Investidores, bancos e muitos outros agentes ligados ao mercado financeiro passaram o ano de 2009 bastante atarefados. O tímido desempenho da economia nacional no ano passado trouxe preocupações, mas também uma constatação importante: a migração de classes, alimentada pelo crescimento e estabilidade econômica, é uma realidade que vem transformando o país. Nos últimos cinco anos, a classe C recebeu 30 milhões de brasileiros e já representa 49% da população de nossa nação, ou 92,85 milhões de pessoas.
O número em si não representa muita coisa, mas sua análise em relação às classes D e E nos permite concluir que a mudança representa crescimento e aumento no poder de compra. De acordo com dados do Ipsos, em 2005 a classe D/E continha 51% da população, enquanto a classe C sustentava 34% dos brasileiros. A situação se inverteu e hoje somos um país de classe média (classe C com 49% do total) e menos pobre (classe D/E com 35%).
O economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Marcelo Neri, disse à Folha em 07/04 que o Brasil deve ter pelo menos mais cinco anos de ascensão social, com a entrada de 9,4 milhões de brasileiros nas classes A/B até 2014 e outros 26,6 milhões na classe C.
Mercado de trabalho aquecido, criação e formalização de empregos, empreendedorismo e ambiente econômico estável são alguns dos ingredientes para tais mudanças. Com a renda familiar média também em ascensão, muitos brasileiros começaram a compor seu desejo de compra com itens antes supérfluos, como indica matéria recente sobre padrão de consumo da classe C publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.
Bem estar e qualidade de vida
A notícia é importante porque evidencia a tão comentada (e necessária) ascensão social. Cada vez mais, os brasileiros estão tendo acesso a novas oportunidades de trabalho, o que influencia diretamente a renda da família, sua capacidade de construir patrimônio e investir em qualidade de vida. A realização de pequenos desejos oferece possibilidades de elevar a autoestima e, com ela, a felicidade.
Abro parênteses para uma questão por vezes polêmica: investir e adiar consumo para realização de sonhos não significa que a prioridade deve ser dada apenas para as conquistas futuras. Não. Significa destinar parte de suas receitas para estes objetivos, mas de forma que outra parte do orçamento seja usada para o equilíbrio no dia a dia e qualidade de vida. Tudo para que você viva bem, satisfazendo também as vontades imediatas. Priorizar apenas um ou outro extremo é não saber valorizar toda a mudança que a classe C vem trazendo ao país.
Investindo em oportunidades de geração de renda
Vale reiterar que com um Brasil mais previsível e economicamente sustentável, sobram oportunidades de empreender e gerir o próprio negócio. Com renda crescente e maior estabilidade no trabalho, potenciais clientes podem estar deixando de consumir porque sua região não oferece determinados produtos. Serviços gerais, antes na informalidade, agora podem se profissionalizar – not o caso do programa MEI (Micro Empreendedor Individual). Tem mais gente por ai querendo ajustar e elevar seu padrão de vida, o que é ótimo.
Fica claro que o caminho parece ser muito diferente daquele pautado pelas extenuantes altas nos preços, dificuldade de poupança e planejamento. A moeda única, a oportunidade de usar serviços bancários de qualidade, o crédito e a força de trabalho cada vez mais qualificada são atributos de um país resiliente, candidato a se transformar em potência. E é esse o Brasil que está diante de nossos olhos. Aproveitá-lo significa reconhecer sua trajetória e valorizar aquilo que depende do nosso controle: nosso capital moral, intelectual e financeiro. Viva o Brasil da classe média.
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