Após expurgar os sonhos imperiais que marcaram a vida política do país durante grande parte da primeira metade do século passado, a Alemanha agarrou-se, com unhas e dentes, à oportunidade de se reinventar e erguer a potencia industrial moderna, democrata e arejada que hoje ocupa a primeira posição entre as nações europeias.
Para alguns analistas mais descolados do sendo comum, a Alemanha figuraria como a nação número um em termos globais, o que faz sentido se a observarmos sob uma ótica econômica mais sustentável, menos imediatista e profunda. É também verdade que a sentença acima seria inquestionável se a Alemanha, além de ícone da eficiência industrial, não fosse a credora de devedores tão economicamente frágeis.
Contudo, deixando essa questão de lado para julgarmos no tempo adequado as consequências da encrenca europeia, gostaria de dirigir a atenção ao modelo de desenvolvimento empresarial alemão, ancorado em larga evolução tecnológica e científica, mas tão discreto quanto sólido em comparação a tantos outros modelos. Veja o caso das pequenas e médias empresas que atuam globalmente, o chamado modelo Mittelstand.
Diferente, por exemplo, do propalado modelo norte-americano, com sua panaceia de gurus de gestão surgidos do nada, sempre com o preâmbulo “fanfarrônico” de “a última onda” e invencionices corporativas que, salvo significativas exceções, segregam gerações tidas como ultrapassadas jogando no lixo acervo técnico e experiência, além de criar um clima organizacional doente e de profunda instabilidade.
Engana-se quem me toma como antiamericano. Muito pelo contrário, me incomoda profundamente observá-los submergir, mesmo que pouco a pouco – observem que seus índices não reagem desde a crise de 2008 -, deixando de lado a trágica, mas remota possibilidade de um “não acordo” antes de dois de agosto.
Também sobre os EUA, me incomoda notar sua influência internacional sendo gradativamente ocupada por uma China que, embora aderente ao livre mercado, não deixa e nem quer deixar de ser uma ditadura maoista, com propósitos imperiais, onde tolerância e pluralidade cultural ou política soam como “meras frivolidades ocidentais”.
Faço justiça à Alemanha moderna neste texto não apenas como um contraponto retórico, pois me agrada o seu modelo da eficiência pela eficiência, da precisão como valor, do aprofundamento científico empresarial no lugar do “blábláblá”, do marketing pelo marketing e da crença ideológica frágil de que os mercados não podem sofrer qualquer espécie de regulamentações, pois se constituem como organismos vivos perfeitos e a prova de colapsos.
No entanto, creio também na capacidade de reinvenção norte-americana como valor, na sua democracia plena e constantemente revitalizada. Mas exorto para que olhem o mundo com um radar crítico, voltado para dentro, permitindo colher e assimilar novos e melhores métodos, novas e mais sólidas posturas.
Os valores e as democracias ocidentais agradecem; os credores também. Até a próxima.
Foto de sxc.hu.