No início de maio publiquei, aqui mesmo no Dinheirama, o artigo “Investidores fogem da bolsa de valores: Por quê? O que está faltando?”. O texto teve uma repercussão muito interessante. Boa parte dos leitores concorda com o ponto de vista de que falta um bom relacionamento entre as corretoras e seus clientes, mas alguns defendem a tese de que os números negativos da bolsa nos últimos meses são os grandes responsáveis pela baixo interesse no mercado de ações.
Quem acompanha o mercado de perto sabe que realmente passamos por momentos delicados na economia mundial. Inflação crescente durante os primeiros meses do ano (e ainda longe do centro da meta), incertezas a respeito do futuro de algumas grandes empresas no Brasil, terremoto no Japão, pressão cambial, crescimento da China, morte de Bin Laden e, para completar, o escândalo do homem forte do FMI são alguns fatores que trazem grande inquietação ao mercado.
Investidor em busca do amadurecimento
Se os mais interessados e que possuem conhecimentos do mercado enxergam que as noticias acima podem ter deixado o mercado barato, o que dizer da maioria que muitas vezes tem a vontade de investir, mas não sabe como?
A grande verdade é que o investidor brasileiro ainda está longe do amadurecimento necessário para encontrar, sozinho, as boas opções de investimento. Nossa economia já está estável há praticamente 15 anos, mas se compararmos nosso cenário com o de países mais avançados fica fácil notar que ainda “estamos engatinhando”. Se somos irresponsáveis com o crédito, o que dizer do quanto ainda precisamos amadurecer com relação aos investimentos?
Crescimento apenas com publicidade e marketing
Nesse novo cenário, as corretoras parecem acreditar que a responsabilidade única para trazer novos investidores está a cargo da divulgação de “sonhos” de riqueza muitas vezes estampados em material jornalístico de revistas e sites. Ora, todos querem enriquecer, não é mesmo? Mas não há a predisposição de investir em programas que transformem interessados em investidores.
Com essas características particulares, é muito claro o motivo pelo qual hoje tantas pessoas “investem” em títulos de capitalização e sequer buscam saber como investir na bolsa de valores – cabe ressaltar que, na prática, os famigerados títulos de capitalização não podem ser considerados investimentos. Interessa o prêmio, a “bolada”.
Então, se as pessoas se interessam em comprar capitalização por que se afastam dos investimentos em bolsa? Certo, os mais observadores citarão os valores mais baixos que diferenciam os investimentos. Ora, que tal guardar pequenos montantes, mês a mês por algum tempo, e então destinar algum capital também para o mercado de renda variável? A justificativa passa a ser a falta de disciplina? É hora de crescer, né?
Corretoras devem criar áreas de RI – Relação com Investidores
Acompanhando de perto a saúde financeira das famílias, já me deparei com casos como o de um casal que possuía oito capitalizações: o valor investido por mês alcançava a média de R$ 750,00. Pouco? Muito? Demais? Não importa! O que levou esse potencial investidor a escolher um péssimo produto foi o relacionamento ativo entre ele e seu banco. Com esse valor, ele poderia diversificar e optar por alternativas bem mais interessantes (poupança, títulos e até ações).
Defendo que as corretoras adotem uma política diferenciada, que saiam da paralisia atual e adotem um papel de destaque. Que sejam mais pró-ativas, inteligentes. Proponho a criação de uma área de Relação com os Investidores (RI), onde possam estabelecer contato mais próximo e oferecer aos clientes o relacionamento e a tranquilidade necessários para o futuro.
Cursos e treinamentos, o primeiro passo para o relacionamento
A última grande sacada em relação ao mercado de corretoras foi à inserção dos cursos e treinamentos. Se analisarmos friamente essa tendência, trata-se de um passo em direção ao relacionamento direto com o investidor. Mas o investidor quer mais: ele quer aprender a investir, mas também deseja conhecer as pessoas que serão responsáveis (em alguns casos) pela administração de seu dinheiro.
Os investidores querem conhecer e saber como e por que algumas recomendações são feitas. Quem as realiza? Com base em que critérios? São confiáveis? A equipe é grande, pequena? Como é composta? As pessoas gostam de participar, mas, no frigir dos ovos, querem saber a quem recorrer “na hora em que o calo aperta”. É fundamental ter confiança nesse momento e o investidor sente-se abandonado hoje em dia.
Quem dará o primeiro passo? Vamos acompanhar de perto. Até a próxima.
Foto de freedigitalphotos.net.