É chato, mas verdadeiro: o brasileiro está acostumado a pagar caro por serviços considerados baratos em países mais desenvolvidos.
A banda larga entra nessa lista, pois o preço médio pelo serviço no Brasil é um dos que mais pesam no bolso do consumidor, considerando a relação entre o valor cobrado por 1 Mbps (megabit por segundo) e a renda da população.
Samy Dana, economista e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), e Victor Candido, graduando em Economia pela UFV-MG (Universidade Federal de Viçosa) fizeram o levantamento com dados de 15 países.
Os relatórios The State of the Internet (da consultoria Akamai) e Internet World Broadband Penetration (do Internet World Stats) serviram como base de dados para efetuar os cálculos necessários.
A pesquisa aponta que o brasileiro precisa trabalhar 5,01 horas por mês para se conectar à rede de banda larga fixa de 1 Mbps. A Argentina é o único país na frente do Brasil, onde são necessárias 5,15 horas. O serviço se mostra mais em conta no Japão, que aparece na última posição do ranking.
Horas de trabalho para pagar internet por mês
Posição | País | Preço de 1 Mbps (em US$) por mês | Renda per capita por hora (em US$) | Horas para pagar internet |
1º | Argentina | 46 | 8,92 | 5,15 |
2º | Brasil | 25,06 | 5,00 | 5,01 |
3º | África do Sul | 19,04 | 5,57 | 3 |
4º | Chile | 23,04 | 8,5 | 2,71 |
5º | Polônia | 13 | 10 | 1,3 |
6º | Portugal | 10,99 | 12 | 0,91 |
7º | Canadá | 6,5 | 20 | 0,32 |
8º | Holanda | 4,31 | 22 | 0,2 |
9º | Finlândia | 2,77 | 19 | 0,14 |
10º | Estados Unidos | 3,33 | 25 | 0,13 |
11º | Noruega | 4,04 | 32 | 0,12 |
12º | França | 1,64 | 18 | 0,09 |
13º | Suécia | 0,63 | 21 | 0,03 |
14 | Coreia do Sul | 0,45 | 15 | 0,03 |
15º | Japão | 0,27 | 18 | 0,015 |
Através desses dados, é possível visualizar que o preço médio do acesso no Brasil a uma velocidade de 1 Mbps é de US$ 25,06, ou cerca de R$ 50,52 por mês. Foi considerada uma renda média por hora, per capita, de US$ 5, ou R$ 10,08.
Para efeito de comparação, no Japão o valor médio cobrado pelo acesso à internet é de US$ 0,27, ou R$ 0,55. Aliado a isso está a renda média per capita recebida por hora, que é muito superior à brasileira (US$ 18, ou R$ 36,32). Então, a quantidade de horas de trabalho necessárias para os japoneses fazerem o acesso é bem menor.
Na pesquisa, foram selecionados países que lideram o acesso à internet no mundo, entre nações desenvolvidas e emergentes.
Muitos tributos e pouca concorrência
A carga tributária novamente entra em questão. Segundo o economista Samy Dana, o alto preço cobrado no Brasil tem relação com a alta carga tributária: enquanto o país paga 40% de impostos sobre os serviços de banda larga, no Japão os tributos representam 5% do preço.
“De um lado, existe um governo que tributa muito. Por outro lado, o setor tem poucas empresas, o que faz com que a concorrência seja pequena para a dimensão que o país tem. Um setor de pouca competição e com regulação ineficiente deixa o consumidor refém do preço. O resultado é um serviço ruim e caro, que acaba sendo um entrave para o desenvolvimento do país”, diz o economista.
A defesa
O diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Eduardo Levy, defende a situação brasileira e questiona a comparação com países como o Japão.
“O brasileiro também gasta mais tempo para comprar um automóvel ou um iPad do que um japonês. Mas pesquisas mostram que o preço da banda larga fixa caiu 68% desde 2008 no Brasil”, afirma. “Se o serviço fosse tão caro, não haveria tanta gente usando”, completa.
Levy ainda discute sobre a cobrança de acesso a uma velocidade de 1 Mbps por US$ 25,06. Segundo ele, a realidade no país é diferente, sobretudo por causa das promoções feitas pelas empresas.
A associação cita dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT), organismo da ONU, que mostram que o brasileiro gasta, em média, US$ 17,22 ao mês com banda larga, ou R$ 34,86. No Japão, segundo a UIT, o gasto médio mensal é de US$ 24,41, ou R$ 49,41. A pesquisa da UIT não fala em velocidade (considera apenas o valor mensal para fazer um download de 1 Gigabyte).
Os realizadores do estudo dizem que o valor usado é uma média geral, considerando cidades de todos os portes. E você, leitor, o que acha? Pagamos caro pela Internet banda larga por aqui? O serviço tem a qualidade esperada? Deixe sua opinião no espaço de comentários abaixo. Até mais.
Fonte: UOL. Foto de freedigitalphotos.net.