A crise continua pontuando o noticiário financeiro mundial. Ontem vimos as bolsas de valores esbanjarem fôlego (?). Hoje, estamos diante de outro dia muito importante: o Fed optou por reduzir a taxa básica de juros norte-americana em 50 pontos-base. Isso significa que a taxa anual de juros lá agora é de 1%, no patamar mais baixo da história da taxa. Por aqui será definido, também hoje, o futuro da taxa Selic, com o inicio da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM).
Os analistas divergem um pouco sobre as decisões das duas instituições, mas o provável é que no Brasil a taxa aumente 0,5 pontos. Há quem diga que ela não vai se alterar. Nos EUA, como alguns economistas anteciparam, a taxa caiu 0,5 pontos. Estas mudanças são capazes de verdadeiras mudanças de humor nos mercados, mas seus resultados ainda são bastante discutidos.
Por que a disparidade na estratégia se a crise é uma só?
No Brasil, o BC, preocupado com a alta do dólar e os reflexos na inflação, sinaliza pelo caminho da continuidade no ajuste da taxa Selic. Em compensação, nos EUA a idéia de baixar os juros passa pela necessidade urgente de aquecer a economia e diminuir o impacto da recessão no cenário econômico real de seus cidadãos.
Essa expectativa já faz com que os investidores tenham um ambiente extremamente convidativo para o Brasil. Por exemplo, a expectativa de ver mais dólares chegando ao país faz com que a cotação da moeda americana tenha tendência baixista na casa de R$ 2,15 ou menos.
Deixando de lado essa temática econômica, é importante analisar o impacto da crise na vida real das pessoas. Boa parte das matérias que vemos na mídia reforçam, em geral, a tese de que a crise financeira estará cada dia mais presente, seja nos nossos trabalhos (onde ronda o perigo das demissões), ou mesmo em casa (com o efeito da alta dos preços).
Confesso que acredito no potencial negativo da crise; ela estará cada dia mais íntima das pessoas. No entanto, aceitar esta constatação e não fazer nada é viver a crise de forma passiva demais. Não podemos deixar de aproveitar as possibilidade de ganhar dinheiro que surgem em períodos onde os mercados passam por dificuldades. Existem boas oportunidades de tirar lições desse e aproveitar a crise:
1. Compre grandes empresas. Não poderia ser diferente: a primeira (e mais lógica) atitude para ganhar no longo prazo é comprar ações de empresas de primeira linha, que tiveram seus valores depreciados exageradamente. Afinal, dentro de um cenário de longo prazo, é natural que empresas estruturadas (planejamento, resultados financeiros sólidos e governança corporativa) passem por período de forte crescimento com o fim do período de instabilidade.
2. Invista em CDBs. Os Certificados de Depósitos Bancários se tornaram ótimas opções de investimento com a crise de crédito. Grandes bancos, com dificuldade de captação de dinheiro no mercado externo, oferecem ótimas condições (com rentabilidades acima do CDI em alguns casos). Pesquise e conheça que tipo de produto seu gerente pode lhe oferecer. O Dinheirama traz excelentes artigos neste sentido:
- CDB e Renda Fixa podem aliviar a crise?
- CDB: boa alternativa de investimento em 2008?
- O CDB contra-ataca. E com força!
3. Negocie taxas, tarifas, mensalidades e contas em atraso. Mais do que nunca, os bancos e operadoras de serviços, como cartões de crédito, estão dispostos a negociar e receber as dívidas atrasadas. Trata-se de uma excelente oportunidade para solicitar isenção de anuidades e a revisão de dívidas de juros muito altos.
Ligue para operadoras e empresas que prestam serviços concorrentes e peça descontos durante a negociação. Sempre existe margem para negociação. Um pouco de confiança e determinação podem ajudá-lo a economizar muito; esta economia pode ser usada para um presente ou mesmo para uma ajustada em sua cesta de investimentos.
4. Invista em formação. O mundo está se transformando: em breve, os países tidos como emergentes se tornarão responsáveis por boa parte do crescimento mundial. Aposto que você já ouviu falar do termo BRIC, que denomina os países Brasil, Rússia, Índica e China. Pois é, olhando por esse prisma, parece óbvio que grandes corporações estarão (já estão) deslocando esforços no sentido de se estabelecerem nesses países.
A idéia é que milhões de oportunidades de trabalho surjam, à espera de profissionais que agora optam pela formação e desenvolvimento profissional. Em seu artigo mais recente, denominado “Se oriente, estude mandarim”, publicado na edição de outubro da revista Você S/A, o professor Luiz Carlos Cabrera é taxativo ao afirmar que, já em 2015, 60% do PIB mundial estará nas mãos dos emergentes (ou seriam emergidos?).
Ele ainda sugere que os profissionais sigam mais longe e aprendam o Mandarim, já que a China seria a potência máxima nesse novo cenário. Quem perceber estes e outros insights estará à frente de seu tempo e a um passo do sucesso. Porque, em suma, investir em educação é ampliar seu potencial. Mas construir o futuro é algo que começa hoje, agora.
5. Faça um curso de educação financeira e(ou) investimentos. Você está realmente preparado para lidar com o seu dinheiro? Se precisamos nos aperfeiçoar nas disciplinas profissionais, por que seria diferente com a vida pessoal? E isso serve para todas as pessoas (devedoras, compulsivas ou investidoras). Um curso, além de ajudar a colocar em dia suas finanças, poderá transformá-lo em um multiplicador dos conhecimentos adquiridos. O país agradece.
Aproveitar momentos de crise para refletir, decidir e agir é a diferença da pessoa inteligente e que busca a verdadeira independência financeira. Dê menos ouvidos aos noticiários econômicos exagerados e pessimistas e tire suas próprias conclusões e lições desse momento. Mas, importante, chega de braços cruzados. É hora de agir, reagir. O que você tem feito diante da crise? Como tem aproveitado o momento?
——
Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
▪ Quem é Ricardo Pereira?
▪ Leia todos os artigos escritos por Ricardo
Crédito da foto para stock.xchng.