Fomos agraciados no final de semana passado com a visita do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama. A visita produziu cenas memoráveis, afinal tanto Obama como a Primeira Dama Michelle mostraram carisma e disposição de sobra para correr os pontos turísticos do Rio de Janeiro, incluindo no roteiro uma inesquecível visita noturna ao Cristo Redentor.
Diversos temas relevantes foram abordados durante sua passagem, mas a verdade é que sua visita não resultou em nenhum tipo de compromisso efetivamente bom para o Brasil. A visita aconteceu, mas serviu apenas para estreitar laços já conhecidos. O atual cenário global mostra o Brasil como um grande exportador de commodities e, no entanto, persistem enormes barreiras contra a entrada de nossos produtos nos EUA.
A novela do Biocombustível
Entre nossos principais produtos está o biocombustível, feito a partir da cana de açúcar. Nos EUA, o biocombustível é feito a partir do milho e o governo norte-americano paga aos produtores US$ 0,45 por galão. Os subsídios chegaram a custar ao governo americano, só no ano de 2008, mais de US$ 4 bilhões. E o governo norte americano ainda cobra uma tarifa extra de US$ 0,54 por galão. Nosso produto poderia ser muito competitivo por lá. Poderia.
A verdade é que os produtos brasileiros – etanol, suco de laranja, algodão, carne bovina, entre outros – não são competitivos do ponto de vista financeiro a ponto de encontrar mercado consumidor dentro dos EUA. Isso ocorre devido às inúmeras barreiras e à força do lobby de produtores norte-americanos. Acessar o mercado é complicado para nossos exportadores.
Claro que o fim das barreiras não depende exclusivamente da vontade do Presidente Obama (O congresso é fundamental), mas ele é a autoridade máxima do país. Ele não deu nenhum indicativo de que as barreiras possam ser revistas.
Balança comercial: os motivos do déficit
Analisando friamente os números, fica mais fácil entender os motivos que levaram a balança comercial brasileira a ser deficitária em 2010 em relação aos EUA em US$ 8 bilhões – vendemos US$ 19 bilhões e compramos US$ 28 bilhões.
Durante a visita de Obama, muitos analistas se exaltavam em criticar algumas escolhas que o Brasil fez nos últimos anos ao buscar novos parceiros comerciais. Ora, trabalhar ao lado da maior economia do planeta não é algo que pode ser rejeitado. Pelo contrário, a relação tem e terá sempre muita importância para o desempenho de nosso país.
Mas, sejamos realistas: não existe por parte do governo norte-americano (presidência e principalmente congresso) abertura para que exista um ambiente “ganha ganha”. Eles querem vender e oferecer seus produtos sem a recíproca para nosso país. Fica fácil com esse tipo de conduta entender o fracasso nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), por exemplo.
Parceiros globais, não parceiro exclusivo
Imaginemos que o Brasil não diversificasse seus negócios e parceiros comerciais, buscando, por exemplo, outros mercados (como a China). Será que teríamos atravessado o período de crise da mesma forma? Não precisamos ir muito longe para entender isso: basta relembrar as dificuldades que o México atravessou durante o tombo recessivo do Tio Sam, quando passou a querer se aproximar do Brasil.
Para finalizar e citar, claro, um ponto positivo da passagem de Obama, rolou um certo interesse dos EUA pelo tema “pré-sal”. Trata-se de um legado que, sem sobre de dúvidas, pode vir a ser um grande trunfo de nossa economia – desde que não tropecemos nas nossas próprias pernas. É torcer, trabalhar e esperar para ver. Até mais.
Foto de sxc.hu.