Quando falamos de finanças, um dos principais desafios é ajudar as pessoas a entenderem conceitos complexos e abstratos, especialmente quando tratamos da questão do risco. Para simplificar as coisas, você pode usar aquilo que chamo de regra dos três A. No caso, ela fala do que você almeja (A), aguenta (A) e aceita (A). Esses três pontos estão sempre conectados quando falamos do processo de construção da carteira.
O quanto você almeja significa qual o retorno que, num cenário ideal, você gostaria de obter com seus investimentos. Entretanto, como não existe almoço grátis, quanto mais você almeja conseguir, mais você precisa aguentar perdas, tanto em tamanho quanto em duração. Ao equilibrar esses dois extremos, uma estimativa do quando você aceita de risco-retorno.
Embora essa abordagem seja bastante simples, ela é útil na hora de organizar seus investimentos. Para ganhar mais, é preciso correr mais riscos. Logo, aguentar a chance maior de perdas e de não atingir esse objetivo. Por outro lado, uma carteira com muito pouco risco pode não ser capaz de entregar aquilo que você busca ou demorar demais para isso.
Como disse, entre esses dois polos, buscamos encontrar aquilo que seria aceitável: o quanto podemos ganhar ou perder conforme aumentamos ou diminuímos o risco? O retorno que podemos ter a mais está aceitável, quando consideramos o risco de ganharmos menos? Estamos prontas e prontos para aceitar um período mais longo de desempenho ruim? Na outra ponta, aceitaríamos vender parte dos ativos que subiram muito, para comprar aqueles que caíram?
O que você realmente quer?
Mais do que lidar com as finanças e o risco do ponto de vista matemático ou estatístico, a regra dos três A foca primeiro nas suas preferências psicológicas, fundamentais para que você tenha sucesso na sua jornada de investimentos. Isso porque, do ponto de vista de quem irá investir, os aspectos propriamente financeiros são secundários caso você não consiga manter seu bem-estar psicológico em dia.
Através disso, conseguimos fazer uma ponte entre o que é o risco do ponto de vista financeiro e o que é o risco do ponto de vista humano, que diz respeito à pessoa que está investindo. Para facilitar um pouco o entendimento dessas questões, podemos pegar um caso bastante comum, das pessoas que querem ter retornos bem acima da renda fixa, mas, ao mesmo tempo, não querem que sua carteira fique muito tempo abaixo do CDI.
Claramente, nesse caso existe um desencontro entre o almejar e o aguentar: embora a pessoa queira mais retornos na carteira, ela não está aguentando o risco necessário para isso. O resultado é que o retorno, no agregado, não está aceitável. Para solucionar essa situação, existem dois caminhos.
O primeiro é aceitar que, quanto maior o potencial de retorno da carteira, maior será o risco de ficar abaixo do CDI, em percentuais e períodos progressivamente mais longos. Esse é o preço que se paga, especialmente no Brasil, para ter a chance de um retorno mais alto. O segundo caminho é reduzir o risco da carteira, garantindo períodos cada vez mais curtos abaixo do CDI, mas renunciando a cada vez mais potencial de retorno.
Renda fixa, renda variável e os riscos da carteira
Como podemos ver, entre o que se almeja e o que se aguenta, é necessário encontrar o que se aceita. Para ilustrar isso, o núcleo de research da Portfel levantou alguns dados interessantes. Tomando o caso do IBRX 100, que representa de forma adequada o mercado de ações nacional, e o CDI, principal indicador da renda fixa, podemos tirar algumas conclusões.
Vamos falar de alguns casos emblemáticos. Se você tivesse investido o mesmo valor em CDI e IBRX 100 em 2008, chegaria ao final de 2022 com um rendimento de 9,29% ao ano com a renda fixa, mas apenas 5,27% ao ano na renda variável. Isso resulta numa diferença de 4,01% ao ano, após quinze anos de investimento. Você aguentaria esse risco, caso almeje retornos mais altos?
Leve em conta que esse mesmo fenômeno acontece quando invertemos a ordem das coisas. O mesmo investimento em CDI e IBRX 100, caso tivesse sido feito em 2015, resultaria em ganhos de 8,56% ao ano na renda fixa, contra 10,66% ao ano na renda variável. Agora, falamos de uma diferença de 2,09% a mais por ano, por oito anos, a favor da renda variável. Você aguentaria prescindir desse retorno, para ficar no conforto do CDI?
Vamos a alguns dados mais amplos. Considerando um investimento feito no primeiro dia de cada ano desde 1995, mantendo todos até o último dia de 2022, o IBRX 100 produz retornos mais altos que o CDI em 57,14% dos casos. Nos outros 42,86% você teria encarado um risco bem mais alto, para um retorno inferior. Sabendo disso, qual seria o ponto aceitável entre almejar mais ganhos e aguentar mais riscos?
Como você pode aplicar a regra dos três A
Nos casos apresentados acima, estamos falando de um único investimento, sem aportes ou resgates adicionais, nem balanceamentos de carteira. Como esses três processos vão sempre fazer parte dos seus investimentos, isso nos ajuda a aplicar de forma concreta a regra dos três A. Para simplificar as coisas, vamos pensar numa carteira que terá apenas CDI e IBRX 100.
O que vai acontecer nesse caso é que você precisará decidir, de preferência com o auxílio de um(a) profissional sem conflitos de interesse, quanto será alocado em renda fixa e variável. Quanto maior a parcela de renda variável, maior a probabilidade, a duração e a intensidade dos períodos abaixo do CDI; maior também será a chance de ganhos mais altos. Equilibrando as duas coisas, chegamos ao quanto você aceitaria tanto de risco-retorno.
Uma carteira que tenha metade em IBRX 100 e metade em CDI tende a capturar o crescimento das duas pontas, buscando manter essa proporção via aportes e balanceamento anual. Se há uma preferência por mais risco, você pode ter, digamos, 70% IBRX 100 e 30% CDI. Se o desejo é por quase nenhum risco, pode ter algo como 95% ou mesmo 100% em CDI.
Estou ciente de que a regra dos três A, assim como a divisão apenas entre CDI e IBRX 100 simplifica muito um processo que é bem mais complexo, visto que a renda fixa e variável são bem mais amplas do que isso. Entretanto, a ideia é que essa distribuição entre o que você almeja e o que você aguenta sirva como um primeiro passo e uma linha guia para alocações futuras.
Como anda sua carteira?
Essa mistura entre aquilo que almejamos, aguentamos e aceitamos se aplica a praticamente qualquer carteira de investimentos. Isso é particularmente o caso no Brasil, onde infelizmente há muitos(as) agentes oferecendo recomendações enviesadas pelo conflito de interesses, que prejudicam gravemente quem investe.
Isso costuma resultar em carteiras de baixa eficiência, alto risco e alto custo, especialmente quando consideramos o impacto das comissões. Entretanto, através da regra dos três A, você conseguirá dar um primeiro passo para avaliar o quanto sua carteira faz realmente sentido para sua vida e seus objetivos.
Como de costume, a recomendação é buscar o máximo de diversificação em cada classe de ativos, pagando a menor taxa possível. No caso da renda fixa, isso envolve fundos com carteiras com mínimo de concentração por empresa, e na renda variável, com ETFs que repliquem índices amplos, como o IBRX 100.
Fuja de operações estruturadas, como COE ou opções de compra/venda (calls/puts), assim como qualquer investimento em que você tenha dificuldade de entender o funcionamento. Fundos com estratégias “inovadoras”, que tendem a ter um custo bem alto (2% de taxa administração, 20% de taxa de desempenho) são outro produto a ser evitado, pois a esmagadora maioria perde para estratégias simples e passivas.
Caso você opte por buscar a ajuda de profissionais com boa qualificação, que não operam sob conflito de interesses, um dos melhores caminhos é entrar em contato com a Portfel, a consultoria patrimonial do Grupo Primo. Além da nossa experiência com adequação de carteiras, todas as nossas recomendações são embasadas por pesquisas científicas, que ajudam você a investir com a maior segurança possível.
Se interessou? Entre em contato conosco: www.portfel.com.br