É evidente que a má performance do Ibovespa é resultado de vários fatores, dentre eles: incertezas quanto à crise das dívidas soberanas na Europa, uma recuperação lenta nos Estados Unidos e prospectos desanimadores no front interno quanto ao controle da inflação e o crescimento da economia.
Tudo isso leva a um cenário de indefinições que assusta os investidores e traz bastante volatilidade aos mercados acionários. Estamos falando do risco sistêmico cujos efeitos podem ser sentidos por todos ou quase todos os setores.
Por outro lado, existe o risco não sistêmico, que atinge segmentos específicos do índice e, dependendo de suas participações, pode levar os mercados a quedas injustificadas ou exageradas.
E é nesse aspecto que quero me aprofundar hoje, por julgar que ele seja a semente para os grandes rallies futuros que serão vistos na bolsa de valores brasileira. Não estou aqui fazendo previsões de nenhuma sorte quanto à intensidade de movimentos de alta e de quando e por quanto tempo eles se sustentarão; apenas pontuarei algumas características das quedas mais recentes.
Apesar da contribuição significativa dos dois maiores pesos pesados do Ibovespa, que são as ações da Petrobrás e da Vale do Rio Doce, é um equívoco não observar o quanto o derretimento dos ativos do empresário Eike Batista foi determinante para o estado atual da bolsa de valores brasileira.
Não apenas pela participação dos títulos “X” na composição do índice – a OGX, conforme a carteira teórica divulgada pela BM&F Bovespa, em junho desse ano, representa 3,608% de todo o volume negociado -, mas principalmente pelo fator contaminação.
Com quedas homéricas, a OGX em várias ocasiões acabou reduzindo ganhos ou ampliando perdas do índice principal, já que os investidores decidem por se desfazer de ativos considerados promissores ou simplesmente a evitar compras muito substanciais.
Quando se tem uma sangria constante, por mais que os prospectos de determinados setores sejam positivos, muitos relutarão em adquirir títulos porque a contaminação é inevitável. Essa mistura de boas perspectivas e receio da imprevisível volatilidade é, em minha opinião, a semente plantada para repiques fantásticos nos próximos anos.
Em um mercado barato e na ausência de um evento catastrófico prestes a acontecer, os investidores avaliam que não há motivos para os ativos estarem naqueles patamares de preços.
Uma ajudinha do Federal Reserve – sem dúvida o grande player do momento – se comprometendo a manter os estímulos nos Estados Unidos somada a já conhecida fase das boas recomendações para as ações brasileiras e, de repente, o Ibovespa estará atropelando várias resistências importantes. Será algo semelhante a libertar os sentimentos reprimidos que estão levando muitos à hesitação.
Alguns anos depois, como sempre acontece, a agulha aparecerá para estourar a bolha e levar os mercados para patamares mais baixos novamente. Quem não se lembra do Investment Grade? O que está difícil mesmo de lembrar é como é a sensação de investir na BM&F Bovespa no território dos 70.000 pontos.
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