Home Economia e Política PF faz buscas contra Ramagem em operação sobre espionagem ilegal pela Abin no governo Bolsonaro

PF faz buscas contra Ramagem em operação sobre espionagem ilegal pela Abin no governo Bolsonaro

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que a operação da PF desta quinta é "uma perseguição" devido à ligação de Ramagem com Bolsonaro

by Reuters
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O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi alvo de mandados de busca e apreensão, nesta quinta-feira, no âmbito de uma operação deflagrada pela Polícia Federal que investiga o monitoramento ilegal de cidadãos pelo órgão durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Diferentes endereços de Ramagem, inclusive o gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados, estão entre os locais que foram alvos das medidas de busca e apreensão por parte da PF, relataram à Reuters fontes com conhecimento da operação.

Segundo nota da PF, foram realizadas no total 21 medidas de busca a apreensão, além de outras medidas que incluem prisões, em Brasília, Juiz de Fora (MG), São João del Rei (MG) e Rio de Janeiro. De acordo com a corporação, sete policiais federais são alvos da ação, tendo sido afastados das suas funções.

Ramagem, que se tornou um dos maiores aliados de Bolsonaro, é o nome escolhido pelo ex-presidente para candidatar-se à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições deste ano.

Intimado, Ramagem não depôs à PF nesta quinta.

Procurada pela Reuters, a assessoria de imprensa dele disse que o deputado estava “se inteirando da operação ainda” e iria se posicionar posteriormente. Mais tarde, ele deu entrevista à GloboNews em que negou ter cometido qualquer irregularidade.

Agora que tive acesso ao parecer do MP e a decisão judicial o que nós vemos é uma salada de narrativas, inclusive antigas, já superadas, colocadas para imputar negativamente, criminalmente, o nome da gente sem qualquer conjunto probatório, disse ele.

Um representante de Bolsonaro não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a operação.

(Imagem: Reprodução/Tomaz Silva/Agência Brasil)
(Imagem: Reprodução/Tomaz Silva/Agência Brasil)

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que a operação da PF desta quinta é “uma perseguição” devido à ligação de Ramagem com Bolsonaro. “Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”, disse o político na plataforma de rede social X, antigo Twitter.

A ação, deflagrada com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, é a continuação da operação Última Milha, de outubro do ano passado, em que a PF investigou o uso ilegal pela Abin de um software para espionar autoridades públicas e pessoas comuns.

“As provas obtidas a partir das diligências executadas pela Polícia Federal à época indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”, afirmou a PF.

Alvos

O despacho de Moraes apontou que a estrutura paralela montada na Abin monitorou ao menos três ministros do Supremo o próprio Moraes, Edson Fachin e Gilmar Mendes, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e até uma promotora de Justiça que investigava o assassinato da vereadora Marielle Franco.

Na entrevista à GloboNews, Ramagem rejeitou as acusações e disse que trabalhou para organizar a agência. Ele chegou a chamar o órgão que comandou de “bagunça” pelo uso da ferramenta de geolocalização — embora tenha ressaltado que em nenhuma operação do planejamento ela foi utilizada.

Ainda assim, citou que o programa foi comprado em 2018, antes da sua gestão, mas seu uso era considerado legal por órgãos de controle.

O deputado defendeu ainda a legalidade da Abin, que está subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, de verificar situações que envolvem os filhos de Bolsonaro e que o caso envolvendo a promotora do caso Marielle se trata de um trabalho de coleta de dados natural de um órgão de inteligência, ainda que tenha considerado não haver a sua época uma “organização de procedimentos” na agência.

Ainda segundo a decisão de Moraes, a Abin também foi utilizada para “fins ilícitos” para a preparação de relatórios para a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente que foi alvo de investigações da PF.

Também foram usados os serviços da agência para interferir em investigações e fazer prova a favor de Jair Renan Bolsonaro, outro filho do ex-presidente.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse ser mentira que a Abin tenha atuado para favorecê-lo.

“Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”, disse.

Jair Bolsonaro
(Imagem: Jair Messias Bolsonaro)

“Minha vida foi virada do avesso por quase cinco anos e nada foi encontrado, sendo a investigação arquivada pelos tribunais superiores com teses tão somente jurídicas, conforme amplamente divulgado pela grande mídia”, reforçou ele.

Jair Renan não se manifestou num primeiro momento.

Material Apreendido

Na busca e apreensão realizada no apartamento funcional de Ramagem em Brasília, segundo uma fonte, foram recolhidos seis celulares e quatro notebooks.

Um dos telefones e um dos computadores eram da Abin, conforme a fonte, fato que causou estranheza porque Ramagem já tinha se desligado da agência há mais de um ano.

Na entrevista, o parlamentar disse que os equipamentos da Abin que estavam com ele e foram apreendidos eram antigos e que ele considerava que eram da época que estava na PF. Disse que os aparelhos não tinham acesso a qualquer sistema da Abin.

Essa investigação é uma das mais sensíveis para a corporação, mas tem contado com o respaldo da cúpula da instituição e também de Moraes, conforme essa fonte.

A ordem, conforme a fonte, é avançar até descobrir o alcance de toda o esquema de monitoramento paralelo que foi montado na agência.

Na primeira fase da operação, em outubro, foram afastados cinco servidores da Abin, incluindo Paulo Maurício Fortunato Pinto, secretário de planejamento e gestão da Abin e que ocupava o cargo de diretor de operações de inteligência durante o governo anterior.

De acordo com as investigações, o sistema de geolocalização utilizado pela Abin é um software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira.

A rede de telefonia teria sido invadida reiteradas vezes, com a utilização do serviço adquirido com recursos públicos.

O software, chamado First Mile, é produzido pela empresa israelense Cognyte e permite rastrear a localização de uma pessoa a partir de dados transferidos entre seu celular e torres de telecomunicações, e seria capaz de permitir o acompanhamento de até 10 mil pessoas por 12 meses.

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