A dúvida que persiste é de quando conseguiremos enxergar a tal luz no fim do túnel. Por enquanto, apesar das declarações oficiais de membros do governo, seguimos tateando no escuro sem encontrar saídas confiáveis.
A equipe econômica de Henrique Meirelles e o próprio ministro foram cooptados a participar do governo seguindo um projeto de ajuste da economia e elaboração de reformas importantes para fazer o país retornar ao rumo correto, se é que algum dia trilhamos isso (talvez no governo de FHC e uma parte do primeiro mandato de Lula). Porém, a equipe econômica foi atropelada pelo lado político caótico, onde boa parcela do Congresso seguiu no fisiologismo tentando se safar dos envolvimentos com a operação Lava Jato e seus filhotes. Caímos assim.
Temer nas mãos do Centrão
Já o presidente Michel Temer viu sua popularidade despencar a níveis históricos singulares e seu governo com as piores notas. Como se não bastasse isso, ainda foi pego em atitude no mínimo duvidosa no episódio de Joesley Batista da JBS e, para evitar que a denúncia da PGR seguisse seu curso até o STF teve que abrir o “saco de bondades” para compra de votos de parlamentares.
A denúncia foi efetivamente rejeitada, mas o presidente não “ganhou a guerra”. Seguiu ainda mais refém de parlamentares do grupo dito “centrão”, que agora querem que Temer puna os infiéis, exatamente para que sobrem cargos de ministros e do segundo escalão.
A conclusão óbvia é que seguirá tendo que manter o saco de bondades aberto e com custos cada vez mais elevados. A pergunta que cabe é se é dentro desse ambiente, é possível esperar que as reformas sejam feitas?
A disputa atual está focada entre membros da equipe econômica que relutam em mexer na meta em R$ 20 bilhões (tirando de um déficit de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões) e a postura dos políticos do núcleo duro do presidente que querem até mais, e o pior, que seria elevar ainda mais o déficit de 2018.
O presidente precisa aquinhoar políticos e isso certamente custa caro. Ocorre que a mudança de meta para pior traz como efeito direto o downgrade em nossa classificação de risco pelas principais agências de rating. Espanta investidores estrangeiros e reduz a perspectivas de atração de receitas extraordinárias que viriam de concessões e privatizações. Outro efeito nada desprezível seria a elevação da dívida pública, agregando novos riscos para a economia e avaliação externa.
Equipe econômica desconfortável
Aparentemente a correção de rumo da economia está indo para o espaço e isso tem deixado a equipe econômica que vinha colocando suas impressões digitas no programa absolutamente desconfortável. Defecções agora na equipe seria o que de pior poderia acontecer, quando o governo perderia definitivamente qualquer condição de governabilidade.
Partindo do princípio de que isso não irá acontecer, ficarão restando as reformas. A da Previdência é a mais crucial de todas. Sem ela não há salvação, dados os valores envolvidos. Mas, existem outras importantes, como a Tributária para agregar mais produtividade e competitividade e, a Política, para tentar mudar o perfil de nossos políticos do qual a sociedade está farta.
Há ainda situações emergenciais como a aprovação do novo Refis (não nas bases propostas pelo relator da Comissão) e a TLP que parecia simples, mas virou outro cavalo de batalha. Sem isso, ainda que emagrecidas, não chegaremos a nenhum lugar.
Se conseguirmos minimamente produzir mudanças nesses itens, os agentes econômicos podem mudar de postura e deflagrar um início de recuperação. Os mercados de renda variável poderão dar respostas ainda mais rápidas.
Ficamos com a Clarice Lispector: “enquanto não acontece, eu fico imaginando”.