O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira que o ritmo de corte de juros de 0,50 ponto percentual adotado pela autarquia em seus últimos encontros permite avaliar bem a evolução do cenário, mas que o BC não está comprometido com o tamanho total de seu afrouxamento monetário e tomará decisões reunião a reunião.
“Por todas as incertezas… a gente tem tomado cuidado em não fazer nenhuma sinalização sobre o orçamento total (do ciclo de afrouxamento monetário), porque a gente realmente imagina que a gente deve ir acompanhando reunião a reunião”, disse Galípolo em debate organizado pela Prospectiva Public Affairs LATAM.
Seus comentários vieram depois de o BC ter cortado os juros de 13,25% para 12,75% na semana passada, com a sugestão de que repetirá a mesma dose de flexibilização da Selic nas duas reuniões de política monetária restantes deste ano.
De acordo com o diretor, esse ritmo de afrouxamento foi adotado pela segunda vez consecutiva em setembro porque o BC notou um cenário de inflação “mais benigno”.
“Por isso que a gente renovou o corte de 0,50 (ponto percentual)… É uma velocidade que permite a gente assistir a evolução das variáveis.”
Segundo Galípolo, embora a inflação no Brasil esteja se comportando bem, sua desaceleração está ocorrendo de forma mais lenta do que a esperada, ao mesmo tempo que a reancoragem das expectativas de alta dos preços depende de questões fiscais cruciais.
“Existe a questão, para a reancoragem total da (expectativa de) inflação, da discussão de como vão avançar as medidas para a arrecadação e como vai funcionar a operacionalização do arcabouço fiscal”, disse Galípolo, em meio a ceticismo de boa parte dos mercados financeiros sobre a capacidade do governo de elevar a captação de impostos em escala suficiente para garantir um déficit primário zero no ano que vem.
Nesse sentido, Galípolo notou que a precificação nos mercados é de um rombo primário em torno de 0,8% do PIB no ano que vem, e não um déficit zero.
Por outro lado, o diretor apontou que a manutenção da meta de inflação pelo Conselho Monetária Nacional (CMN) permitiu a ancoragem parcial das expectativas de inflação.
Ele defendeu ainda que o Brasil reúne vantagens que geram interesse para investimentos quando comparado a seus pares emergentes, como o carrego elevado ainda oferecido pelo real ou a possibilidade do país de oferecer uma transição ecológica com menos custos, devido à variedade de sua matriz energética.
Sobre a criação de títulos “verdes” pelo governo do Brasil, no entanto, Galípolo advertiu que emissões desse tipo podem ser afetadas pelo ambiente de taxas de juros no exterior, onde a perspectiva é de custos de empréstimos mais altos por mais tempo.
Galípolo elogiou ainda a conversa realizada na véspera entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com mediação do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
“Para a questão do relacionamento institucional, a reunião que ocorreu ontem entre o presidente Lula e o presidente Roberto Campos foi muito importante, acho que tem uma simbologia bastante importante”, afirmou o diretor do BC, acrescentando que o encontro representa uma “normalização” do clima institucional do país.