Patrícia comenta: “Navarro, aos poucos estou me habituando com a necessidade e importância de usar o orçamento doméstico (por enquanto em papel) para guiar as decisões da família. Ainda tenho dificuldade de vê-lo como um aliado – a impressão é a de que ele não nos permite aproveitar o que ganhamos, gerando uma sensação de angústia. Isso é normal? Obrigada”.
Não há como negar que o orçamento doméstico ainda é uma ferramenta mal utilizada e, principalmente, pouco compreendida. Para muitos, controlar as finanças tem um quê de masoquismo (olhar com cuidado para os gastos soa como frear a “beleza” do estilo de vida “aqui agora”), enquanto para outros torna a vida muito difícil porque a resume a economizar cada vez mais (o indivíduo não relaxa e só pensa em não gastar).
Cuidar do dinheiro é importante?
Os extremos usados nesta introdução são importantes para notarmos como o cuidado com o dinheiro é tarefa universal, necessária tanto para quem ganha pouco, quanto para quem ganha muito. O papel do controle financeiro será sempre diagnosticar a real situação financeira familiar.
Pergunte por ai e preste atenção: o orçamento doméstico é importante e são poucas as pessoas que discordam desta afirmação. Ou seja, ele é apontado por muitos como algo relevante, mas, o tabu em relação ao controle financeiro ainda o coloca como uma fonte de ansiedade e angústia.
O problema? Tendemos a culpar a ferramenta, quando são nossos comportamentos e decisões (ou falta delas) que tornam o uso do orçamento algo penoso e com poucos resultados. Volto a insistir que finanças pessoais não é um tema ligado à matemática ou às finanças como disciplinas, mas sim uma questão humana.
Como tornar o orçamento doméstico um fator de sucesso?
Ao olhar a educação financeira como um processo ligado ao ser humano e suas escolhas, acredito que as razões que nos impedem de aproveitar o orçamento como uma ferramenta são intimamente ligadas ao nosso falho sistema de prioridades e à nossa ingênua relação com o consumo.
Depois de atender a inúmeras famílias e indivíduos, identifiquei quatro atitudes capazes de tornar o controle financeiro mais atraente e aderente aos propósitos familiares de enriquecimento. Acompanhe.
1. Não use o orçamento como “muleta”
É muito comum notar famílias que admitem usar algum tipo de ferramenta para gerenciar suas finanças, muito embora seus resultados não surpreendam positivamente. Conheço muita gente que enche o peito e diz “Eu tenho e uso uma planilha para controlar minhas despesas”.
Falta a humildade para reconhecer que se existe a ferramenta, ela está sendo mal utilizada ou que ela está servindo como uma “muleta”. Ora, falar para os outros que cuida do seu dinheiro, mas ainda assim viver “pendurado” e cheio de dívidas é agir de forma hipócrita. Desculpe apontar isso assim, sem rodeios, mas é preciso que sejamos realistas.
Na prática, o que vejo são planilhas incompletas, bagunçadas e preguiçosas. Gastos não anotados de forma completa (adianta categorizar gastos como “Diversos” ou “Outros?”) e longos períodos sem atualização costumam ser os erros mais frequentes.
Atitude desejada: atualize seu orçamento doméstico pelo menos uma vez a cada 15 dias e categorize os gastos de forma que eles façam sentido.
2. Defina objetivos plausíveis
Outra reação bastante usual no relacionamento com o orçamento familiar decorre da demora em ver resultados. Acontece que a estratégia de gerenciar as finanças só vai funcionar se a ela forem associados objetivos claros, devidamente precificados e alocados de forma temporal (curto, médio e longo prazo).
Gosto de um exemplo simples, de uma família que tinha o desejo de viajar durante uma semana para fora do Brasil. Nunca havia dinheiro para isso. Analisando o orçamento familiar, percebemos um exagero nas despesas de lazer.
Depois de muito conversar, perguntei: “Por quê economizar ou rever os gastos com lazer?”. Olhando a planilha e consultando os filhos, a mãe respondeu: “Para poupar durante 12 meses o suficiente para realizarmos nossa viagem”. O desejo foi transformado em meta. Vocês podem imaginar a alegria dessa família depois da viagem?
Atitude desejada: quebrar sonhos ou desejos de consumo abstratos (ou grandes demais) em objetivos plausíveis, mantendo sempre alguns deles no curto prazo – para que possam ser comemorados e alimentem os demais.
3. Associe a disciplina a áreas não relacionadas ao dinheiro
Lidar com nosso dinheiro envolve decisões e emoções enraizadas e construídas a partir de experiências pessoais e familiares, o que torna a mudança e a criação de novos hábitos passos desejáveis, mas nem sempre simples de tirar do papel. Concordo que o peso cultural é grande.
A disciplina é uma característica necessária para que o orçamento doméstico seja eficiente e cumpra seu papel, certo? E se a associarmos com hábitos de diferentes áreas, como a saúde ou a prática de exercícios, por exemplo? Funciona? Sim! Realizar atividades interessantes de forma constante gerará resultados. Estes resultados manterão a motivação.
Atitude desejada: comece a praticar exercícios físicos de forma regular e monitorada. Associe a disciplina do processo à necessidade de aproveitá-la em outras esferas de sua vida pessoal (aqui cabe o orçamento doméstico).
4. Construa o seu orçamento doméstico
A esta altura, torço para que você esteja com vontade de voltar a anotar suas receitas e despesas, avaliar suas decisões de consumo e questionar mais sua vida financeira. “Que ferramenta vou usar para isso, Navarro?”, você pergunta. É imperativo que você experimente as opções disponíveis e construa a sua ferramenta ideal.
Nós oferecemos uma ferramenta online completamente gratuita – clique e conheça www.dinheiramaonline.com.br –, bem como planilhas de orçamento doméstico, mas somos uma dentre as muitas alternativas. O que não é legal é esconder-se na desculpa “Nenhuma das ferramentas deu certo comigo” e seguir deixando o controle financeiro de lado.
Atitude desejada: use diversas versões de planilhas, faça um test drive nas ferramentas online e adapte o que conseguir para que a ferramenta faça sentido para sua família.
Conclusões
Converse com as pessoas bem-sucedidas que você admira e leia sobre grandes personalidades. Duas situações serão comuns nas histórias contadas: eles erraram em algum momento porque negligenciaram a importância do orçamento doméstico; e eles foram humildes para reconhecer o erro e trabalhar para corrigi-lo, passando a usar ferramentas de controle financeiro de forma frequente.
Portanto, a pergunta certa não é “Qual é a melhor maneira de controlar meu dinheiro?”, mas sim “Quem é responsável por fazer isso?”. Repare que as respostas para estas dúvidas são bem diferentes. Na primeira, o foco é na ferramenta, no que os outros oferecem para resolver um problema que seu; na segunda, o foco é no comportamento e no responsável – você precisa fazer alguma coisa.
Se estiver “travado”, simplesmente comece. E insista. Anote tudo, rabisque, classifique, passe de uma planilha pra outra, experimente um software, peça ajuda, recomece. Faça tudo de novo. Aceite que isso é relevante e faça alguma coisa. Faça.
Se você já usa e vivencia algum ensinamento sobre orçamento financeiro que faz sentido em sua vida, por favor compartilhe suas lições conosco no espaço de comentários. Até a próxima.
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