Por Cláudia Martinelli, especialista em economia sustentável e articulista da Plataforma Brasil Editorial.
O texto de hoje discute o momento em que a sustentabilidade se descola dos invólucros ideológicos e passa a pesar em questões concretas, concretíssimas, e isso tem acontecido de forma cada vez mais clara nos tempos atuais.
As crises ambientais estão ganhando um destaque maior nos meios de comunicação. Se por um lado é importante que dados climáticos e ambientais apareçam nos jornais, a discussão econômica em torno do assunto é ainda muito rasa. Ao vermos essas notícias é importante lembrarmos de um conceito econômico muitas vezes esquecido: o das externalidades.
Externalidades são consequências das atividades econômicas que normalmente não são contabilizadas, mas podem afetar de forma positiva ou negativa a sociedade. Esse conceito é bastante discutido em sustentabilidade, mas é pouco abordado nas teorias administrativas e financeiras vigentes.
Para muitas pessoas, as externalidades estão fora do escopo da empresa e devem permanecer lá, para não afetar sua competitividade e seus resultados financeiros. O problema é quando esses impactos causam um custo social muito alto e muito maior que os seus benefícios. Os custos são gerados por algumas companhias, mas pagos por toda a sociedade.
Um exemplo de externalidade negativa, exposto por Leão Serva no jornal “Folha de São Paulo”, é a forma como as atividades econômicas da Amazônia estão gerando a falência do ecossistema amazônico. Como consequência, ocorrem mudanças climáticas no continente que afetam a economia no sudeste do país.
Serva expõe o seguinte: a Amazônia, que possui um PIB negativo, gera produtos de baixo valor agregado como madeira, gado e soja por meio da destruição de recursos naturais. O dinheiro arrecadado para compensar o PIB negativo da região Norte é obtido nos estados do Sul e Sudeste do país.
Estudos demonstram que boa parte da massa de ar quente e úmida responsável pelas chuvas no estado de São Paulo é gerada pela floresta Amazônica que está entrando em colapso devido ao desmatamento.
A falência do ecossistema interfere no regime de chuvas, uma das causas da crise hídrica no estado de São Paulo. A falta de água está gerando diversos problemas econômicos na região, causando perdas na arrecadação de impostos.
Ou seja, atividades econômicas com baixo valor agregado causam um grande impacto ambiental em um dos ecossistemas reguladores do clima continental e, consequentemente, geram impactos econômicos, sociais e ambientais em uma das regiões mais ricas do país.
Utilizei o exemplo acima porque ele é muito atual e também porque ele expõe a complexidade do assunto. Por causa dessa complexidade é que, muitas vezes, as externalidades ficam completamente fora das discussões. É como conversar sobre sexualidade com seu filho adolescente, ninguém vai ficar confortável, mas o assunto precisa vir à tona para o bem comum.
Precisamos começar a discutir de forma ampla com o mercado e com as empresas as formas de incentivar externalidades positivas e de conter as externalidades negativas. Algumas discussões já estão ocorrendo, como podemos ver na edição de setembro da revista “Página 22”.
Políticas públicas voltadas para a diminuição dos custos socioambientais e para o incentivo de benefícios nessa área podem gerar novos negócios e incentivar inovações, mas também podem pegar desprevenidas empresas que resolveram ignorar um assunto tão urgente.
Dessa forma, é importante que o setor produtivo se envolva nessas discussões e participe da construção das soluções. Por isso, informe-se, levante o assunto nas reuniões de conselhos comerciais e busque soluções e oportunidades para a sua área de atuação.
Ignorar o assunto não fará o problema desaparecer e você ainda pode perder a oportunidade de gerar grandes vantagens competitivas. Obrigada a até a próxima.
Foto “Green heart”, Shutterstock.