As teorias de análise fundamentalista vão sempre começar com uma boa aplicação de conceitos de contabilidade e finanças tradicionais. Falando de contabilidade, iniciaremos um breve resumo sobre os índices de balanço, também conhecidos como índices financeiros, que são calculados com variáveis do próprio balanço patrimonial da empresa publicado de acordo com as regras de contabilidade vigentes e sob supervisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
São parâmetros que servem para dar uma idéia melhor de como avaliar os números daquele negócio, mas que, sozinhos, não representam muita coisa. Vamos começar analisando a liquidez da empresa, que é a capacidade de pagamento das dívidas de curto ou longo prazo. Também é chamada de solvência. Para citar os principais indicadores de liquidez recorro ao excelente livro “Valuation: Como Precificar Ações” (Ed. Globo), do economista Alexandre Póvoa:
Liquidez Corrente (LC)
Cálculo: Ativo Circulante / Passivo Circulante
Este índice nos dá uma idéia de como está liquidez de curto prazo da empresa, já que as rubricas de Circulante do Balanço Patrimonial contabilizam ativos/passivos com prazo de até 12 meses. Logo, se a empresa contabilizou receber o valor de $ 5 milhões em até 12 meses e deverá pagar $ 1 milhão no mesmo período, a LC será 5 mi / 1 mi = 5. É uma capacidade 5 vezes maior de pagamento do que a de adquirir dívidas de curto prazo.
Liquidez Seca (LS)
Cálculo: (Ativo Circulante – Estoques) / Passivo Circulante
Este índice é parecido com o anterior, mas exclui os estoques da conta, provavelmente supondo que eles não serão liquidados tão facilmente numa suposta situação de exigência. É um índice mais rigoroso. No nosso exemplo anterior, supondo-se que dos $ 5 milhões de ativo circulante, $ 4 milhões sejam de estoque, o nosso índice LS seria (5 mi – 4 mi) / 1 mi = 1. Num primeiro momento pode ser desanimador uma queda tão drástica, mas tudo é questão de uma boa análise e também da gestão financeira da empresa.
Liquidez Geral (LG)
Cálculo: (Ativo Circulante + Ativo Realizável LP) / (Passivo Circulante + Passivo Exigível LP)
Este índice relaciona as capacidades de curto prazo e Longo Prazo (LP) da empresa. As rubricas de Longo Prazo de um balanço patrimonial contêm itens de prazos superiores aos 12 meses. Portanto, ao apresentar um índice abaixo de 1, a empresa, em teoria, não teria condições de arcar com suas obrigações, levando-se em consideração ambos os prazos, curto e longo.
Entretanto, sabemos que com uma boa gestão e previsão do capital de giro, a empresa vai liquidando suas obrigações de curto prazo e, possivelmente e se necessário, renegociando os pagamentos de longo prazo que não vai conseguir cumprir.
A pergunta sempre muito comum é: qual é o índice ideal de liquidez de um negócio? As literaturas antigas dizem que o ideal é acima de 1, pois, assim, existiria “folga” ou capacidade de pagamento, mas isso não é necessariamente obrigatório. Vai depender muito do negócio, que pode gerar/exigir um volume de caixa maior do que as obrigações correntes. Também vai depender do segmento de atuação da empresa, dos níveis de estoque exigidos e das políticas da empresa, bem como de sua gestão.
O livro “Valuation: Como Precificar Ações” (Ed. Globo), de Alexandre Póvoa, é uma referência bastante acessível para a maioria dos interessados em começar a investir observando e analisando fundamentos e indicadores financeiros. Com linguagem mais acessível e muitos exemplos, é leitura essencial na biblioteca do investidor interessado em value investing. Até a próxima.
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