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Consequências econômicas das mudanças climáticas

by Ricardo Pereira
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Dinheirama e o Meio AmbienteArtigo escrito por Ricardo Pereira e Arthur Gouveia.

O Dinheirama é um blog verde – literalmente. Todos achavam que a escolha da cor se dava somente pelo dinheiro[bb], mas os editores e leitores do blog têm também preocupações ambientais. Além disso, não é possível dizer que a economia não afeta a natureza e que esta não afeta a economia.

As mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global[bb] passaram a vigorar com grande visibilidade na mídia e em fóruns de discussões. Seus efeitos começam a ser sentidos em grande parte do mundo. As conseqüências para a economia obrigarão o homem a inventar um novo modelo econômico e de negócios. E terá que ser rápido! O aquecimento global pode provocar estagnação, desaceleração do crescimento econômico e elevação de preços em todo mundo.

Economia versus clima
Uma das primeiras e mais drásticas conseqüências será o aumento do protecionismo global, trazido com o aumento das regulamentações que os países (principalmente os desenvolvidos) serão obrigados a fazer com objetivo de frear as mudanças climáticas. Isso trará aos países muitas dificuldades para exportar seus produtos. Veremos uma roleta em que todos aumentariam suas barreiras comerciais para proteção da indústria local.

Certamente, os países em desenvolvimento serão os mais afetados, sobretudo porque desastres naturais e as doenças causadas por essas possíveis mudanças tenderão a ocorrer em regiões com menor poder econômico e infra-estrutura.

Agricultura
Sem dúvidas, o setor econômico que será mais afetado será o agropecuário, pois depende de condições especiais como temperatura e precipitação. Para se ter uma idéia do problema que se desenha, nos últimos sete anos a temperatura em São Paulo subiu 1ºC. Se a elevação chegar a 3ºC, não será mais possível plantar café no estado.

As previsões são de aumento não apenas na média da temperatura, mas também em sua variância. Por isso, a incidência de eventos extremos deve aumentar. Verões e invernos muitos chuvosos ou extremamente quentes são algumas das possíveis consequências. Essas oscilações terão diferenças regionais e, justamente por isso, levarão à uma nova divisão no mapa da produção agrícola.

Dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) indicam um possível maior prejuízo em regiões onde a temperatura alta já é uma constante, como é o caso das regiões Norte e Nordeste. Fica evidente, por esse estudo, um deslocamento de cultivos que não suportam temperaturas muito altas, migrando para regiões como Sudeste e Sul.

No semi-árido nordestino, a questão das secas tende a ficar pior, pois a elevação da temperatura tornará a região ainda menos chuvosa. Os agricultores, que vivem da agricultura e de lá tiram sua alimentação[bb], serão os principais afetados por essa realidade. As condições de vida nessas áreas rurais se tornarão praticamente inexistentes. A tendência, com essa situação, é de que os moradores dessa região aumentem a dependência de programas de assistência social para manterem condições mínimas de vida na região.

Infra-estrutura
As mudanças previstas alteraram de forma significativa o regime de chuvas. Estando as previsões corretas, as atividades relacionadas aos corpos hídricos serão afetadas. Quando falamos em hidroeletricidade no Brasil, imediatamente nos vêm à mente os grandes problemas de energia que temos no país. Ocorrendo a redução das chuvas, teremos problemas sérios na geração de energia. Não haverá outro caminho que não o aumento de investimentos em saneamento, a fim de evitar transbordamento dos sistemas de captação e tratamento de esgoto em casos de cheias.

Provavelmente, teremos que expandir a capacidade da construção civil, pois o aumento de catástrofes climáticas resultará em maior número de acidentes – inundações, deslizamentos, erosões – cuja prevenção irá exigir obras significativas e de custos muito elevados.

Ainda falando em aumento da demanda de construção civil, temos como certa a elevação do nível do mar. Esse fenômeno levará ao reassentamento de populações costeiras, originando um novo desenho geográfico nessas áreas. Os efeitos dramáticos deverão ocorrer nas regiões próximas aos deltas de rios e outras áreas que já sofrem hoje com variações consideráveis de maré.

Demais setores
Fica fácil prever que alguns setores estarão no cerne do problema. Um dos principais será, sem dúvidas, o da saúde, pois teremos aumento doenças relacionadas ao calor e chuva, como a dengue. Com a diminuição da camada de ozônio, o aparecimento de câncer de pele também se tornará mais comum. As conseqüências das enchentes, como leptospirose serão uma constante. A falta de água tratada e a coleta de esgoto ficarão comprometidas, aumentando os riscos e mais problemas de saúde.

O mercado de seguros tenderá a sofrer um baque significativo, pois os casos de sinistro por ventania, furacões e enchentes tendem a aumentar. O mercado de turismo[bb] sofrerá alterações de destino consideráveis principalmente nas áreas de costa, que concentram o maior número de turistas. Imaginem os prejuízos para resorts, hotéis, restaurantes etc.

Combustíveis renováveis
O Brasil está na vanguarda quando se fala em tecnologia de combustíveis renováveis de origem vegetal, principalmente o álcool combustível (Etanol). Percebe-se que internamente ainda existe espaço para o crescimento da participação desse tipo de combustível, principalmente se o preço do petróleo se mantiver elevado e o governo federal mantiver o biodiesel como prioridade. Porém, as expectativas de crescimento da demanda de biocombustíveis ainda são motivadas principalmente pela crença no aumento das exportações para países desenvolvidos.

Entretanto, se não tomarmos cuidado, a produção em larga escala da produção de biocombustíveis poderá ser um tiro no pé, pois ela precisará de aumento considerável nas áreas de cultivo, muitas vezes facilitadas até por incentivo do governo (exemplo: apoiar a produção familiar, através do programa do biodiesel). Essas ações poderão acelerar o desmatamento, que aumentaria o aquecimento global, ao invés de reduzi-lo.

Imaginemos ainda que boa parte dos agricultores passe a produzir a cana de açúcar ou a mamona. Como ficaria a produção de alimentos? Pode-se dizer e presumir que os preços dos alimentos terão significativos reajustes com a queda na sua oferta. A previsão de aumento de 18% na safra de soja em 2008 não demonstra um aumento do uso do grão na alimentação humana, mas a relação com a atratividade inicial do programa de biodiesel.

Conclusão
Com o crescimento da “sociedade de consumo”, a expansão tecnológica e graças ao avanço da medicina, ocorreu um enorme crescimento populacional e impacto na ampliação da expectativa de vida. Para garantir a produção de alimentos, o campo foi ocupado intensiva e extensivamente por grandes projetos agropecuários. Em conseqüência, houve também um rápido aumento da taxa de urbanização, com a formação de verdadeiros formigueiros humanos nas grandes cidades (favelas, cortiços etc).

O uso inconseqüente dos recursos naturais trouxe resultados como a desertificação do solo e as alterações climáticas, que nos levaram ao ponto muito próximo do esgotamento dos recursos do planeta, demonstrando futura incapacidade de suprir demandas por insumos tradicionais. Especialistas acreditam que o homem esteja utilizando cerca de 1/3 dos recursos além do que a natureza pode lhe oferecer com bases sustentáveis.

Como será o mundo daqui a 10 anos quando o planeta tiver mais meio bilhão de pessoas?
Estaremos vivenciando uma situação crítica, ainda que até lá consigamos preservar tudo o que temos de recursos naturais alocados na produção de gêneros e bens na tentativa de garantir um mínimo de qualidade de vida[bb]. O mundo, vivendo forte crescimento econômico, tem provocado um pesado revés ambiental. A escassez de recursos naturais irá provocar uma forte retração no crescimento das economias regionais. A natureza, invariavelmente, dará o troco.

Precisamos consumir diferente, pensar diferente, viver diferente. As pequenas ações no dia-a-dia é que fazem, e farão, a diferença!

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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston Garantia e edita a seção de Economia do Dinheirama.

Arthur Gouveia é Consultor de Empresas especializado em Gestão e Estatística. Conheceu o Dinheirama e, desde então, aplica as dicas dos editores e comentaristas em seu cotidiano, buscando aumentar seu patrimônio líquido. Atualmente edita a seção de Notícias e é editor responsável pelas dicas e opiniões de nossos leitores.

Crédito da foto para Marcio Eugenio.

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