algo que não lhe traga satisfação. Se você é capaz de pensar no seu dinheiro, também enxerga nele uma oportunidade de independência. Trabalhar é ótimo, desde que seja em algo que lhe traga prazer, satisfação e realização. Isso muitas vezes só é possível quando você tem formação de capital suficiente para abrir seu próprio negócio ou permanecer um tempo se especializando e procurando por algo melhor. Culpar o patrão diverte, mas não resolve nada. Não faz sentido?
• Problemas conjugais. Este ponto merece muita atenção, já que as estatísticas são cruéis com os casais. Problemas financeiros estão entre as maiores causas dos os divórcios e problemas conjugais, aqui e no mundo. Está certo que, em muitos casos, o dinheiro é apenas o bode expiatório da relação, a justificativa mais fácil para deixar de lado o esforço necessário para reerguer a relação. Mesmo assim, ele é parte importante na criação da unidade familiar, do lar doce lar. Planejar cedo exercita essa relação dinheiro-amor-família, faz bem e facilita.
• Ausência de hobbies e momentos de lazer. Dedicar parte de seu tempo aos amigos, às suas manias e ao carro turbinado são atividades importantes para sua felicidade e satisfação pessoal. Momentos assim aliviam situações de estresse e permitem que você tenha tempo para si mesmo. Pensar na vida como uma sucessão de eventos facilita a atitude de poupar e investir em si mesmo o mais cedo possível. Alguns hobbies são caros, outros não, mas todos eles exigem planejamento, dedicação e algum dinheiro. Acostume-se!
• Oportunidades perdidas. Ao gastar hoje todo o suado dinheiro que ganha, sem pensar no futuro, você pode estar jogando pela janela futuras oportunidades de multiplicar seu patrimônio, investir em um negócio com um sócio ou mesmo de ajudar um familiar em algum problema crítico. Oportunidade, cabe lembrar, é tudo aquilo que pode fazê-lo crescer, pessoal e profissionalmente, transformando-o de alguma forma. A disponibilidade financeira não é fator preponderante na geração de oportunidades, mas pode ser essencial quando se trata de agarrá-las.
Cultivar, hoje, bons hábitos financeiros pode facilitar suas decisões futuras, além de trazer melhores alternativas de vida. Comprar coisas supérfluas pode trazer imenso prazer, eu concordo, mas essa decisão age, muitas vezes, contra seu próprio patrimônio e capacidade de prosperar, dando margem aos devaneios consumistas contemporâneos que tanto combatemos.
A experiência mostra que muitos problemas podem ser evitados se despejarmos suficiente energia nas atitudes certas, ainda no presente. Diferente de viver o presente é viver no presente.
Crédito da foto para Marcio Eugenio.