Não faz muito tempo, conversei com o economista Felipe Miranda, que é um dos sócios da Empiricus Research, parceira de conteúdo do Dinheirama. Felipe, foi o autor do polêmico relatório “O Fim do Brasil”. O relatório foi alvo de críticas e aplausos.
Nós ficamos felizes porque abrimos espaço para discussão sadia e também oferecemos espaço para leitores que não concordaram com a tese para fazer o contraponto. Depois da primeira entrevista, outras aconteceram e os leitores do Dinheirama começaram a encaminhar diversas perguntas direcionadas ao Felipe.
O interesse genuíno dos leitores somado ao período de agravamento da crise fez brotar nosso interesse de conversar novamente e saber do economista suas opiniões sobre os mais variados assuntos, que são destaques no momento.
As perguntas foram construídas a partir do compilado de mensagens que recebemos dos leitores e você pode conhecer agora:
Felipe, como você avalia até o momento o que sabemos das intenções do governo em relação ao ajuste fiscal? As medidas apontadas até o momento serão suficientes?
Felipe Miranda: As intenções sobre o ajuste fiscal são as melhores possíveis. O problema é que ajuste fiscal não se faz com intenções, mas com articulação política. Tenho insistido no fato de que a questão não é de ciência e, sim, de política. E temos problemas nessa esfera. Primeiro porque a fragilidade do Governo nesse campo é enorme. E depois porque o grande responsável pela condução do ajuste fiscal não é um político.
Até agora, as medidas apontadas não são suficientes para cumprir a meta de 1,2% de superávit primário. Nas minhas contas, até agora teríamos algo como 0,4%, mas receio por importante frustração do lado da receita por conta da fraqueza do PIB e por eventual frustração com os dispêndios envolvendo seguro desemprego, em face à piora do mercado de trabalho, e swaps cambiais.
E, claro, sabemos que 1,2% do PIB de superávit passa longe de ser suficiente para estabilizar a relação dívida/PIB. Precisaríamos de algo em torno de 3%. Há, sim, uma mensagem positiva, de que estamos na direção certa, mas muito longe ainda do que seria o ideal.
O Ministro Joaquim Levy, foi apontado por alguns editores da Bloomberg como o “Homem que pode salvar o Brasil”. Até que ponto um salvador pode se avançar em uma tarefa que necessita a adoção de medidas impopulares?
F. M.: Acho que estou um pouco velho para acreditar na capacidade de um indivíduo, seja ele quem for, salvar o Brasil. Reconheço a enorme competência do ministro Levy, mas ele está sozinho nesta. A matriz ideológica de todo o governo é outra. E a questão do ajuste sobrepuja questões econômicas, é muito mais política. O platonismo de que um competente economista pode sozinho colocar o Brasil na rota, infelizmente, não me pertence.
Depois de lançar com muito sucesso o relatório “O Fim do Brasil”, você novamente trouxe uma nova teoria que fala sobre possíveis 10 anos de recessão. O que você defende nesse novo trabalho e como os leitores podem ter acesso ao material?
F. M.: A argumentação é de que há um risco importante de uma crise externa. Os Bancos Centrais salvaram a economia mundial do colapso em 2008, levaram os juros a zero e imprimiram moeda em quantidade impensável. Há US$ 100 trilhões de excesso de liquidez no mundo. É um dinheiro infinito.
Quando você coloca todo esse dinheiro na economia e mantém o juro zerado por muito tempo, há um incentivo claro para as famílias, as empresas, os países e os investidores se alavancaram em excesso e correrem riscos desproporcionais. Isso alimenta bolhas. Sempre foi assim ao longo da história. Custo a acreditar que seria diferente agora.
O problema maior para o Brasil é que estamos frágeis agora. Se formos afetados por uma ruptura internacional neste momento de fraqueza, estaremos sem capacidade de reação. Veja: em 2008/09, pudemos reduzir juros e aumentar os gastos públicos. Agora, está esgotada nossa capacidade de fazer política anticíclica. Convido o leitor do Dinheirama para conhecer mais detalhes da minha teoria, conheça aqui o material completo.
Um dos grandes problemas que podem aumentar a desconfiança em relação ao governo é o desaquecimento da economia resultar em elevação do desemprego. Esse é um dos indícios de que a recessão pode chegar e ser duradoura?
F. M.: Sim, e ela já começou a ser sentida. A taxa de desemprego bateu já 7,4%, ruindo o último pilar do governo Dilma. Com a última variável também se mexendo, não há mais como sequer pensar em defender a desastrada nova matriz econômica.
O risco é de que entremos numa espiral perversa, em que cortam-se empregos, reduz-se a renda agregada, o empresário diminui seus investimentos por antever menor demanda à frente, reforçando a necessidade de mandar mais gente embora. Cria-se um círculo vicioso.
Felipe, muitos leitores do Dinheirama nos enviaram mensagens perguntando sobre sua opinião em relação ao Dólar. O que você poderia sobre esse tema?
F. M.: Entendo que o dólar voltará a ganhar valor frente às principais moedas globais e frente ao real em particular. Houve uma interrupção na trajetória, que entendo como temporária. Isso porque os recentes indicadores da economia norte-americana foram ruins, sugerindo continuidade da política de juro zero nos EUA por mais tempo.
Isso fomentou a perspectiva de muita liquidez por período mais longo, estimulando a tomada de ativos de risco pelo mundo. No Brasil, o movimento foi amplificado, tanto porque a desvalorização prévia do real havia sido muito destacada quanto em razão do ganho de confiança no ajuste fiscal.
Ao final, acabará prevalecendo a noção de que há maior dinamismo na economia norte-americana, e de que sua política monetária é diferente agora daquelas dos demais países desenvolvidos, que seguem com os esforços de afrouxamento quantitativo. Por aqui, os fundamentos continuam ruins e os termos de troca seguem piorando, o que enseja desvalorização do real.
Na última vez que conversamos você mencionou a dura realidade do cenário atual, mas se mostrou de certa forma esperançoso com as possibilidades do país no longo prazo. Qual estratégia o pequeno e médio investidor deveria adotar para aproveitar as oportunidades que temos por aqui?
F. M.: Por enquanto, não mudaria absolutamente nada na postura conservadora. É aproveitar este juro muito gordo da renda fixa, comprar dólares e buscar um pouco de proteção no ouro, por conta dessa insanidade que hoje é o balanço dos BCs em nível global.
Felipe, mais uma vez obrigado pela entrevista. Como sempre peço a você uma mensagem final e uma indicação de leitura para os leitores do Dinheirama.
F. M.: Obrigado a você pela entrevista. Sempre um prazer. A mensagem é de que, em breve, surgirá uma oportunidade maravilhosa para comprar ativos de risco no preço certo. Por enquanto, cautela e dinheiro no Bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém.
Os assinantes do Palavra do Estrategista (clique para conhecer o relatório) estão sabendo exatamente no que se posicionar agora e serão avisados das oportunidades para comprar ativos de risco no momento certo.
Nota: Esta coluna é mantida pela Empiricus, que contribui para que os leitores do Dinheirama tenham acesso a conteúdo gratuito de qualidade.