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Os desafios de uma economia de abundância

by André Massaro
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Há alguns dias, postei nas redes sociais uma mensagem que deixou algumas pessoas intrigadas: “Talvez me arrependa do que vou dizer agora, mas… Nos próximos anos, quero distância dos setores de commodities e infraestrutura. (mundialmente falando…)”.

Essa mensagem foi escrita logo depois que eu li um artigo sobre o Powerwall, da Tesla Motors. Para quem não sabe, a Tesla Motors é um fabricante de carros elétricos capitaneado pelo empresário americano, de origem sul-africana, Elon Musk.

Ele que, entre outros predicados, foi um dos fundadores do PayPal, é dono da SpaceX (que já tem contratos com a NASA, para abastecer a Estação Espacial Internacional), da Solar City (painéis solares para uso doméstico) e foi a fonte de inspiração para a versão moderna de Tony Stark (o “Homem de Ferro”). Enfim, Elon Musk é, provavelmente, o maior badass da atualidade, e sou um fã confesso dele.

O Powerwall é, em poucas palavras, uma adaptação da tecnologia de baterias da Tesla Motors para uso doméstico. Ele ajudaria a resolver um dos maiores (e mais óbvios) problemas da energia solar, que é o armazenamento de energia para uso nos períodos em que o Sol está ausente. Desta forma, uma casa seria abastecida pela luz solar durante o dia e, de noite, pela energia acumulada em uma bateria.

Se essa tecnologia for técnica e economicamente viável (e, até o momento, tudo indica que sim), ela poderá representar uma revolução sem precedentes no mundo da energia (ou, usando um termo da moda, uma “disrupção”).

Ao menos em tese, uma casa equipada com painéis solares e uma bateria com essas características se tornaria energeticamente autônoma, gerando para si (e provavelmente para o carro elétrico que fica na garagem) toda a energia de que precisa.

Uma casa energeticamente autônoma poderia, tecnicamente falando, se desconectar da rede elétrica, e o dono dessa casa hipotética poderia dar uma “banana” para as empresas de geração e transmissão de eletricidade (e quem não gostaria de fazer isso aqui no Brasil, depois desses últimos aumentos de preço da energia?).

Se o Powerwall der certo, outras empresas entrarão no mercado, oferecendo soluções semelhantes, e se iniciará uma corrida desenfreada para aumentar a eficiência das baterias e dos painéis solares.

O futuro da indústria da energia, tal qual a conhecemos, será posto (na verdade já foi!) em xeque, e poderá acontecer com o setor energético, guardadas as devidas proporções, aquilo que aconteceu com o mundo das informações após a popularização da internet: a informação se tornou abundante, onipresente, a um custo baixíssimo ou mesmo custo zero.

Hoje em dia, “vender informação” é uma das atividades mais ingratas que existem (pergunte para qualquer pessoa que trabalha na mídia). É extremamente desafiador, pois a grande maioria das informações pode, atualmente, ser encontrada de graça. Como cobrar por algo que pode ser obtido de graça?

O futuro de organizações (e mesmo países) que, hoje, prosperam por conta de seus recursos energéticos pode ficar seriamente ameaçado. Num horizonte de prazo maior (talvez ao redor de dez ou vinte anos), toda nossa atual infraestrutura energética pode se tornar obsoleta.

Nesse mesmo período, outros grandes avanços tecnológicos provavelmente surgirão, talvez em áreas como inteligência artificial, nanotecnologia, exploração espacial, extensão radical da expectativa de vida, medicina regenerativa, cultura de tecidos e impressão 3D em escala industrial (é, pessoal, a tal “singularidade” está chegando).

Setores inteiros (e os respectivos empregos por eles gerados) sumirão. Outros setores e empregos surgirão, mas ninguém sabe se em quantidade suficiente para substituir aqueles que foram perdidos.

Uma era de abundância radical está chegando. Informação grátis, energia grátis, comunicações grátis… A lista não para por aqui! A Economia é conhecida como a “ciência triste” (dismal science), pois ela trata exatamente da escassez – como alocar recursos escassos para satisfazer necessidades e desejos sem limites.

Mas caminhamos agora para uma “Economia da Abundância”, que, apesar do nome otimista, nos apresentará desafios igualmente grandes.

Talvez, no futuro, robôs e inteligências artificiais farão o “trabalho pesado”, enquanto a Humanidade se dedicará ao ócio e às artes (ou não, né? Vai que aconteça um cenário tipo “Exterminador do Futuro”). Mas essa transição será, provavelmente, bastante dura e sofrida.

Possivelmente passaremos por uma situação similar àquilo que os sociólogos chamam de “anomia” – um período de caos e anarquia, causado por mudanças radicais, em que as regras antigas deixam de valer, mas as regras novas ainda não são conhecidas.

Talvez tenhamos que passar por um grande período de desemprego e concentração de riquezas nas mãos de poucos até que a Economia da Abundância vire uma “Economia da Abundância para Todos”.

O caminho para uma esta nova Economia passará, muito provavelmente, pela destruição em massa de setores e empregos. Muitas pessoas apostam naqueles elementos que representam riqueza em uma “Economia de escassez”, como ativos físicos, terras e commodities em geral.

No curto prazo, apostar nesses elementos faz sentido e é uma atitude defensiva. Porém, num horizonte um pouco mais longo, essas coisas podem se tornar irrelevantes e sem valor.

O que podemos extrair de prático disso? Honestamente, não sei, pois entramos num terreno altamente especulativo e a aceleração exponencial dos avanços tecnológicos deixa tudo ainda mais confuso.

Eu seria extremamente cauteloso com aquelas estratégias de investimento e de negócios que as pessoas consideram (muitas vezes erroneamente) “à prova de crise”, como ouro, terras, imóveis e commodities em geral.

Essas estratégias superconservadoras são associadas a ceticismo e incerteza, mas estamos chegando a um ponto em que temos que ser céticos até com o próprio ceticismo. O que você acha disso tudo?

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Foto “Holding Earth”, Shutterstock.

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