Nos últimos meses foram discutidos, de forma bastante intensa, os motivos que levam o Brasil a ter altas taxas de juros. Argumentos dos bancos privados bateram de frente com os da equipe econômica do governo. Enquanto a taxa básica de juros (Selic) está caindo, em ação coordenada pelo COPOM (Comitê de Política Monetária) – hoje temos a taxa mais baixa de nossa história (8,75% ao ano) -, observamos os juros reais praticados no mercado se alterarem muito pouco, com tendência tímida de queda. Mas, enfim, por que esses juros são tão altos?
De acordo com os bancos e financeiras, as taxas altas se baseiam em 3 fatores determinantes:
- Alta carga tributária;
- Inadimplência;
- Lucro do banco para operação.
Na prática, e ainda segundo informações destas instituições, estes três componentes formam a composição do chamado spread bancário. É fato que existe certa razão quando lembramos que a questão fiscal no Brasil merece atenção e mudanças. De modo geral, trata-se de um item que pesa na formação das taxas e preços deste e de muitos outros setores. Aqui muita coisa custa caro porque incidem impostos demais, é fato. E os demais fatores?
Pessoalmente, não acredito que a inadimplência seja tão alta no sentido de representar um risco tão preocupante. Segundo consta, estamos diante do principal componente do spread bancário – fato que os bancos adoram frisar. O período de crise financeira, aqui e no restante do mundo, contribuiu para a tendência de alta nos índices de inadimplência. No entanto, em se tratando de Brasil, os indicadores não ficaram em valores muito mais altos do que em outros momentos.
Muito se discute sobre a necessidade e implementação de um cadastro positivo de informações que contemple e facilite a vida do bom pagador. Tal cadastro, como o próprio nome diz, seria muito positivo, mas na prática não parece ser fator determinante para a queda das taxas de juros. Só isso não resolve.
Encarando a questão dos juros
Se levarmos em conta o volume de crédito total de 2008 em relação ao PIB, de 41,3%, podemos concluir que:
- Nossa oferta de crédito vem aumentando historicamente;
- Ainda estamos muito longe de outros países em desenvolvimento, onde a relação Crédito/PIB é de mais de 100%.
A lógica de juros altos praticada por aqui torna nossos empréstimos um dos piores negócios do mundo. E, parece, isso também influencia a inadimplência. Afinal, juros altos significam saldos devedores as vezes grandes demais. Como sempre faço questão de dizer, educação financeira é fundamental para evitar armadilhas disfarçadas de dinheiro fácil e rápido. Muita atenção, caro leitor. Hoje e sempre.
Cabe ressaltar, claro, que o volume de crédito praticamente dobrou entre 2002 e 2009. Entretanto, o percentual ainda é muito baixo. Aqui se evidencia a lógica de pouco crédito a preço alto, quando o crédito barato em abundância traria muito mais crescimento e oportunidade para o país. Defendo a seguinte equação:
- Juros menores = maior oferta de crédito
- Maior oferta de crédito = maior crescimento econômico
Mudanças de momento
Indo de encontro a essa lógica, os bancos públicos iniciaram uma queda mais agressiva das taxas de juros. No início de abril, o então Presidente do Banco do Brasil deixou o comando da instituição “a pedido de Lula”, que estaria insatisfeito com a lentidão na queda das taxas cobrada pelo banco.
Na última semana, após cortar taxas e continuar cedendo crédito mesmo momentos ditos turbulentos, o Banco do Brasil voltou à liderança do setor bancário no Brasil, o que animou (demais) o governo e especialmente o Ministro Guido Mantega. Já os resultados da Caixa Econômica Federal não animaram tanto. É cedo para avaliar tais medidas, mas creio que elas são importantes.
De qualquer forma, para nós é fundamental aprender a lidar com o crédito de forma saudável. Dentro de uma economia desenvolvida, o acesso ao crédito é fundamental. Cobrar, negociar e buscar alternativas mais competitivas são atitudes relevantes e que servem para pressionar as instituições – tudo para que ofereçam linhas mais baratas e dentro da realidade mundial. O crédito nestes níveis ainda me assusta.
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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