Cléber comenta: “Navarro, sou jovem e confesso que me preocupo muito com a minha imagem diante das oportunidades e experiências que surgem em minha vida. Sou daqueles que, muitas vezes, compra porque o gerente duvida de minha capacidade de pagamento ou porque um amigo tira uma onda comigo. Claro, me arrependo em seguida. Não sei se é o status que move esse desejo de consumir ou se é mesmo a desinformação. Gostaria de algumas dicas no sentido de organizar melhor meu raciocínio financeiro. Nem eu entendo direito o que vem acontecendo, portanto não se preocupe se não puder responder. Obrigado”.
Cléber, obrigado pela visita. Você usou duas palavras importantes no seu questionamento: status e desejo. Será que você não está só representando a expectativa da sociedade e de seus amigos, deixando de pensar no verdadeiro Cléber e no que ele realmente precisa para viver e ser feliz? Repare, a questão tem mais apelo pessoal, de atitude e de comportamento que de educação e planejamento financeiro. Antes de aprender a gastar seu dinheiro, precisa aprender a respeitá-lo. Mais, precisa aprender a enxergar sua vida de forma mais coerente e inteligente.
Por que não curtir as diferenças?
A sociedade caminha para a banalização da diferença. A institucionalização de crenças, valores e referenciais de sucesso é perigosa para a necessária parcela individual do cotidiano. As pessoas tentam, de maneira muitas vezes irracional, ser o outro, ser como o outro. Será que o outro é realmente mais que você? Por que? Ele tem mais? Ele é mais? Qual o referencial usado para responder essas perguntas?
O espaço para o crescimento pessoal acaba por dar espaço ao ritual de inserção forçada na sociedade, onde preconceitos ridículos criam fronteiras (para não dizer barreiras) capazes de segregar, sem nenhum pudor, emoções e valores pessoais importantes. Essa mudança de prioridades traz inúmeros problemas ao bolso dos brasileiros, que passam a viver cada vez mais “enforcados”. O outro tem tudo. Pode tudo. Será que é só isso? Que tal pensar em como ele lida com o dinheiro, como ele gerencia seu fluxo de caixa? Será que ele investe? Em que?
Um outro parcial, superficial!
O problema se agrava. Não queremos ser o outro que trabalha, mas usufruir do que o outro tem. Não queremos entender do que o outro entende, mas ter a popularidade que o outro tem. Isso não é desejo. Não pode ser. Quando a gente quer, a gente corre atrás, aprende, estuda, erra, acerta, ensina. Desejar é, acima de tudo, um enorme esforço emocional. É saber que aquilo só vai acontecer se merecermos e trabalharmos duro. Desejo é oportunidade, não frustração.
Ninguém admite o desejo de ser o outro. Tudo bem. A diferença está na coerência de atitudes em busca da realização do ambicioso objetivo. Portanto, fica fácil perceber quem quer apenas “ser” e quem se espelha e luta para chegar lá. Com o dinheiro, não é diferente. Nada vai cair do céu Cléber. Não vai “chover dinheiro”, não vai “chover conhecimento” e nem boas oportunidades. Você anda preferindo o status em detrimento da oportunidade. É hora de repensar.
Status é importante?
Claro que é. Como sabem, odeio hipocrisia. O ser humano é movido por muitas forças e uma delas é o ego. Sim, o ego. Status é bacana, fala sério! Quem não quer ser reconhecido, ser tido como uma referência, ser respeitado, comentado? Todos queremos. Eu quero. O problema está em fazer dessa necessidade um projeto de vida, viver em função do status. Desfrutá-lo depois de um merecido esforço é uma coisa, criar um status artificial é outra. Ter dinheiro não tem nada a ver com ter status, embora muitos façam essa perigosa associação. Sinto desapontá-los, mas status é muito mais que isso.
Neste sentido, deixo algumas contribuições que direcionam minhas atitudes cotidianas:
- Respeite o dinheiro. Não subestime o poder do dinheiro e sua capacidade de gastá-lo. Reflita mais sobre seus atos financeiros e passe a se preocupar com o aspecto de planejamento de médio e longo prazo;
- Conheça e viva a SUA realidade. Muitos não admitem viver fora do possível. Isso não é bom. Mas pior são aqueles que sequer conhecem a sua realidade. O exemplo que gosto de usar é: se você ganha R$ 300,00 e quer andar num carro de R$ 30.000,00, não dá. O mesmo acontece com alguém que ganha R$ 3000,00 e quer andar em um carro de R$ 300.000,00. É um passo muito grande e ponto! Passo possível, é verdade, mas perigosíssimo. Viva a SUA vida.
- Aprenda sobre dinheiro e investimentos. Pare de culpar seu ego ou seu emocional e transforme a desculpa em atitude. Direcione sua energia para a formação de patrimônio cultural e conhecimento. Trate de aprender a lidar com o mercado, suas armadilhas e boas oportunidades. A realização de um desejo passa, obrigatoriamente, pela fase de aprendizado.
- Tenha um hobbie. Aproveite as horas vagas e faça algo que lhe dê prazer. Divirta-se. É nas horas vagas que surgem as melhores idéias e as oportunidades mais incríveis de auto-conhecimento. Experimente.
- Poupe e pense no futuro. Viver hoje, agora é uma delícia, eu sei. Mas essa história de “amanhã é outro dia” é romântica demais e não combina com estrutura financeira. Uma dívida hoje terá que ser paga amanhã. Não tem choro! Da mesma forma, uma economia hoje pode se transformar em um grande investimento amanhã. O amanhã é o hoje, daqui a pouco. Preste atenção.
Fico por aqui, acabei escrevendo demais (pra variar né?). Não se deixe levar pela imagem gerada por seu suposto patrimônio externo. Pense mais em você, no que você realmente quer e merece. Viva a sua vida, com o SEU dinheiro. Ostentar coisas é uma triste tentativa de ser mais do que se é, de ser notado pelo material, não pelo conteúdo. Com dinheiro, a coisa fica pior. Se tem dinheiro, tem amigos. Sem dinheiro, sem nada. Quem precisa de status assim?
Crédito da foto para Marcio Eugenio.