Durante muito tempo reclamamos que a presidente Dilma, o ministro da Fazenda e o número um do Banco Central tinham discursos diferentes que traziam enorme confusão aos mercados e empresários.
Isso sem incluir outros ministros de áreas afins ou não, já que todos se davam o direito de dar suas opiniões sobre coisas variadas da economia, especialmente a variável mais sensível, o câmbio.
Finalmente, pelo menos no curto prazo, esses partícipes conseguiram unificar discursos, ao mesmo tempo em que outros executivos se calaram. Essa unificação decorreu da necessidade de atrair investidores externos para o processo de concessão no segmento de logística, em seminário em New York, pós-assembleia geral da ONU.
O discurso foi correto, articulado e bem desenvolvido por cada uma das autoridades do primeiro escalão, mas também trouxe muitas dúvidas no que tange a discurso versus prática.
Como dissemos, o discurso foi positivo, com forte referencia à manutenção de regras estáveis, destacada eficiência na gestão do setor privado, melhores retornos para os projetos e financiamento público.
A prática vinha indicando situação diversa, com muitas mudanças de marcos regulatórios, obrigatoriedade de participação do setor público (Infraero e Petrobras), obrigatoriedade de nacionalização, baixos retornos e mudanças em curto período de tempo; servindo para trazer dúvidas e afastar investidores.
Não bastasse essa dicotomia entre discurso e prática, tivemos mais evidencias com a divulgação, na semana seguinte, do relatório trimestral de inflação do terceiro trimestre, divulgado pelo Banco Central (BC). Em tal relatório e na coletiva posterior do diretor Carlos Hamilton, conseguimos ver outras situações dúbias.
Ao mesmo tempo em que o BC fala em inflação alta e resistente (tema recorrente de posicionamentos pretéritos), inclui que a situação fiscal está deixando de ser expansionista para tender para neutra, isso mesmo com o superávit primário sem atingir a meta em 2012 e 2013. Quase em seguida é colocado que há muito por fazer no combate à inflação.
Ao mesmo tempo falam em preços administrados subindo 4,5% em 2014 e 2015 e falam que os preços livres estão dissociados, mas há espaço para o BC acomodar aumento de combustível. O relatório indica que superávit primário próximo do atual garante impulso de magnitude desprezível e condição neutra para a política fiscal.
Diante de tudo que aconteceu no passado recente e do patamar de inflação, não dá para entender que o BC tenha essa postura leniente, abrindo mão de pleitear que o governo faça o maior superávit possível ou, pelo menos, que chegue perto da meta.
Se colocarmos ainda as recentes declarações do ministro Mantega, estimando que o crescimento médio entre 2013 e 2022 será de 4%, os investimentos no mesmo período com crescimento de 7% e atingindo 24% do PIB em 2022 (estamos em 18% do PIB) e concessões no montante de R$ 1,0 trilhão até 2022, veremos que a realidade não corresponde.
Aliás, convém lembrar que as previsões do ministro são sempre superestimadas, como zerar o déficit nominal, crescimento de 4% para 2012 (fechou em 0,9%) e outras tantas. Há ainda a realidade do déficit primário dos governos regionais e suas estatais pelo segundo mês seguido, na pior performance desde 2001.
Esquece o ministro as palavras de Kalil Gibran Kalil, que dizia que “três coisas não voltam jamais. A água que passa no moinho, a seta disparada e a palavra proferida”. No âmbito local, ficamos mais próximos de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e seu samba do “afrodescendente doido”.
Bom, considerando todas as injunções domésticas e ainda o ambiente externo frágil, principalmente com as discussões americanas sobre o orçamento, paralisação do governo Obama e aumento do teto da dívida, o mais importante é manter alguma prudência operacional.
Nesse sentido, as recomendações de investimento recaem sobre fundos com menores volatilidades, ainda que se possa aplicar recursos em fundos de ações e multimercados, esse com operações no exterior. Consultem nossa família de fundos Órama. Tenho certeza que lá vão conseguir aplicações de acordo com sua propensão ao risco. Até a próxima.
Foto blah blah blah, Shutterstock.