O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira que a barra possivelmente está mais alta para o Banco Central considerar acelerar o ritmo de queda dos juros, enfatizando que a autoridade monetária não está confortável com as expectativas de inflação acima das metas estabelecidas.
“Eu diria que a barra talvez esteja ligeiramente um pouco mais alta sim”, disse Campos Neto ao ser questionado sobre o assunto em entrevista coletiva.
O presidente do BC disse que “várias coisas ao mesmo tempo” determinam esse cenário. Do lado externo, ele disse que há fatores novos e citou a alta da curva de juros dos Estados Unidos e percepções sobre a mudança do modelo de crescimento da China.
Questionado sobre a chance de o BC, em sentido contrário, reduzir o ritmo de aperto monetário à frente, Campos Neto afirmou que está cedo para falar em um movimento de corte menor, ressaltando que essa é uma questão avaliada em todas as reuniões do Copom e que é necessário monitorar a incerteza no ambiente externo.
Seus comentários vieram depois de o BC ter cortado os juros de 13,25% para 12,75% na semana passada, com a sugestão de que repetirá a mesma dose de flexibilização da Selic nas duas reuniões de política monetária restantes deste ano.
Os comunicados do BC têm afirmado que o ritmo de cortes na Selic será mantido à frente a menos que surpresas substanciais sejam observadas, considerando as expectativas de inflação, a ociosidade econômica e a inflação de serviços.
Na entrevista, Campos Neto enfatizou que o BC não está confortável com o fato de as expectativas para a inflação nos próximos anos estarem acima do centro da meta.
Na véspera, ele havia afirmado em comissão da Câmara que a inflação está voltando para a meta, embora o trabalho não esteja 100% feito.
“É importante frisar que o Banco Central persegue a meta sempre”, disse nesta quinta-feira, reafirmando que o Copom entende que a Selic precisa se manter em ambiente restritivo para levar a inflação à meta.
Tamanho do Ciclo
O presidente do BC argumentou ainda que, no atual momento de incerteza, não haveria ganho se a autoridade monetária indicasse o tamanho previsto para seu ciclo de corte nos juros.
“Em momentos que você tem mais incerteza, dar um ‘guidance’ e depois ter que trocar o guidance gera instabilidade”, afirmou, ressaltando que se o cenário ficar mais claro “em algum momento”, o BC poderá passar a apresentar essa sinalização.
Em relação às divergências explicitadas na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), com debates entre os membros da diretoria sobre inflação de serviços, expectativas e ambiente externo, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, argumentou que o colegiado segue unânime em sua visão sobre a estratégia para a política monetária.
Campos Neto, por sua vez, disse que as divergências observadas na reunião deste mês do Copom não são as mesmas dos encontros anteriores, argumentando que as diferenças de opiniões “foram mínimas”.
Na área fiscal, o presidente do BC voltou a dizer que há tendência de os riscos diminuírem com a aprovação de medidas no Congresso para ampliação de receitas.
Ele disse ainda que foi observado efeito no mercado quando houve ruído sobre uma eventual mudança na meta fiscal e, por isso, o BC acredita ser importante perseguir o alvo para as contas públicas.
Sobre a recente desvalorização do real, Campos Neto disse que o movimento está relacionado a uma maior força do dólar, sendo influenciado mais por fatores globais do que locais.
Para ele, é importante observar como o nível do câmbio afetará as expectativas para a inflação.
Campos Neto evitou fazer comentários sobre a reunião que teve na quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se limitando a dizer que concorda integralmente com os comentários feitos sobre o encontro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na noite de quarta, Haddad afirmou que a conversa foi de “alto nível” e “transcorreu bem”, mas que não foram discutidos tópicos específicos como o nível dos juros.