Roberto comenta: “Navarro, sua opinião sobre a formação de poupança para o futuro passa, quase sempre, pela necessidade de sustentar a disciplina e o foco em objetivos, de maneira a empregar o dinheiro de forma inteligente – o que muitas vezes significa evitar produtos bancários específicos. O raciocínio vale para a previdência privada? Ou um produto deste tipo pode ser interessante, mesmo diante da cobrança de taxas de administração e carregamento? Obrigado.”
Começo com o mais importante: com o futuro não se brinca, nem hoje, nem nunca. Esta é a afirmação mais banal do mundo, é verdade, mas, como vemos diariamente em lares brasileiros, parece que ela não é, nem de longe, levada a sério. Em algumas famílias, o futuro sequer é discutido ou levado em consideração. Desculpas como a falta de dinheiro, de tempo, o desafio de criar os filhos, o estresse no trabalho, o chefe, o país, o excesso disso e a falta daquilo recheiam as conversas cotidianas. Falta tudo, mas falta principalmente prioridade e interesse.
O importante é planejar o futuro. Hoje.
Diante da constatação de que o futuro chega, e rápido, discutir a relevância do assunto passa a ser desnecessário. Mas como garantir que quando “a hora” chegar, seremos capazes de sustentar nosso padrão de vida e os elevados gastos com saúde inerentes na bela e motivante aventura de envelhecer? Poupando, investindo e planejando, hoje. Há outra maneira? Você quer trabalhar até morrer?
Sobre a aposentadoria, um dos poucos fatos que posso citar é: os aportes oficiais para a Previdência Social já não são suficientes para sustentar os benefícios dos atuais aposentados. Isso significa que há um déficit crescente na aposentadoria oficial do Brasil – o que para o bom entendedor representa grandes riscos no pagamento de novos benefícios no futuro. Logo, confiar apenas na previdência do governo não é nada inteligente.
Eis que surgem as fatídicas questões:
- Vale a pena investir em planos de previdência privada?
- A aposentadoria complementar cumpre seu papel?
Sou chato quando o assunto é sustentar objetivos de longo prazo. Quem me conhece sabe que o dinheiro para os meus 60 anos já está mais do que reservado e investido. É sagrado. E, acredite, parte dele está em um plano de previdência privada. “Quem diria, o Navarro investe seu dinheiro além das fronteiras da disciplina”, você diz a si mesmo com um riso intrigado nos lábios. Engano seu.
Alternativas de previdência privada podem ser interessantes por questões tributárias e também em caso de problemas graves (invalidez, por exemplo) ou morte. Porque para morrer, basta estar vivo, é o que dizem. Assim, prefiro crer que a disciplina também consiste em se tomar decisões coerentes, enquanto se vive. Desfrutarei a melhor idade com investimentos em ações, títulos públicos e um produto de previdência privada.
Tudo muito bem pensado, com as taxas minuciosamente discutidas e dentro de patamares aceitáveis. Rentabilidade definitivamente interessante em um produto adequado ao meu perfil e objetivo, com especial atenção para beneficiários e a segurança de que, em qualquer eventualidade, a vida daqueles que amo, e por quem daria tudo, possa caminhar sem percalços. E assim vem sendo desde os 22 anos, quando iniciei a cesta de investimentos para os 60 anos – exatamente desta maneira. E você, o que tem feito pelo seu futuro?
Previdência privada ou investimento por conta própria?
Por que não os dois? Por que não valorizar a disciplina, mas garantir também que a família seja completamente resguardada? Afinal, seria hipocrisia defender apenas a poupança consciente em um país com 80 milhões de endividados (cerca de 80% da população economicamente ativa). Afinal, seria hipocrisia considerar apenas as decisões financeiras inteligentes em uma nação cujo conhecimento financeiro se resume ao uso da poupança como conta corrente. Falar que eu odeio hipocrisia é ser chato demais?
Poucos sabem que existem produtos específicos de previdência privada para crianças, filhos pequenos e jovens. Poucos sabem que existem planos de previdência complementar que permitem aportes pequenos, de cerca de R$ 30,00 e são pensados para o longuíssimo prazo. Ainda que caros, eles garantem mais dignidade quando a idade avançada chegar – e ela vai chegar. Garantir o futuro têm que ser prioridade.
As taxas de administração e carregamento
Cuidado com a interpretação de texto. Sim, eu disse que alternativas caras podem salvar o futuro de muitos brasileiros, especialmente se estes cidadãos só conseguem viver com carnês e contas por pagar. E, não, eu não disse que elas devem ser a única saída – ou a mais inteligente. Espero que, a esta altura, esteja cristalino o meu interesse – e luto muito por isso – em que o quadro fosse diferente. Não é, portanto há que se considerar a aposentadoria também (e muitas vezes apenas) através de produtos deste tipo.
Mas, como sempre disse, negociar e pesquisar é sempre dever do consumidor que valoriza seu dinheiro. Assim, compreender que a taxa de administração incide anualmente sobre todo o montante aplicado, enquanto a taxa de carregamento representa um percentual retirado a cada aporte significa aceitar que produtos com taxas de administração altas prejudicam muito mais o saldo final quando comparados à planos com taxas de carregamento elevadas. Há um excelente tópico com essa discussão no nosso fórum Sociedade Dinheirama.
Futura Dinheiro – Previdência complementar
Por que não ouvir toda a minha opinião sobre os planos de previdência privada? Hoje foi ao ar uma edição do Futura Dinheiro, programa semanal sobre finanças pessoais, investimentos e economia que mantenho na Rádio Futura FM 106,9, que trata justamente das minhas opiniões acerca da questão. Ao ouvi-lo, leve em conta que eu “falo pelos cotovelos” e facilmente me empolgo, o que acelera minha fala. O rádio é uma novidade para o humilde blogueiro. Prometo melhorar.
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O Rafael Seabra escreveu um ótimo artigo sobre as alternativas para poupar pensando na aposentadoria, dando destaque para uma recente reportagem sobre o tema publicada na Revista Exame, edição 942. O artigo indicado traz opiniões e dicas importantes e que são muito interessantes. E atenção: toda semana trarei o programa Futura Dinheiro para a atenção de vocês, o que certamente elevará o nível do blog e seu profissionalismo. É o compromisso com o leitor cada vez mais valorizado. Até mais.
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Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
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