Alguns dos homens mais ricos do mundo (que têm em comum, além do dinheiro, a origem norte-americana) estão promovendo uma verdadeira “cruzada” pela filantropia, tentando convencer outros ricaços a destinarem frações substanciais de seus patrimônios a obras de caridade e de interesse humanitário.
Porém, estão descobrindo que muitos bilionários, em especial aqueles de países emergentes, são bastante relutantes a contribuir de forma relevante com iniciativas filantrópicas. Nos EUA, a filantropia é, por questões culturais, um componente importante do “valor social” e da imagem de uma pessoa, especialmente alguém que está no time dos “afluentes”. No entanto, nos países emergentes o apelo não é tão grande.
Por alguma razão, isso não me surpreende nem um pouco. Aqui no Brasil, por exemplo, é comum a filantropia virar “pilantropia”. Temos inúmeras “ONGs de fachada” e, com alguma frequência, vemos alguma instituição assistencial envolvida em escândalos por mal uso de recursos ou em “rolos” políticos diversos.
Mas, independente disso, a filantropia é algo importante para muitos brasileiros, por isso vamos ver algumas idéias para que a pessoa financeiramente educada e consciente possa exercer a caridade de forma eficiente.
1. Lembre-se das máscaras de oxigênio
Vamos discutir um pouco a tal “sustentabilidade de si mesmo”. Quem já viajou de avião certamente já viu a tripulação fazendo demonstrações de procedimentos de emergência antes de decolar. Algo que as companhias aéreas buscam sempre reforçar, é que “quando a máscara de oxigênio cair do teto, coloque-a em você antes de ajudar outras pessoas a colocá-la”. A lógica é simples: se você morrer, não poderá ajudar ninguém e ainda vai atrapalhar os outros.
Lembre-se disso quando for ajudar alguém. Se a sua situação financeira é crítica, resolva seu problema antes de pensar em filantropia. Se você insistir em ajudar, corre o risco de “quebrar”, e aí não só não poderá ajudar mais ninguém no futuro, como é possível que você mesmo precise contar com a caridade de alguém. E depois não adianta dizer para seus credores que você “faliu de tanto ajudar os outros” – isso não vai “colar”. Lembre-se: você e sua família em primeiro lugar.
2. Invista em mudanças reais
Existem iniciativas humanitárias que têm como objetivo a mudança e outras que têm como objetivo a manutenção. Algumas investem na educação e capacitação de pessoas, outras investem em dar comida e roupas. Para usar uma linguagem mais popular, algumas “ensinam a pescar”, enquanto outras “dão o peixe”.
Não estou dizendo que “dar o peixe” não é importante. Em alguns casos é necessário e é a única coisa a ser feita, mas é interessante dar alguma prioridade àquelas iniciativas que buscam mudanças e não somente a manutenção de determinado status quo.
Neste exato momento existem, ao redor do mundo, diversos grupos de cientistas e pesquisadores que precisam de (relativamente) pouco dinheiro para concluir projetos que podem literalmente mudar a Humanidade e acabar com várias doenças. Localizar e ajudar esses grupos pode ter um impacto positivo muito maior do que simplesmente distribuir comida de graça por aí.
3. “Marketing da desgraça”
Já ouvi muitas histórias de pessoas com nível superior e grande bagagem cultural que vivem nas ruas como indigentes. Não sei se entre esses há algum profissional de marketing, mas não me surpreenderei se descobrir que há.
Muitos moradores de rua usam técnicas de marketing, ainda que rudimentares, para tentar convencer as pessoas a dar seu dinheiro para eles. Alguns usam crianças. Outros preferem exibir doenças e ferimentos escandalosos. O objetivo deles é exatamente o mesmo daquele fabricante de cerveja que anuncia em sua novela favorita: “fisgá-lo” pelo emocional.
Quando você se deixa impressionar por uma imagem comovente ou chocante como essa, você corre o risco de tomar uma decisão que não é a melhor, pois a dez passos dali pode estar alguém que precisa muito mais de ajuda, mas não foi tão eficaz em convencê-lo disso. É melhor confiar em instituições especializadas (mas sempre verificando a idoneidade delas) e agentes sociais bem treinados, que saberão a melhor forma de aplicar seu dinheiro em benefício da sociedade.
4. Você controla seu tempo, não seu dinheiro
Se puder, doe seu tempo e seja um voluntário. Quando você dá seu dinheiro para um morador de rua ou uma instituição de caridade, você tem poucas ferramentas para saber se aquele dinheiro vai ser bem utilizado ou se vai “virar cachaça” e até mesmo ser desviado para uma finalidade diferente daquela que você imagina. Já sobre o seu tempo, você tem mais controle. Quando você se envolve efetivamente em uma atividade filantrópica, você sabe o que está fazendo e vê o resultado do seu esforço.
O filantropo eficiente
Como educador financeiro, a recomendação que dou a um “aspirante a filantropo” é a mesma que dou a um investidor: crie uma estratégia e siga-a. Comece analisando seu orçamento (você não tem um orçamento? Uhmmmm, mal começo…) e determine com quanto você pode contribuir mensalmente, em reais ou em um percentual da renda, sem causar nenhum abalo nas suas finanças.
Se chegar à conclusão que não pode contribuir, não o faça. Se a necessidade de contribuir for algo realmente muito forte em você, use essa energia para crescer profissionalmente, aumentar sua renda e, aí sim, contribuir de forma generosa.
O próximo passo é determinar o destino do dinheiro. Escolha aquilo que mais lhe agrada. Se quiser distribuir entre as instituições “X”, “Y” e “Z”, vá fundo. Se quiser dar uma parte para uma instituição e guardar outra parte para distribuir na rua, fique à vontade (só tome cuidado para não ser vítima do “marketing da desgraça”).
O terceiro e último passo é: execute. Siga rigidamente a “estratégia de filantropia” que você traçou para si mesmo e contribua mensalmente com aquilo que propôs a si mesmo, nem um centavo a mais nem a menos. E, assim como no caso do investidor, lembre-se que o importante não é o valor, e sim o processo.
Foto de sxc.hu.