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Propósito e legado: o que te faz seguir em frente?

by Plataforma Brasil
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Por Carlos Jenezi, especialista em desenvolvimento de produtos e articulista da Plataforma Brasil Editorial.

O que te faz acordar cedo todos os dias e encarar mais um dia de trabalho intenso e estressante?

Muitos pensarão “preciso ganhar a vida, sustentar minha família, ganhar dinheiro”, mas será que é só isso? Fosse somente isso, o que fariam os milionários ainda trabalhando 10, 12 horas por dia muitas vezes? Por mais banal que possa parecer, esse é o tipo de pergunta que poucos de nós fazemos a nós mesmos ao longo de nossas vidas.

Por que tenho o trabalho que tenho? Por que faço o que faço? O que me move e me faz seguir em frente?

Encontrar um propósito para a vida tem sido um dos temas sobre o qual mais tenho refletido ultimamente, justamente por perceber que, durante algum tempo, não tive nenhum. Claro que sustentar a si mesmo e a família, dar uma vida confortável aos seus e proporcionar uma educação de excelência aos filhos é por si só algo nobre e louvável, mas será que não falta algo?

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Se sairmos brevemente do tema trabalho, a angústia permanece. O que nos faz ler livros, aprender novos idiomas, fazer dieta, comprar roupas da moda ou terminar um relacionamento? Muitos dirão que “essa é a busca pela felicidade”. Outros apenas pensarão “não sei, apenas vou vivendo”.

Acredito que para esse tipo de tema, não exista certo e errado. No entanto, encontrar alguns “porquês” pode nos ajudar na jornada (que todos esperamos, seja longeva) que é a vida em si.

Tenho visto muitas pessoas de meia idade deprimidas justamente por terem chegado nessa etapa da vida sem encontrar nela algum sentido, alguma motivação.

São pessoas que passaram seus dias apenas vivendo, criando os filhos, trabalhando, e que no momento em que os filhos se vão e a aposentadoria chega, não encontram mais motivos para acordar de manhã e seguir em frente.

Por outro lado, também tenho visto muitos jovens cuja força motriz para o dia a dia nada mais é do que chegar o quanto antes ao período em que irão se aposentar para então não precisar “fazer mais nada”.  É obviamente um caminho perigoso.

Podemos pensar em muitas teorias capazes de nos ajudar a encontrar algumas respostas, como a filosofia, por exemplo. Uma referência no tema é Sartre, cujo busca no sentido da vida resultou em partes importantes de sua obra, como por exemplo em “O Existencialismo é Um Humanismo”:

“Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido”, resume Sartre. Trata-se de uma visão um tanto quanto perturbadora, mas seu incômodo vem justamente da sua crua e precisa veracidade.

Outro especialista no tema é o filósofo e professor Clóvis de Barros Filho, cuja obra “A vida Que Vale a Pena Ser Vivida” decorre justamente sobre o tema, trazendo um pouco mais de perguntas sobre o assunto, ainda que muitas poucas respostas (como é de se esperar).

Segundo o autor, “o dilema de escolher a própria vida é o grande motor do pensamento filosófico. As indagações constantes do ser humano em relação a sua felicidade se devem, principalmente, à responsabilidade que assumimos ao escolher alguns caminhos e abdicar de outros”.

Eis aí o ponto fundamental: nossas escolhas. Buscar sentido na própria vida e lançar-se intensamente nos caminhos escolhidos é, a meu ver, uma boa maneira de chegar ao fim da jornada com uma enorme sensação de dever cumprido, seja ele qual for. Mas, se por um lado o diagnóstico parece simples, a implementação esbarra em questões bastante objetivas.

Talvez seja fácil para um médico ou um bombeiro achar sentido para suas vidas e encontrar motivos para seguir em frente, como melhorar a saúde das pessoas e salvar vidas. Contudo, como fica o assistente administrativo de um escritório qualquer? A pessoa que opera máquinas na construção civil? Uma secretária?

Podemos subir na hierarquia e encontrar as mesmas indagações. Um gerente de TI de uma fábrica de refrigerante? Um operador de Bolsa de Valores? Qual o sentido de suas atividades? Fazer com que mais pessoas tomem refrigerante? Deixar investidores mais ricos do que já são?

Certas atividades podem parecer pouco nobres para muitos de nós; e o que é pior, para as próprias pessoas que as executam. O abatimento e os questionamentos certamente virão com o tempo, quando o “sucesso” já tiver sido obtido e a busca pelo dinheiro já tiver sido resolvida.

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Encontrar seu papel na sociedade e manter-se ativo com projetos que lhe façam sentido é a melhor forma de continuar seguindo em frente. Sim, operadores de máquinas são importantes, pois máquinas garantem que produtos sejam produzidos e vendidos, que a economia gire, que pessoas tenham emprego, que impostos sejam pagos e que governos proporcionem um país mais desenvolvido para todos.

Milionários continuam trabalhando muitas horas por dia para que possam, sim, ficar ainda mais ricos, mas também pelo desafio pessoal de fazer melhor a cada dia, de produzir mais, de serem melhores exemplos para seus filhos e para a sociedade. Trabalham para construir um legado.

Deixando de lado as raras personalidades cujo legado mudou toda uma sociedade, o resto de nós deveria buscar seu próprio legado, sua herança para o mundo. Pode ser algo simples, algo até prosaico, mas algo que impacte o seu mundo, seu pequeno mundo, sua família, seus amigos, aqueles que, mesmo fortuitamente, passaram em algum momento por suas vidas.

Não precisamos nos fixar em projetos grandiosos e mirabolantes. A sociedade precisa de coisas bastante simples na maioria das vezes, valores raros hoje em dia como honestidade, profissionalismo, caráter, politização, entre tantos outros.

O que falta ao seu redor e que você tem de sobra pra oferecer? Este talvez seja o questionamento certo para um bom começo.

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