Afirmar que o brasileiro ainda tem dificuldades em lidar com o crédito é “chover no molhado”. Muitos acreditam que o crédito faz parte da renda e trabalham com os valores do dinheiro emprestado somados à sua receita líquida real para fechar o orçamento. Ao utilizar o crédito dessa forma, mais cedo ou mais tarde uma bola de neve se formará – muitos só percebem o perigo quando ela fica gigantesca e incontrolável.
Um dos tipos de crédito que mais cresce é o chamado Crédito Consignado, uma linha de crédito criada durante o governo Lula. Ofertas acessíveis e mais baratas de crédito eram concedidas a partir da garantia do débito diretamente na folha de pagamento das empresas. A certeza de pagamento era maior (risco de inadimplência muito mais baixo) e os juros mais civilizados.
Uma ótima ideia na teoria, mas um “terror” na prática
Claro que a ideia é muito bem vinda, em um país como o Brasil, onde os juros são tão altos, ter a disponibilidade de linhas mais baratas significou um grande avanço. O grande problema começou a surgir quando a facilidade dessa linha crédito se chocou com a necessidade das pessoas em tomar o empréstimo.
As pessoas começaram a utilizar o empréstimo consignado para consumir bens e produtos dos mais variados tipos. Começou a ser comum o empréstimo ser utilizado para troca de celular, compra de TV nova, viagens e todo tipo de consumo. Um dinheiro mais barato que, apesar da burocracia, permitia comprar mais e mais coisas.
Outro ponto está relacionado ao quanto cada pessoa pode usar dessa modalidade de crédito. O empréstimo consignado oferece bons valores de crédito, além do que vários empréstimos eram concedidos à mesma pessoa. A prática se transformou em problemas para muitas famílias: quase como uma corda para o enforcamento.
Como anda a educação financeira nas empresas?
Em pouco tempo, as empresas começaram a perceber que o empréstimo consignado estava se tornando um verdadeiro problema, já que gerenciar a lista de empréstimos e a velocidade com que mais e mais funcionários o solicitavam é atribuição também dos departamentos de Recursos Humanos.
Com o endividamento, a produtividade caiu e mais problemas começaram a surgir. Um funcionário com problemas financeiros tem seu desempenho totalmente comprometido. A situação pode ser comprovada em qualquer grande empresa que queira falar abertamente sobre o crédito consignado.
Muitas empresas decidiram criar programas de educação financeira para orientar os funcionários, valendo tanto para aqueles que se interessavam em pedir e usar linhas de crédito, quanto para o grupo daqueles que já estavam terrivelmente comprometidos com diversos empréstimos.
A edição de setembro da Revista Você S/A mostra o exemplo do Hospital Santa Paula, em São Paulo. Segundo a revista, após a implementação do programa de educação financeira, a utilização do crédito consignado pelos funcionários caiu pela metade. Trata-se de um exemplo a ser seguido.
Ganhos x gastos: o que realmente faz a diferença?
O fenômeno registrado pelo Hospital Santa Paula e descrito na revista mostrou que, mesmo com bons salários, a falta de planejamento para a realização dos sonhos de consumo resultava em péssimas escolhas, que logo se traduziam em dívidas. O funcionário via no crédito consignado a chance de “cobrir” os problemas e seguir em frente.
Infelizmente, apenas algumas empresas adotam o programa de educação financeira como beneficio para seus funcionários. A grande maioria, mesmo sabendo do “tamanho da encrenca” em que seus funcionários se meteram, ainda não despertou para essa necessidade. Atenção empresários, é hora de acordar!
Outros que sofrem com a má utilização de crédito e a baixa renda são os aposentados, que também se utilizam do crédito consignado para manter as contas em dia ou mesmo para o consumo. De acordo com a Previdência Social, no primeiro semestre de 2011 cerca de 6 milhões de aposentados e pensionistas solicitaram acesso à linha de crédito, um número 8,7% maior do que o mesmo período em 2010.
Crédito, uma ferramenta para ser usada com inteligência
A lição que fica é nossa população ainda é extremamente carente de informações sobre a utilização das ferramentas financeiras disponíveis. Faltam conhecimentos mínimos, sem os quais boas ideias se transformam em verdadeiras armas. O crédito, mesmo o consignado, ainda é muito caro se compararmos com a boa parte do mundo. Logo, manter a realização de nossos sonhos apenas com dinheiro dos outros pode tornar o sonho um pesadelo.
Lidar mais tarde com a frustração da dívida e os problemas para voltar as ter as finanças em dia é uma experiência muito pesada, que exigirá muita disciplina e controle emocional. Sempre há saída, mas em se tratando de crédito, o melhor é não abusar e evitar o caminho mais fácil e rápido.
Imagine uma criança com um martelo na mão. Para quem sabe o que fazer, utilizar uma ferramenta assim pode ser extremamente importante. A criança terá problemas e poderá se ferir gravemente. Esse é o resultado que o crédito acaba levando para dentro de muitos lares brasileiros.
O crédito consignado pode ser uma alternativa inteligente para quem tem dívidas com juros maiores ou para quem precisa de um valor a ser usado em uma emergência. Caso contrário, o melhor continua sendo planejar suas finanças e guardar dinheiro, sempre respeitando os seus limites de renda.
O que você pode fazer para mudar esse quadro?
Se você é empresário, pense com carinho na possibilidade de criar um programa sério de educação financeira. Se você é funcionário, passou por esse problema e quer evitar que outras pessoas também sofram essas situações, converse com seu chefe. Nós do Dinheirama podemos ajudá-los neste sentido – entre em contato conosco através de nosso formulário de contato e conheça nossas palestras e cursos in company. Até mais.
Foto de sxc.hu.