Virgílio comenta: “Navarro, a taxa Selic finalmente entrou na casa de um dígito: 9,25% ao ano depois do último corte do Copom. Certo, eu sei que a rentabilidade da renda fixa (títulos públicos e privados) vai cair e começo a pensar seriamente em migrar para a caderneta de poupança. Afinal, esta é uma decisão inteligente? A competitividade da poupança merece nossa atenção? Como ficam os fundos conservadores de renda fixa e os CDBs?”
Os juros básicos de um dígito são motivo de muita comemoração, mas também atenção por parte do investidor. Sua queda representa, ao menos em tese, queda também no custo do dinheiro. A oferta de crédito mais barato se acentua e novos investimentos produtivos mais competitivos passam a ser feitos por empresários e empresas. A economia se aquece, gera mais empregos, o consumo é afetado e o crescimento tende a aparecer com mais vigor.
Na outra ponta estão as aplicações financeiras balizadas pela taxa básica de juros, que obviamente sentirão efeitos em suas rentabilidades. Caso típico da renda fixa, que vê sua rentabilidade minguar e reaquece uma importante constatação do investidor: países com economia competitiva e em forte crescimento confirmam a necessidade de se aumentar a exposição ao risco para sustentar ganhos diferenciados. Em outras palavras, dinheiro fácil e sem risco fica cada vez mais difícil.
Renda fixa versus poupança
Com a Selic neste novo patamar, só fundos de renda fixa que cobram no varejo taxa de administração inferior a 1,25% têm rendimento líquido maior que da caderneta de poupança, não interessa o cenário de tributação utilizado (que varia de 22,5% a 15% para as aplicações). A simulação, realizada a pedido do jornal Folha de S. Paulo, foi realizada pela Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras). É possível concluir, entre outras coisas, que:
- Fundos DI com taxa de administração de 1,25% tinham rendimento líquido de 6,8% ao ano, considerando uma alíquota de IR de 15% (saques acima de dois anos);
- Fundos DI com taxa de administração de 1,25% tinham rendimento líquido de 6,2% ao ano quando considerada a alíquota de 22,5% (saques em menos de seis meses);
- A caderneta de poupança, com base no dia 8 deste mês, rendeu 6,95% nos últimos 12 meses.
A conclusão é óbvia: produtos DI ou de renda fixa cujas taxas de administração são maiores que 1,5% têm rendimento líquido menor que o da poupança, independentemente do tempo da aplicação. Ainda é muito difícil encontrar fundos com taxas de administração próximas de 1,5% – normalmente este valor só é oferecido para investidores de grandes somas (mais de R$ 50 mil). Marcia Dessen, consultora do BankRisk consultada pela Folha, afirma que:
“Para o investidor com menos de R$ 50 mil, a poupança ficou imbatível. A única ressalva em favor dos fundos é que a poupança não tem liquidez diária. Se o poupador retira um dia antes do aniversário, perde o rendimento inteiro de um mês. Para o aplicador que não precisa de liquidez diária, a poupança é a melhor opção”.
Cabe lembrar que quase tudo é negociável quando se trata do relacionamento entre instituições financeiras e consumidores. Portanto, agora que você observa seu extrato de investimento em um fundo de renda fixa e percebe que a rentabilidade caiu, mas a taxa de administração não se alterou, é hora de correr até o gerente e negociar com firmeza. Alguns bancos já baixaram o valor inicial de alguns produtos e também sua taxa de administração.
No caso do CDB, o importante continua sendo negociar muito bem a taxa de retorno em relação ao CDI/Selic. Gosto muito do exemplo dado pelo amigo e doutor em economia Humberto Veiga, que no seu artigo “Cuidados com as taxas baixas – CDB-DI, Fundos ou Tesouro Direto” diz que:
“Todo cuidado é pouco, também quando vamos aplicar em CDB-DI, porque o banco pode oferecer uma taxa bem baixinha para você. Não aceite nada menos do que 97% se o seu dinheiro for passar mais de três meses aplicados e se você tiver pelo menos uns R$ 5.000,00 para aplicar.
Para comparar com o CDB, veja qual o percentual do DI que o banco irá lhe pagar. Se ele oferecer 98%, por exemplo, significa que, dos 9,25% ele lhe pagará 9,25 x 0,98 = 9,07% brutos, o que é melhor do que aplicar em um fundo com 1% de taxa de administração e um título do TD atrelado à Selic (LFT) que tenha uma taxa de custódia de 0,6%, acrescida de uma taxa da CBLC de 0,4%, totalizando 1%.”
A situação vai continuar assim?
Ontem recebi uma notícia que mostra bem o que pode continuar acontecendo: o volume aplicado na caderneta de poupança, nos sete primeiros dias úteis de junho, já supera o de todo o mês de maio. Foram captados R$ 2,018 bilhões nestes 7 dias, enquanto os fundos DI perderam R$ 2,284 bilhões. Os dados são da Anbid (Associação dos bancos de investimento). Ora, não há como negar que o impacto nos números está ligado ao contínuo e forte movimento de queda na Selic.
Como já alertou o investidor Felipe Russo, em artigo intitulado “E a poupança em época de juros baixos?”, manter uma alternativa de investimento com rendimento garantido por lei de 6% a.a. mais TR, sem IR e taxas, pode ser perigoso. No entanto, o leitor deve se lembrar que estamos em véspera de eleição. Logo, fica claro que objetivos políticos estão deixando de lado a discussão em torno da realidade dos investimentos conservadores.
Você, investidor bem informado, esta diante de uma oportunidade de rever suas aplicações financeiras e bater um papo com o gestor de seus investimentos. Discuta as taxas cobradas, a rentabilidade e as alternativas disponíveis. Um pouco de matemática financeira, alguma dose de boa vontade, certa dose de risco e bom senso podem transformar suas finanças. Hoje, mais do que nunca. Bons investimentos!
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Conrado Navarro, educador financeiro, tem MBA em Finanças e é mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI. Sócio-fundador do Dinheirama, autor do livro “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec), Navarro atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
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