Fábio comenta: “Navarro, você já ouviu faler em inverter o ônus da prova? Pois é, eu faço isso há muito tempo: vejo aquele dinheiro que eu guardo todo mês (a economia que se multiplica nos investimentos) como uma “dívida”. Assim, ficar “sem dinheiro” passa a ser uma coisa boa. Penso que poupar e criar patrimônio é também uma arte que requer muita inteligência e imaginação. Você concorda? Gostaria que comentasse um pouco sobre a relação entre dinheiro e imaginação. Afinal, é preciso imaginação para ter dinheiro ou dinheiro para ter imaginação?”
Fábio, obrigado pela visita. Achei fantásticas as suas colocações, especialmente porque fundamentam-se em duas alternativas muito mais simples e eficientes que a matemática financeira encontrada atualmente na literatura disponível: a força de vontade, a humildade e a criatividade. A gestão eficiente de nosso dinheiro fica mais divertida (e interessante) quando decidimos insistir no poder dos processos criativos, você tem razão. Em que medida devemos misturar o dinheiro neste modelo?
É preciso ter imaginação para ter dinheiro ou dinheiro para ter imaginação?
Uau, que pergunta! Imaginar a relação entre dinheiro e imaginação parece um desafio grande demais, mas prometo tentar deixar registrada minha humilde opinião. Confesso acreditar que “ter dinheiro” é algo bastante subjetivo, ainda que valores e moedas possam ser plenamente quantificados. Por incrível que pareça, saber quem tem mais ou menos nunca foi a questão realmente importante para mim.
A imaginação, ainda que igualmente subjetiva, é uma ferramenta mais universal, disponível e menos egoísta. Todos podemos sonhar, crer em um futuro melhor, desenhar nossos objetivos vindouros. Com imaginação podemos aproveitar melhor nosso dinheiro, fazê-lo multiplicar-se com mais facilidade. Quem usa a criatividade como companheira tem sempre dias surpreendentes. Mas será que o dinheiro é capaz de trazer algum benefício quando usado em conjunto com nossa imaginação? Passam pela minha cabeça algumas perguntas:
- Quanto de dinheiro você acredita ser suficiente para viver feliz?
- Será mesmo possível ter tudo aquilo que desejamos?
- Que influência teve, ou tem, o dinheiro em sua personalidade?
- Qual o verdadeiro poder que o dinheiro exerce em sua vida?
- Será que dinheiro é fundamental? Para que? Quando?
Responder aos questionamentos acima propostos é, intencionalmente, uma tarefa difícil e bastante delicada. Não raro, são poucas as ocasiões em que paramos para pensar no quanto o dinheiro influencia nossas decisões e hábitos. Não se assuste se nenhuma das perguntas o levar até uma resposta convincente.
Felizmente, questões subjetivas não possuem respostas certas. Vindo de um blog de finanças pessoais, isso pode soar um pouco fora de propósito, mas talvez esteja ai a razão para nos preocuparmos mais com a imaginação e menos com o dinheiro.
Uma conta corrente recheada pode oferecer inúmeros convites à imaginação, mas será que imaginar é só isso? Creio que tratar da necessidade de dinheiro para exercer o processo criativo não é algo justificável sob o ponto de vista de resultados. Dinheiro não tem nenhuma relação direta com a imaginação. Ao menos não da forma como buscamos encontrá-la.
Minha visão otimista e humana, bastante divergente da exatidão de algumas mentes mais brilhantes e talvez de sua expectativa para com este site, me diz que imaginar é mais. Imaginar é transformar um desejo em uma visão e criar, consciente e incoscientemente, atributos pessoais para alcançá-la. Imaginar é transformar a intenção, o sonho, em força de vontade, em realização. Imaginar é estimular a criatividade, é ir além daquilo que gentilmente nos entregam de “mão beijada”. Imaginar é criar a sua versão da história.
Imaginar é um exercício!
Note que todo o emaranhado de palavras usado neste artigo veio de minha capacidade de criar, do exercício criativo diante do desafio proposto pelo nobre leitor. A motivação principal para o texto surgiu da necessidade de imaginar como se dá a tal relação entre dinheiro e imaginação. Mas será que tal discussão realmente tem cabimento? Sinceramente, não sei.
Não consigo imaginar uma vida bem vivida sem imaginação e criatividade. Desafiar o marasmo e dar chance ao caos podem ser os grandes trunfos de quem realmente sabe diferenciar-se no cotidiano. Situações comuns e chavões normalmente nos orientam quando estamos sem rumo, mas são nossas próprias mudanças de direção que constroem a verdadeira graça da vida. O dinheiro ajuda, repara, conforta, mas nem sempre convence nossa consciência.
Repare nas histórias de sucesso de muitos empresários e profissionais que admira. A capacidade de inovar os levou diante de caminhos diferentes, mas igualmente prósperos. Eles souberam imaginar, criar o ambiente propício para seu sucesso e colocaram em prática seus planos. O dinheiro, uma consequência, não foi a fonte de inspiração para seus projetos, mas a recompensa por tanto esforço e dedicação.
Uma polêmica sem fim!
Apesar da relativa facilidade em lidar com palavras, admito não ter a resposta para o desafio do dia. De forma intencionalmente inconclusiva, quero deixar aqui uma reflexão sobre o meu trabalho junto do Dinheirama, que obviamente resume meus sentimentos em torno dessa discussão:
- Será que criar um blog sobre finanças pessoais, ler diversas obras sobre o tema, especializar-me através de um MBA e dedicar-me a responder inúmeras dúvidas por e-mail é uma forma criativa de ganhar dinheiro? Aqui podemos perceber o papel fundamental do dinheiro no processo criativo. Algo me diz que não é tão simples assim. Soa artificial, incoerente, arrogante demais.
- Ou será que, a cada novo passo e dia à frente deste projeto, tudo o que faço é aprender mais, cultivar mais e melhores amizades e relacionamentos profissionais e, com isso, criar oportunidades outrora consideradas impossíveis? Soa mais natural, inteligente e realizável? Repare agora que o dinheiro não surge como parte da equação, mas certamente existe porque a imaginação se encarregou de respeitá-lo. E assim sou, aqui e ao vivo.
Imaginação é ter várias respostas para uma mesma pergunta. A imaginação tem o dom de criar o dinheiro, mas o dinheiro nunca será capaz de comprar imaginação ou criatividade. Ambos estão ligados, mas cabe a nós saber priorizar e tirar deles o verdadeiro proveito que oferecem! Deixem suas opiniões sobre o tema e tenham todos uma ótima semana.
Crédito da foto para Marcio Eugenio.