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Análise Técnica: O Mercado de Ações e a Teoria de Dow

by Victor Pereira
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Análise Técnica: O Mercado de Ações e a Teoria de DowNo artigo de hoje, vamos voltar aos primórdios da Análise Técnica para estudar os fundamentos básicos desta escola. Muitos investidores e analistas utilizam hoje análises e indicadores gráficos e técnicos avançados para monitorar seus investimentos. Não obstante, antes de começar a se aventurar neste mundo não trivial, vale a pena voltar um pouco no tempo para entender como tudo isso começou.

Pai da chamada Análise Gráfica Clássica, que por sua vez é de onde deriva a Análise Técnica Moderna, Charles Henry Dow morreu em 1902 deixando para trás uma extensa coletânea de estudos e artigos que foram organizados por seus filhos. A organização deste conteúdo passou a ser reconhecida como a Teoria de Dow, que, a partir de então, lançou as bases da análise técnica (ou gráfica).

Charles DowA Teoria de Dow reunia não só indicadores técnicos e ferramentas matemáticas para analisar o comportamento gráfico dos preços ao longo do tempo, como também conceitos, caracterizações e axiomas que descreviam (ainda descrevem) a alma do funcionamento do mercado de capitais. Por esse motivo é fundamental para o investidor de hoje em dia conhecer minimamente os pontos básicos da Teoria de Dow.

Teoria Econômica de Dow
Por que existe análise gráfica? Por que parece ser razoável analisar puramente o movimento dos preços das ações para prever o comportamento futuro e ganhar dinheiro no mercado de capitais? Existem duas respostas, uma delas prática e bem simples: porque de fato a análise técnica rende frutos, milhões de investidores, analistas e instituições financeiras a usam e geram um volume grande de dinheiro.

Ou seja, apesar de muitas críticas, a prova da eficiência da análise técnica é incontestável, principalmente na hora de gerenciar riscos e prever tendências. Muita gente ganha dinheiro com ela e muitos evitam perdas mais acentuadas.

A outra resposta, mais complexa e sofisticada, vem da teoria econômica. Adam Smith, pai da moderna ciência econômica, já sugeria no século XVIII que todas as mercadorias tinham um valor verdadeiro que vinha da quantidade de trabalho humano encerrado na produção.

Não obstante, esse não era o valor que se observaria no mercado aberto. Para ele, havia o preço de mercado, que vinha do valor de troca da mercadoria e que seria impulsionado pelas forças de oferta e demanda. Para Smith, esse preço de mercado deveria gravitar em torno do preço natural, o verdadeiro, mas eles não seriam iguais.

Daí pode-se sugerir também a relação dos preços de mercado dos ativos financeiros, que está embutida na ideia central da Teoria de Dow. São as forças de oferta e demanda das ações que fazem seus preços variarem na bolsa. O volume de oferta e demanda por uma ação vai variar de acordo com o sentimento do mercado e dos seus diversos integrantes.

São inúmeros os fatores que influenciam a busca e a saída de ativos: notícias, medidas governamentais, divulgação de resultados financeiros das empresas, comércio internacional, boatos etc.

Por isso esta abordagem parte do principio de que “os preços descontam tudo”. Ou seja, o preço de mercado é a maior e melhor fonte de informação sobre o ativo, ele assimila todas as informações e resume as forças de compra e venda. Assim, o preço é o substrato elementar para se entender o comportamento de certa ação.

Por ser tão difícil derivar exatamente as razões diretas dos movimentos no mercado, pode ser interessante utilizar técnicas matemáticas e gráficas para entender o preço como uma variável dentro de si. Tudo isso, claro, só pode ser concluído assumindo as hipóteses de um mercado perfeito e competitivo.

A Lógica da Teoria de Dow
A Teoria de Dow pauta-se, basicamente, por linhas de tendência derivadas dos movimentos históricos dos preços para monitorar como eles devem se comportar. Existem dois tipos básicos de linha de tendência:

  • Linha de Tendência de Suporte (Linha de Procura): formada por mínimas de preço (vales) consecutivas; e
  • Linha de Tendência de Resistência (Linha de Oferta): formada por máximas de preço (topos) consecutivas.

Partindo destes conceitos básicos, podemos estabelecer as seis regras básicas da Teoria de Dow:

1. O mercado realiza três movimentos representados por linhas de tendência diferentes quanto ao prazo de investimento dos investidores no mercado.

  • Linha Primária: representa a principal tendência de um gráfico, se aplica para o longo prazo, períodos maiores de que seis meses, e costuma representar 20% dos movimentos de alta ou de baixa nos preços;
  • Linha Secundária: representa uma quebra temporal na linha de tendência primária, num período de tempo mais curto, com prazo de três semanas até três meses, costuma corrigir de 33% a 66% do movimento da Primária; e
  • Linha Terciária: representa mais uma quebra para um período mais curto ainda, de um dia até três semanas, e até no intraday. É nesta linha de tendência que operam os chamados Day Traders.

Abaixo se exemplifica as linhas descritas para o gráfico do Ibovespa (IBOV). Clique na imagem para visualizar em tamanho maior:

Exemplo 1 - Teoria de Dow

Esses três movimentos que o mercado realiza representam o primeiro pilar da Análise Técnica.

2. A Tendência Primária pode ser decomposta em 3 etapas.

Essas três etapas se estabelecem numa tendência de alta e de baixa e tem a ver com a percepção psicológica dos investidores. Numa tendência de alta as fases são as seguintes:

  • Acumulação: é a fase onde só aquele com informação privilegiada (insiders) montam posições de compra, o mercado ainda está muito volátil para a grande massa de investidores entrarem no ativo, o que deixa o preço “congestionado” numa faixa específica;
  • Início da tendência: se a força compradora for relevante, o ativo pode começar a criar topos e fundos crescentes consecutivos, o que alerta grafistas e analistas de mercado a montarem posições, entretanto a grande massa de investidores leigos ainda compram e vendem incessantemente para evitar perdas, o que ainda deixa o preço volátil; e
  • Estouro da tendência: após a força compradora se manifestar e se intensificar, todo o mercado inicia uma corrida pelo ativo, a alta demanda desta fase gera um aumento mais expressivo e contínuo nos preços. Neste momento, o volume transacionado que já deveria ser crescente alcança seu cume (Bull Market).

Numa tendência de queda, as etapas são as seguintes:

  • Realização (ajuste): com o estouro da tendência, os preços alcançam níveis históricos e rompem níveis fortes de resistência, o que estimula os analistas e profissionais do mercado a desfazer a posição, gerando um fluxo de venda que já começa a ajustar os preços para baixo;
  • Pânico: com a queda inicial dos preços, grandes players e investidores do mercado passam a desfazer a posição para evitar perdas maiores, o que só vai jogando os preços mais para baixo e reverte a tendência primária crescente anterior (Bear Market). Nesta etapa o volume também cresce consideravelmente; e
  • Desaceleração: após este forte recuo, o volume transacionado diminui e os preços voltam a convergir para a área de acumulação, até estabilizarem e voltar a mudar a tendência primária novamente.

Abaixo representamos estas fases na tendência registrada pelo Índice Bovespa no início de 2012 até meados do ano:

Exemplo 2 - Teoria de Dow

3. A Tendência deve ser confirmada pelo Volume

Conforme destacado na parte de baixo do gráfico acima, as tendências primárias devem ser acompanhadas pelo aumento do volume transacionado, o que confirma o comprometimento do mercado todo com tal movimento.

De fato, no início da tendência o volume aumenta significativamente, pois existem muitos investidores montando posição à espera da alta do mercado. Depois de estabilizar, o volume volta a crescer atestando a fuga do ativo na fase de pânico de mercado, onde todos desfazem posições.

4. Os preços descontam tudo

Conforme já discutido, os impactos de informações corporativas, econômicas, medidas governamentais, jurídicas etc. são incorporados imediatamente pelo preço, conforme as hipóteses clássicas de eficiência de mercado.

5. As médias do mercado devem se confirmar

Esta regra atesta que se na média do mercado, ou de um setor, os preços estiverem caindo, é muito provável que os preços de um ativo analisado também comecem a cair. Em sua teria tradicional, Charles Dow indica a importância de se analisar os movimentos em índices de mercado para avaliar o movimento nas cotações das ações em bolsa. Ele utilizava o índice médio do setor industrial e do setor de transportes e logística, já que na época a economia americana era muito influenciada pelo setor industrial.

Isso equivale a dizer que, no Brasil, para analisarmos a tendência da Petrobras (PETR4), por exemplo, deve-se acompanhar o Índice Bovespa, e de fato é isso que os analistas de mercado olham, afinal se todo o mercado começar a subir ou recuar, muito provavelmente as ações que compõem tal índice médio deverão realizar o mesmo movimento.

Nesse contexto se usa dizer, portanto, que “as médias descontam tudo”, em alusão ao fato delas refletirem as convicções e expectativas de todos os investidores do mercado.

6. A tendência será mantida até que um sinal de reversão seja confirmado

Para Dow, uma tendência só será confirmada após ser constatada uma sequência de fechamentos de alta e baixa acima um do outro. Ou seja, apenas se um pico subsequente a outro e um vale subsequente a outro forem maiores será confirmada uma tendência de alta. Caso contrário, pode-se encontrar falsas tendências de alta, que na verdade poderão representar recuos, como vemos abaixo.

Exemplo 3 - Teoria de Dow

Nesse caso, configura-se uma tendência de baixa com estabilização, o que deve alertar o investidor a esperar mais para montar uma posição de compra.

Conclusões
Vimos que apesar de aparentemente simples, a Teoria de Dow é a base para toda a Análise Técnica Moderna. Compreender os conceitos por trás desta abordagem é um passo importante para ter mais segurança e autoridade na hora de fazer uma análise gráfica. Além disso, existem discussões econômicas importantes por trás da Teoria, mostrando o quanto ela não é trivial.

A lição deixada por Charles Dow é de que o investidor deve estar sempre se informando e estudando a origem das ferramentas e estratégias que utiliza no dia a dia das suas operações, pois é assim que nos tornamos investidores mais astutos e com resultados melhores.

Além disso, vale a pena conhecer os conceitos básicos e avançados da análise gráfica porque não importa o quão bem informado você seja, nem o quanto saiba de análise fundamentalista, os preços sempre “terão razão”. No fim, o mercado é sempre o ganhador, então fique do lado dele!

Foto de freedigitalphotos.net.

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