Qualquer um que siga uma linha lógica de raciocínio analisará o Ibovespa sob a ótica do desempenho econômico e do cenário político brasileiro. O índice mencionado fez nova máxima histórica aos 76 mil e alguns quebrados. Por qual razão?
Primeiro uma dica: não busque dados concretos, mas sim expectativas.
Cenário econômico: a economia não vai bem, mas agradeça ao presidente mais frágil da história do Brasil—Michel Temer—por ela não ter piorado. Será que isso é motivo para esticar preços de ativos? Se você analisar dados econômicos a resposta certamente é não.
Porém, existe o fator expectativas, que leva os investidores a pensar no contexto econômico de uma forma mais ampla como um conjunto de iniciativas do governo atual—o mais frágil da história desse País, eu repito—que está alinhado com a ideia de governo do mercado financeiro.
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A agenda positiva dos mercados
Serei mais específico: o Michel Temer, em toda a sua fragilidade como político, chefe de estado, articulador e propositor de ideias, representa para o Senhor Mercado um aliado em decorrência da sua boa vontade neoliberal em propor, articular e, eventualmente, comprar legisladores em prol de uma agenda positiva para os investidores.
Estou falando sim da reforma trabalhista e da tão temida reforma previdenciária, esta última, vale ressaltar, dificilmente saciará o desejo dos mercados financeiros porque a fonte de recursos se esgotou. Como assim?
Para “derrubar” a denúncia proposta pelo Supremo Tribunal Federal, o Michel Temer vendeu o País. Imagine alguém desesperado em levantar recursos para permanecer em seu apartamento de luxo que vai às ruas e aliena seus carros, sua lancha, seu jatinho, seu helicóptero—absolutamente tudo.
O presidente atual fez exatamente isso—vendeu tudo que pôde para adiar a sua prisão até 2019. Dito isso, onde estão os recursos para agraciar deputados com “gordas” emendas parlamentares e, assim, aprovar a reforma previdenciária. Bom, não há mais recursos. Sem dinheiro no bolso, os parlamentares não votarão a favor da mencionada reforma. O mercado financeiro está se fazendo de desentendido—a felicidade é ter o Michel Temer como presidente é tão grande que Ele [O Senhor Mercado] está evitando pensar num fracasso.
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A agenda neoliberal agrada ao mercado
Bom, a ideia inicial era dividir a análise em duas partes—econômica e política, mas a última se intrometeu na primeira e eu acabei falando mais da segunda do que da primeira. Mas, há algo mais a dizer: enquanto os investidores—e vale lembrar que o volume financeiro de estrangeiros vem sendo bastante significativo na conquista de novo topo histórico—aplaudem a agenda neoliberal de um presidente com data marcada para ir para a prisão, a política brasileira ferve, desmorona, humilha e constrange os brasileiros.
Vamos às manchetes policiais: ex-deputado Geddel Vieira Lima guardava R$ 51 milhões em apartamento em Salvador; Eduardo Cunha promete delação bombástica e garante que Michel Temer recebia propinas de múltiplas fontes; ex-presidente Lula, condenado a 9 anos e uns quebrados de prisão, ainda tenta se sustentar politicamente com uma militância paga cada vez mais tímida e com pesquisas encomendadas pela CUT.
Será que vai dar Bolsonaro em 2018? Quanto mais o PT é PT, mais o deputado mencionado tem chances de vitória.
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Palpites que animam o mercado
Assim, diante de tudo isso, por qual razão o mercado acionário brasileiro continua flertando com máximas históricas? Recentemente eu li “The Crash of 1929” de John Kenneth Galbraith e dois aspectos que o autor aborda me chamam a atenção. Primeiro, que quando o mercado financeiro está em “festa,” ou seja, quando as altas parecem quase inevitáveis e todos os investidores parecem também fadados a lucrar e a enriquecer, ninguém quer ser o “spoiler,” o estraga-prazer que vai desligar as luzes e mandar todo mundo para casa.
O papel de racionalizar a euforia dificilmente será assumido por um chefe de estado, um ministro, um grande investidor ou uma instituição financeira de grande porte. Eles preferem deixar a festa terminar por si só.
Outro aspecto que Galbraith aborda em sua obra é a importância dos “non-business meetings,” que segundo o autor são aqueles encontros envolvendo representantes governamentais e grandes expoentes do setor empresarial de um determinado país no qual nada se decide, nada se esclarece, mas que carrega uma relevância pelo “peso” da foto.
Em outras palavras, os investidores se confortam ao ver tantas figuras importantes juntas pela sensação que algo deve estar sendo feito—mesmo que não existam detalhes do que está realmente sendo feito. Fazendo um paralelo, é justamente disso que o Ibovespa está se alimentando para buscar máximas históricas—de uma sensação que em meio a pior crise política da história brasileira, a economia vai se recuperar e que em 2018 os brasileiros elegerão um presidente pró-mercado. Apenas palpite.