A maioria dos autores considera 1902 como o ano de surgimento da Psicologia Econômica, com a publicação do livro “La Psychologie Economique”, de Gabriel Tarde.
A obra de Tarde nasceu da crítica ao conceito de homem econômico proposto por John Stuart Mill, conceito este baseado na crença de que todos nós obedecemos a uma lei psicológica óbvia que faz com que tenhamos uma preferência universal por ganhos maiores em detrimento de ganhos menores e que a busca individual para satisfazer nossos próprios interesses seria o verdadeiro componente do comportamento econômico humano.
Economia versus Psicologia Econômica
Vale dizer que o conceito de homem econômico fundamenta o pensamento econômico tradicional até os dias de hoje sob a forma da teoria neoclássica. A partir daí, podemos dizer que houve um período de grande embate entre a Economia tradicional e a Psicologia Econômica.
Enquanto os economistas tradicionais refutavam veementemente a aproximação das duas áreas, os economistas que buscavam essa aproximação a utilizavam apenas como forma de criticar os modelos e teorias tradicionais.
Entretanto, a partir da década de 70 a Psicologia Econômica começou a se expandir pelos EUA e Europa. A International Association for Research in Economic Psychology (IAREP) foi fundada e começaram a ocorrer uma série de publicações, cujos principais autores são Katona, Lea, Tarpy e Webley.
A Psicologia Econômica ganha reconhecimento
Em 1978, Herbert Simon ganhou o Prêmio Nobel de Economia ao contrastar os postulados da teoria neoclássica de racionalidade perfeita com teorias comportamentais que indicariam um modo de pensar e decidir menos perfeito, mais próximo da realidade observada.
Em 2002, foi a vez de Daniel Kahneman levar o Nobel em Economia com a Teoria do Prospecto, resultado de pesquisas iniciadas na década de 70 em conjunto com Amos Tversky sobre tomada de decisão.
Embora a maioria dos economistas ainda opte por não levar em conta os aspectos psicológicos que envolvem o comportamento econômico, a crise de 2008 e seus desdobramentos vem fazendo com que a Psicologia Econômica, assim como outras áreas que estudam o comportamento econômico (Economia Comportamental, Socioeconomia, Neuroeconomia, Psicologia do Consumidor, Economia Antropológica e Economia Experimental), ganhe cada vez mais espaço dentro e fora do ambiente acadêmico.
A Psicologia Econômica no Brasil
Quanto ao Brasil, não há como falar em Psicologia Econômica sem falar no trabalho desenvolvido pela Dra. Vera Rita de Mello Ferreira, psicanalista e doutora em Psicologia Econômica. Visite seu site para mais detalhes: www.verarita.psc.br.
Em função de sua prática como psicanalista na década de 80, quando o Brasil viveu altíssimos índices de inflação, dois aspectos chamaram sua atenção: as inúmeras tentativas frustradas do governo para debelar a inflação; e o impacto deste cenário econômico sobre a percepção e o comportamento de seus pacientes.
Ferreira decidiu então voltar à Universidade e concluir o Programa de Mestrado em Psicologia Social da USP, com a tese “O componente emocional – funcionamento mental e ilusão à luz das transformações econômicas no Brasil desde 1985”.
Foi em 1999 que se deu sua verdadeira aproximação com a Psicologia Econômica, quando, convidada por Paul Webley e Stephen Lea, começa a integrar a IAREP. Em função de sua ativa participação na instituição, tornou-se representante oficial da IAREP no Brasil e hoje também é membro da SABE (Society for the Advancement of Behavioral Economics) e da ICABEEP (International Confederation for the Advancement of Behavioral Economics and Economic Psychology).
A partir de 2007, com a conclusão da tese de doutorado pela PUC-SP (“Psicologia Econômica: origens, modelos, propostas”), seu trabalho começou a ser difundido e a Psicologia Econômica ganhou espaço na esfera governamental, nos domínios acadêmicos e na mídia.
A Psicologia Econômica é reconhecida e usada pelo governo
Na esfera governamental, a participação da Psicologia Econômica pode ser considerada impressionante, dado o pouco tempo de existência da área no Brasil. A assessoria da Dra. Vera Rita de Mello Ferreira para a elaboração do material didático de Educação Financeira da ENEF (Estratégia Nacional de Educação Financeira) – um programa do governo federal, coordenado pelo Banco Central e pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – fez dela a primeira iniciativa em todo o mundo a reunir educação financeira e conhecimentos de Psicologia Econômica em grande escala.
Em 2010, a Psicologia Econômica foi inserida na agenda do Banco Central para inclusão financeira. E o programa de atendimento ao superendividado do PROCON-SP também conta com aplicações da área.
A Psicologia Econômica é hoje acessível para os interessados
No âmbito acadêmico, Ferreira começa a oferecer o curso de extensão universitária na COGEAE da PUC-SP intitulado “Psicanálise e Psicologia Econômica”, que formou 11 turmas entre 2006 e 2009 – e eu fiz parte de uma delas.
E, desde 2009, passou a oferecer cursos de extensão na FIPECAFI – “Introdução à Psicologia Econômica”, que tem conteúdo equivalente ao antigo curso do COGEAE. Na FIPECAFI, o plano é chegar a constituir um Centro de Estudos da disciplina, que agora já começa a ganhar crescente adesão por parte de interessados vindos de diferentes áreas.
Foi também nesta época (2006) que começou a supervisionar o Grupo de Estudos sobre Psicologia Econômica – do qual eu faço parte –, formado por profissionais das mais diversas áreas (economistas, psicólogos, engenheiros, contadores, consultores, publicitários, professores, executivos etc.) e cujo objetivo é aprofundar os conhecimentos sobre a área, além de refletir e propor caminhos para questões econômicas relevantes para o Brasil, tais como: endividamento, crédito, poupança, previdência, consumo, sustentabilidade e outros.
Dra. Vera Rita de Mello Ferreira e o estudo da Psicologia Econômica
Em 2007, Ferreira lançou seu primeiro livro, “Decisões econômicas – você já parou para pensar?”, totalmente fundamentado na Psicanálise e na Psicologia Econômica, mas com uma linguagem acessível e descontraída voltada para o público em geral. Em 2008, publicou um manual de Psicologia Econômica intitulado “Psicologia Econômica: estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão”, um livro robusto da Coleção ExpoMoney e imprescindível para quem quer conhecer ou se aprofundar na área.
Seu terceiro livro voltado para o público em geral, “A cabeça do investidor”, traz uma série de erros grosseiros de julgamento cometidos pelas pessoas na hora de investir e seu objetivo é traduzir em linguagem simples e bem humorada quarenta anos de pesquisas sobre a nossa capacidade de julgamento.
Aos poucos, a mídia começa a nos dar espaço e as participações de Ferreira e de outros também ligados a Psicologia Econômica em programas de televisão, jornais, revistas e sites dedicados às questões econômicas são muitas e aumentam a cada dia.
Seu trabalho impecável e incansável, aliado à sua personalidade generosa, cujo objetivo é, em suas próprias palavras, “colocar a Ciência a serviço do bem estar do homem e do planeta”, vêm gerando avanços importantes para o Brasil e para a construção da Psicologia Econômica em nosso país.
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