O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu indicar o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti e o servidor de carreira Rodrigo Alves Teixeira para ocuparem cargos de diretores do Banco Central a partir de 2024, disse nesta segunda-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O anúncio foi feito em coletiva de imprensa em Brasília, em que estavam presentes ambos os escolhidos para o BC. No entanto, nenhum deles fez comentários aos jornalistas, uma vez que, segundo Haddad, os indicados esperarão sua sabatina no Senado para fazer pronunciamentos.
Se aprovados pelo Senado, Picchetti substituirá Fernanda Guardado na diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e Teixeira entrará no lugar de Mauricio Moura na diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Os mandatos de Guardado e Moura se encerram em 31 de dezembro.
Próximo a Haddad, Picchetti é doutor em economia pela Universidade de Illinois (Estados Unidos) e atua como professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP). Ele tem estudos publicados no site do Banco Central que tratam de expectativas de inflação e modelos para medir a evolução de preços.
Teixeira, por sua vez, é doutor em economia pela USP e servidor do Banco Central há 21 anos. Atualmente, é cedido para a Casa Civil da Presidência, com participação em conselhos da Apex Brasil e da Empresa Gestora de Ativos (Emgea). Ele ocupou cargos na prefeitura de São Paulo entre 2013 e 2015, quando Haddad era prefeito da cidade.
Ambos serão indicados formalmente por Lula ainda nesta segunda-feira, disse Haddad.
“(O BC é) uma instituição que se fortalece a cada dia, nossa interlocução tem sido aperfeiçoada ao longo do tempo”, disse Haddad ao anunciar os nomes escolhidos por Lula. “Continuaremos num momento de muita troca de informações, de impressões e conhecimento para o bem do país.
Em julho deste ano, o economista Gabriel Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda, assumiu a diretoria de Política Monetária do Banco Central após ser indicado pelo governo ao cargo. Além dele, o servidor de carreira do BC Ailton Aquino, também indicado pelo governo, ocupou a cadeira de Fiscalização da diretoria do BC.
Os dois indicados passarão por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e por votação no plenário principal da Casa. A nomeação apenas é concretizada se os nomes forem aprovados pelos parlamentares.
Com as nomeações, Lula, que assumiu a Presidência com fortes críticas à atuação do BC, passará a ter quatro indicados entre os nove componentes do colegiado, em meio a um ambiente de deterioração do cenário externo que tem levado o mercado a projetar a necessidade de um endurecimento da política monetária.
Os dois diretores em fim de mandato fazem parte do grupo que defendeu uma postura mais rígida do BC, votando por uma redução menor da taxa Selic na reunião de agosto do Copom, quando foram iniciados os cortes de juros.
Como mostrou a Reuters, o governo trabalhava para que os novos indicados ao BC fossem definidos com celeridade e aprovados pelo Congresso ainda neste ano para que a gestão de Lula tenha mais dois nomeados no comando da autarquia já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2024, em janeiro.
Para isso, eles precisarão ser aprovados pelo Senado antes do recesso parlamentar, que vai de 23 de dezembro a primeiro de fevereiro. A primeira reunião do Copom do próximo ano está marcada para 30 e 31 de janeiro.
À medida que os indicadas por Lula ganhem mais espaço no Copom, agentes de mercado analisam se a autoridade monetária pode se tornar mais leniente no combate à inflação — uma percepção que as próprias comunicações oficiais do BC admitiram que pode estar atrapalhando a ancoragem das expectativas de inflação em relação à meta.
Após deixar os juros parados por quase um ano, o Banco Central adotou um primeiro corte de 0,5 ponto percentual em agosto, repetido na reunião de setembro, o que levou a Selic ao atual patamar de 12,75% ao ano. O BC ainda prevê cortes equivalentes nos próximos meses.
Pela lei de 2021 que concedeu autonomia formal ao BC, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, permanecerá no cargo até dezembro de 2024. Ele assumiu o posto por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula, que criticou o BC pela manutenção dos juros altos para combater a inflação, terá a maioria de indicados no colegiado após a saída de Campos Neto.