Acabou o primeiro semestre de 2008, um período marcado pela forte instabilidade do mercado financeiro e que mexeu com o ânimo dos investidores, aqui e lá fora. Que lições podemos tirar desse período turbulento que freou, por exemplo, muitos anos de alta da Bovespa? O dólar, cada vez mais desvalorizado frente ao real, vai continuar se corroendo? E a inflação?
Uma nova realidade?
Se a instabilidade foi a marca registrada nos primeiros seis meses do ano, ao menos tivemos uma boa notícia (ou pelo menos a confirmação de uma nova realidade no Brasil): alcançamos o tão sonhado grau de investimento. O grande problema é que ele chegou acompanhado de inflação e juros mais altos.
Diante deste cenário, a Bolsa de Valores de São Paulo, no primeiro semestre, rentabilidade de 1,77% (Ibovespa). Como comparação, no mesmo período a velha caderneta de poupança valorizou-se cerca de 3%. Mas calma, esse é um retrato da situação, a representação de um fato, não uma comparação justa ou tira-teima entre o melhor/pior investimento.
No mesmo período surgiram opções interessantes de investimentos. Alta de juros são, de uma maneira geral, instrumentos utilizados quando se pretende frear o consumo interno. Ao mesmo tempo, a ação brinda o investidor mais atento com taxas muito mais atraentes.
Que tal levar a dica mais a sério e consultar um pouco o nosso velho conhecido CDB? Que tal investigar melhor e correr atrás de mais informações sobre os títulos públicos, o famoso Tesouro Direto? Afinal, o Brasil é um país considerado confiável (um dos significados da chegada do investment grade).
Minha carteira de ações despencou! E agora?
Se você está vendo seu investimento em ações ruir dia após dia, aceite que esse é o risco tão comentado por especialistas do mercado de capitais. Ao entrar nesse mercado, o investidor deve estar ciente de que altos e baixos o esperam. E que altos e baixos, hora ou outra, acontecem.
No entanto, quem realmente criou uma carteira sólida (leia-se com ativos de empresas bem geridas e de potencial) e investe com certa prudência e inteligência considera o período normal. Como diz Gustavo Cerbasi, crises deveriam ser o alívio de quem realmente sabe investir.
Para você que, ao contrário, não se preparou e não estudou melhor o mercado e suas variáveis, a dica é: tire proveito do aprendizado e planeje melhor seus passos no universo financeiro de investimentos. Lembre-se de levar sempre em consideração a premissa de jamais concentrar os investimentos em um só produto, principalmente se for renda variável.
Outro detalhe: o dinheiro de seu investimento – especialmente o destinado ao mercado de ações – não pode estar comprometido no curto prazo. Crie seu fundo de reserva para momentos de necessidade e aproveite o melhor condimento de sua poupança: o tempo. Como diria o Navarro, “disciplina meu chapa, disciplina!”.
Dólar, um poço sem fundo?
Muitos leitores lêem o Dinheirama fora do Brasil e sempre enviam e-mails questionando o caminho do dólar frente ao real. Primeiro, não acredito numa medida mais significativa do governo para conter a valorização da moeda, principalmente agora que o real valorizado ajuda no combate a inflação.
Segundo, acho que seria um grande retrocesso criar, aos olhos do mercado, algum tipo de medida de controle do câmbio. Cabe lembrar que estratégias deste tipo não foram nada saudáveis no passado e no médio prazo acabaram deixando saldo negativo.
Assim, a tendência de manutenção do real nesse patamar é grande, talvez buscando um equilíbrio até mais alto, mais valorizado. O que, claro, não torna fundos e outros produtos ligados ao câmbio boas opções de investimento.
E o próximo semestre?
A tendência de volatilidade permanece. Economistas acreditam em mais elevações da taxa básica de juros (Selic), que pode alcançar 14% ainda este ano. A inflação voltou com grande apetite, sobretudo nos alimentos básicos, como arroz, feijão, leite e carne e deve perdurar até o final do ano como grande vilã do poder financeiro dos investimentos.
A tendência de alta dos juros caminha na contramão da bolsa de valores. Contudo, vale ressaltar que aqueles que adotaram um horizonte de investimento de longo prazo alcançaram bons resultados. Nos últimos cinco anos, quem optou pela bolsa viu o Ibovespa subir nada menos que 401%, enquanto a poupança rendeu quase 50%.
Esse resultado mostra justamente o resultado daquilo que sempre incentivamos por aqui: investir sempre e pensando no longo prazo. Crises, quedas e problemas financeiros são obstáculos, mas nunca desculpa ou justificativa para maus negócios. Faz parte. Que venha o segundo semestre.
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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