Que arma é essa? Quem sofre com sua eficiência? A arma são as promessas de “bons negócios” oferecidas por bancos, através de cartas e folhetos promocionais. Quem sofre é você, como já poderia imaginar. A arma dos bancos está cada vez mais sofisticada, se é que se pode sofisticar tanto um simples pedaço de papel. Claro, o papel continua o mesmo, mas o que nele se imprime não. São impressas letras e figuras cada vez mais venenosas e letais. Deveria haver um limite?
A idéia para o artigo surgiu de, advinhe, uma carta enviada por um grande banco. A carta veio endereçada à minha mãe, que como de costume, me entrega este tipo de correspondência. Antes de abri-la, pude perceber que ela seria material de um artigo. O título dizia “Crédito Pessoal à Distância”. Some ao sensacionalismo da frase imagens de um controle remoto e de um sofá. Uau, dinheiro na mão, sem levantar do sofá e tão fácil quanto apertar um botão de controle remoto! Bravo, você entendeu o espírito do anúncio.
Dentro, em papel chique e muito bem feito, havia uma mensagem em destaque: “CRÉDITO PRÉ-APROVADO”. Eles nem conhecem minha mãe, mas já querem (e muito) lhe emprestar dinheiro. Eu sabia, minha mãe é mesmo demais! Sempre foi. Pera lá, mas e se ela pegar emprestado e não pagar? Imagina, ela não faria isso. Conclusão: a segmentação e o “target” da campanha foram cuidadosamente estudados. Todos os destinatários são pessoas de bom passado bancário e com capacidade de pagar por tal facilidade. Uai (como bom mineiro), imaginei que pessoas com esse perfil não precisassem deste tipo de empréstimo. Como eu sou inocente…
Tudo está mudando…
O dinheiro anda circulando por ai com muita facilidade. Quem antes tomava conta de suas finanças de forma inteligente agora passa a também querer aproveitar a onda de consumismo e de facilidade de pagamento. Criam assim um novo e lucrativo nicho para os bancos. Dinheiro na mão, muito prazo para pagar e taxas bem mais interessantes que as do cheque especial ou do cartão de crédito. Como se essas taxas fossem realmente bons parâmetros.
Muitas pessoas entram no esquema, fazem aquela reforma da cozinha e agradecem ao banco por realmente se preocuparem com seus objetivos de curto prazo. E eu que sou o inocente? A quantas anda a preocupação com educação financeira nesse país?
Voltemos à carta…
Segundo o conteúdo da carta, o negócio é irrecusável. O anúncio começa assim: “Você nem precisa sair do lugar, você tem um crédito de R$ 11.800,00 pré-aprovado para ir até você!”. Mais abaixo há uma explicação super didática. “Veja esta simulação: ao utilizar R$ 11.800,00 do Crédito Pessoal Banco XYZ e pagar em 18 vezes, cada parcela será de apenas R$ 939,38. Taxa promocional para você de 3,70% a.m., válida até 31/07/2007”. Mas tem mais.
“Prezada Fulana,
Em um mundo onde tudo está ficando mais prático, fazer um empréstimo não poderia ser diferente. Com o Crédito Pessoal Banco XYZ, você recebe o dinheiro que está precisando sem sair de onde está. O dinheiro vai para sua conta corrente, de qualquer banco, sem trabalho para você e com excelentes condições. Confira na simulação acima. Viu como pode ser fácil quitar uma pendência, fazer uma reforma ou realizar um projeto? Ligue gratuitamente e solicite seu crédito pré-aprovado de R$ 11.800,00, Fulana”!
Quanta ironia…
Não vou me prender às contas ou às condições comerciais do anúncio, que por si já demonstra ser um péssimo negócio. Sim, porque instigar uma mãe a reformar sua casa ou quitar uma pendência e depois disso ficar com 18 boletos na mão é muita responsabilidade, ainda mais se tratando de minha mãe. Me desculpem a ignorância, mas trocar uma pendência por outra não parece indiferente e infantil? Seis por meia dúzia, como dizem por ai.
Tudo tem um outro lado…
“Mas Navarro, a taxa parece ser interessante. Se minha mãe estiver devendo algo e pagando juros de mais de 3,70% a.m., não é preferível para ela entrar nessa e pagar menos juros”? Uai (de novo), se você chegou a essa profunda conclusão, como é que foi capaz de deixar que ela entrasse num financiamento de mais de 3,70% ao mês? Calma. Assim como você, existem muitas pessoas desinformadas, cujas mães pagam juros altíssimos e é isso que garante a fartura nas mesas dos banqueiros.
A verdade é que a carta é para quem pode pagar o boleto e ao mesmo tempo manter seu nome limpo na praça. Os 3,70% ao mês não são pra qualquer um não. Você, eu e nossas mães somos os únicos responsáveis pelos inúmeros encartes e ofertas deste tipo que circulam no país, dia após dia. Permitimos que um produto assim seja a salvação de nossas finanças e passamos a contar com eles para a realização de projetos futuros. Respondendo à pergunta do primeiro parágrafo, sim deve haver um limite. Mas o limite quem estipula somos nos, com nossas atitudes. Ao banco, resta nos lembrar: “essa é uma oferta especial, exclusiva para você”.
Moral da história: Se receber a carta é sinal de idoneidade financeira, mamãe não é fraca não.
PS: Ou você achou que a moral da história seria sua falta de atenção no aprendizado sobre finanças em seu dia-a-dia?
PS2: Mãe, eu te amo!
PS3: O Dinheirama está quase chegando à marca de 100 artigos publicados. Uma super promoção de comemoração se aproxima, preparem seus blogs e sua criatividade. Os prêmios serão diferenciados. Aguardem…