Gastar é muito mais gostoso que guardar, e isso está cientificamente comprovado. Comprar, portanto, é uma válvula de escape muito comum (e perigosa) diante da vida cada vez mais corrida e cheia de ansiedade. A conta final é caríssima.
O consumo como forma de pertencimento não é exatamente uma novidade ou um mal. O exagero é o que realmente complica tudo, como acontece com qualquer coisa na vida. Gastar demais é uma consequência e o comportamento na origem precisa ser trabalhado. Some a isso a ausência de planejamento, o desinteresse por educação financeira e os juros elevados no Brasil e temos um problemão. Qualquer promoção vira sinônimo de “preciso comprar agora” e parcelar qualquer comprinha vira um hábito corriqueiro.
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Como resistir às promoções: preço não é tudo
Você não deve comprar só porque está barato ou porque o preço parece irresistível. Ao criar na sua cabeça a desculpa de que “o preço nunca mais será tão atraente”, você se desarma totalmente do ponto de vista racional e deixa a emoção tomar conta.
Ah, sim, somos seres emocionais e é impossível ficar imune às tentações de consumo ou garantir que seu bolso será blindado de possíveis gastos fora do esperado. Não se trata de não gastar, mas de pensar mais a respeito das decisões financeiras tomadas no dia a dia.
Neste sentido, preço não é tudo. Na verdade, ele é parte importante da equação, mas não é a variável mais sensível quando se trata de educação financeira. A prioridade precisa ser o padrão de vida possível, não pagar o mais barato possível.
Você pode defender que pagar barato é sinônimo de economizar, mas isso só faz sentido se você pode realmente comprar. Economizar agora e criar um problema financeiro depois é ser ingênuo e não considerar o futuro. Não funciona e custa caro!
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Como resistir às promoções: planejamento é tudo
A discussão central neste nosso encontro hoje é: você não acorda e simplesmente sai pulando da cama pensando “hoje vou aproveitar a promoção e pagar barato no que eu achar por aí”. Mas na prática é isso que acontece com muitos brasileiros.
Andando na rua, você encontra um produto que “é a sua cara” e está em uma liquidação. Entra na loja. Experimenta. Toca o produto. Faz umas continhas de cabeça para diminuir a culpa. Compra. Parcelado.
Já foi. Você digitou a senha e nem se deu conta. Tudo aconteceu muito rápido, o “moedor de carne” da vida lembrando você das suas responsabilidades a todo instante, o celular recebendo mensagens a cada segundo, tudo “conspirando” para fazer você tomar uma decisão rápida.
Meu relato parece exagerado? Comprar sem querer ou sem sequer ter necessidade é a realidade de muitas pessoas. Quando dinheiro não é um problema, pode não fazer diferença, mas não é esse o retrato de nosso país.
O planejamento é a chave para evitar este tipo de comportamento. Você merece ter as coisas que deseja e faz todo sentido comprar aquilo que você quer, mas é essencial que a compra aconteça dentro de um contexto de organização e atitude envolvendo:
Resistência diante das tentações. A necessidade de resistir às tentações é óbvia e o foco aqui precisa ser agarrar-se totalmente a suas metas e objetivos, que serão a motivação para cumprir as outras etapas;
Tempo. Nós sempre queremos tudo agora, mas é óbvio que isso não é possível. Assim, definir metas e colocá-las em perspectiva temporal é tão importante quanto comemorar cada vitória ao chegar lá;
Decisão de guardar dinheiro. O horizonte de tempo precisa estar acompanhado da escolha consciente de juntar os recursos para comprar o que você quer. Você vai conseguir o que deseja, mas quando guardar o suficiente;
Negociação na compra. Conseguiu juntar o dinheiro, além de resistir às tentações? Ótimo. Agora é hora de negociar a compra e realizar o objetivo. E sabe o que pode ser curioso aqui? Talvez o preço não seja o mesmo de meses, semanas atrás. Pode ser mais caro e você talvez consiga pechinchar um desconto. Ou não. Mas agora você pode comprar e não vai prejudicar seu orçamento com uma compra fora de hora.
Repare que não estamos discutindo uma ferramenta específica para lidar com o seu planejamento e nem tampouco criando complicações envolvendo seu orçamento. A regra que gosto de usar é simples: se você tem dinheiro e planejamento, compre; se você não tem dinheiro, crie as condições primeiro.
Vale registrar suas receitas e despesas em uma planilha, app ou caderno. Vale escrever seu objetivo em um post-it e colar no cartão de crédito para lembrá-lo de seu compromisso consigo mesmo. Vale usar apenas o cartão de débito. Deu pra entender, né?
Conclusão
O problema das compras por impulso não é o preço irresistível anunciado. As promoções vão sempre existir e você vai sempre ser atraído por elas. A questão é quanto você realmente prioriza o padrão de vida possível – sua realidade financeira.
O consumo daquilo que nos faz bem e feliz é muito importante, mas comprar não pode se tornar um sinônimo de terapia. O planejamento financeiro é a chave para resistir às tentações, embora isso não signifique que você vai se blindar completamente.
Se você conseguir definir e respeitar certos objetivos, comuns (da família) e individuais, respeitando seu orçamento e aprendendo a guardar dinheiro, também poderá comprar sem culpa e consumir sem medo.