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Hipocrisia, o combustível das redes sociais (e do fracasso financeiro)

by Conrado Navarro
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Se todos fossem as pessoas que mostram ser nas redes sociais, principalmente no Facebook, o mundo seria um lugar sensacional, não é mesmo? Desculpe se esta mensagem parece pesada demais, mas não consegui encontrar outra forma de começar este texto. Isso se chama hipocrisia.

A sinceridade e a honestidade diante dos próprios princípios e valores não parecem mais algo tão importante; o que vale mesmo é a percepção dos outros, como lidamos com suas expectativas e o quanto somos capazes de fingir para sermos aceitos.

Talvez uma das explicações para escolhas neste sentido seja a dureza da realidade, traduzida na falta de perspectivas que a vida real impõe. Diante disso, criar e viver em uma realidade paralela, colorida, parece a saída ideal para “confortar” e “amenizar” as coisas.

Ledo engano. Toda escolha traz consigo um preço e uma consequência. O preço a pagar geralmente é subestimado, enquanto a consequência não é sequer avaliada. O mundo paralelo se transforma em uma obrigação cotidiana, e isso começa a afetar a única coisa que realmente existe: a vida real.

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Momentos mágicos que não existem

A fábula consiste em impressionar e criar vínculos emocionais através de momentos mágicos, atitudes sensatas e corretas e muito storytelling empírico. Muitas pessoas criam para si verdadeiros “discursos de venda” e usam as redes sociais para criar a persona que deveriam ser fora dos olhares dos demais.

Não pretendo generalizar, afinal isso seria irresponsável, mas é cada vez mais comum notar a “fabricação” de momentos, sensações, experiências e reações. A linguagem, cada vez mais visual e efêmera, acaba tornando as “amizades” superficiais; cada um de nós tem tantos “amigos” quanto quiser. Não parece estranho?

A liberdade de postar o que quiser, algo fantástico do ponto de vista do controle absoluto do que se pensa e compartilha, acaba sendo trocada pela “liberdade vigiada”, em que julgamos e somos julgados muito mais pelo que compartilhamos ou mostramos, e não pelo que realmente somos.

O curioso (ou óbvio) é que se trata de um ciclo vicioso: julgamos os demais pelo que postam ao mesmo tempo em que mudamos o que (e como) postamos para “agradar” e “impressionar”; através das redes sociais, julgamos e mentimos mais, enquanto cobramos menos julgamento e mais autenticidade.

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Hipocrisia, o combustível das redes sociais (e do fracasso financeiro)

O custo de agirmos de forma cada vez mais centrada na imagem e na falsa força das rápidas impressões é elevado e diversificado: ansiedade, angústia, incapacidade de lidar com a frustração, depressão e a ruína financeira são alguns exemplos.

Tenho certeza que você consegue “ligar os pontos” e perceber como uma vida virtual desconexa da realidade pode trazer efeitos nocivos para todos, principalmente a família e pessoas próximas, portanto meu foco será no aspecto financeiro (objetivo deste espaço).

Manter aparências e criar situações/momentos capazes de impressionar os demais quase sempre envolve dinheiro. Roupas de grife, viagens, carros, lugares bacanas a serem frequentados, o consumo é hoje uma extensão do estilo de vida a ser promovido, senão o próprio estilo de vida para uma grande parte.

Dívidas, portanto, são uma constante na vida de quem se vende como uma caricatura, o que significa pagar caro para manter um status não natural, fabricado a partir de muita competição de egos e nenhuma relação suficientemente íntima e de amor sincero – e, portanto, incapaz de abordar a verdade do que ali se passa.

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Sonhar é importante, mas fingir é perigoso

Essa coisa de mostrar-se a partir do consumo não é nem um pouco nova. O “somos o que compramos” talvez tenha sido a maior “descoberta” da economia do século passado. Migrar da necessidade para a emoção, do essencial para o subjetivo, fez as pessoas alimentarem sonhos, o que é muito interessante.

Se sonhar é importante, criar falsas expectativas e alimentar utopias de consumo pode ser desastroso – e a linha entre estas duas realidades costuma ser tênue e muito fácil de cruzar. O principal aspecto da educação financeira que funciona é ser fiel aos seus objetivos, mas para isso você precisa realmente saber o que quer.

Fingir, portanto, é perigoso porque faz o tempo passar enquanto distancia você de seus verdadeiros sonhos, eliminando no processo dois recursos finitos e escassos: tempo e dinheiro.

Sempre valerá a pena respeitar quem somos (e nossas prioridades)

Todo mundo precisa mesmo se tornar a celebridade de seus seguidores? Vale a pena abrir mão do que realmente queremos e de nossa essência para agradar aos cada vez mais exigentes “amigos”? Cabe trocar prioridades por boletos intermináveis para impressionar por um fim de semana, talvez um mês?

A “febre da aprovação” e a hipocrisia são irmãs e só proliferam nos meios em que a ausência de prioridades é a escolha do dia (ainda que não deliberada, o que também representa uma decisão).

Por que cada vez mais pessoas leem e buscam refúgio em obras, vídeos e dramas que envolvem escolhas difíceis e decisões transformadoras? Porque, felizmente, sabem que o problema está em retomar a fidelidade ao “Eu”; a má notícia é que esse buraco é fundo.

Por quê não fazemos mais as coisas que nos deixam felizes e menos o que esperam de nós? Não tenho a menor ideia de como responder a essa pergunta. Arrisco-me a dizer que definir e respeitar prioridades são atitudes “fora de moda” porque elas não dão Ibope da porta de casa para fora, e muito menos nas redes sociais.

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Conclusão

Você pode achar que um tema como esse não deveria estar em um site que fala de finanças pessoais, dinheiro e investimentos, mas é exatamente o contrário. Dinheiro é cidadania, e gente incompleta e vulnerável não consegue blindar seu bolso (e suas emoções financeiramente destrutivas).

Logo, lidar com os próprios sonhos, delimitar bem nossas capacidades e aprender a lidar com as frustrações, é essencialmente o que impede que a armadilha do “Mundo Mágico de Moranguinho” nos abrace. Essas são ações que certamente facilitarão o controle financeiro e a realização de objetivos associados ao dinheiro.

O clima pesado e denso do texto de hoje talvez o tenha deixado um pouco assustado, ou até mesmo irritado. A sua ferida é também a minha; é o machucado de todos nós, em um mundo cada vez mais superficial e com indivíduos “gritando” por aprovação em todo lugar.

Espero que a reflexão proposta possa fazer com que você pense um pouco melhor sobre como tem usado o seu tempo e dinheiro; espero, sinceramente, que você os utilize cada vez mais para realizar-se e aproximar-se das pessoas amadas.

Na boa, eu espero mesmo que sejamos capazes de respeitar nossas verdadeiras prioridades neste mundo cada vez mais cheio de pessoas querendo defini-las por nós. Não será fácil, mas certamente será recompensador. Tomara.

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