O economista liberal argentino Javier Milei tomou posse como presidente do país neste domingo, em uma mudança brusca para o país sul-americano, que busca uma solução radical para a pior crise econômica das últimas décadas e para a inflação que se aproxima rapidamente dos 200%.
Milei, de 53 anos, ex-jornalista de TV que alcançou a fama com tiradas cheias de palavrões contra rivais, a China e o papa, recebeu a faixa presidencial do peronista Alberto Fernández em um Congresso lotado, com multidões reunidas do lado de fora.
O “outsider” de cabelos selvagens representa uma grande aposta para a Argentina: seu plano econômico de terapia de choque com cortes acentuados de gastos foi bem aceito pelos investidores e poderia estabilizar a economia em dificuldades, mas corre o risco de empurrar mais pessoas para a miséria, num momento em que mais de dois quintos da população já estão na pobreza.
Entretanto, os eleitores que levaram Milei à vitória em um segundo turno em novembro contra um candidato da coalizão peronista no poder disseram que estavam dispostos a arriscar suas chances comas ideias, às vezes radicais, de Milei, que incluem o fechamento do banco central e a dolarização da economia.
“Ele é a última esperança que nos resta”, disse o médico Marcelo Altamira, de 72 anos, que criticou os governos “inúteis e ineptos” por anos de crises econômicas. O governo peronista que está saindo, segundo ele, “destruiu o país”.
Os desafios são enormes. As reservas líquidas de moeda estrangeira da Argentina são estimadas em 10 bilhões de dólares no vermelho, a inflação anual é de 143% e está aumentando, uma recessão está próxima e os controles de capital distorcem a taxa de câmbio.
A Argentina passou por ciclos de expansão e recessão durante décadas, com impressão de dinheiro para financiar déficits regulares, alimentando a inflação e enfraquecendo o peso.
Isso se agravou nos últimos anos, pois as reservas diminuíram com uma grande seca no início deste ano, que atingiu as principais culturas de soja e milho.
O país exportador de grãos precisa renovar um programa de empréstimos de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto Milei precisa manter os laços com importantes parceiros comerciais, China e Brasil, que ele criticou durante a campanha.