Rafael comenta: “Navarro, tanto eu como minha esposa viemos de famílias simples e com poucos recursos financeiros. Hoje temos dois filhos e proporcionamos um ótimo padrão de vida para a família, mas tem um problema: somos menos felizes do que antes. Quanto mais eu luto para dar melhores condições de conforto e segurança para eles, mais confusão vejo dentro de casa. Trabalho muito para sustentar isso, mas eles parecem satisfeitos, pois se queixam de que não tenho tempo para eles. Estou confuso e não sei se vale a pena tanto esforço para uma vida financeiramente melhor. Obrigado”.
Casos como este do Rafael parecem estar aumentando. Ao menos, tenho recebido muitos comentários semelhantes. Vou compartilhar com você, leitor do Dinheirama, algumas coisas que poderão te ajudar com isso.
Muitas opções
Você já percebeu a quantidade de escolhas que fazemos todos os dias? São muitas, não é mesmo? Sempre que você fizer uma escolha, estará automaticamente abrindo mão de várias outras possibilidades – algo desafiador, principalmente se considerarmos a enorme quantidade de opções que temos à nossa disposição, neste mundo cada vez mais conectado.
Digo isso porque depois da internet, passamos a conhecer com facilidade o estilo de vida das pessoas ao redor do mundo, e isso fez com que tivéssemos acesso a muito mais opções ou modos de fazer as coisas. Ao vislumbrar novas possibilidades de ser e ter, nosso leque de escolhas (e frustrações) aumentou drasticamente.
Liberdade e responsabilidade
Nós temos liberdade para fazer nossas escolhas, mas também somos responsáveis pelos caminhos que seguimos em nossa vida e, principalmente, pelas consequências de nossas decisões (e essa é a beleza da coisa toda).
Para sermos realmente livres, é fundamental que estejamos em paz com as nossas decisões, o que na prática significa tomar as melhores decisões possíveis para nosso contexto (não existe certo e errado, como eu já disse neste outro artigo, existe agir e lidar com o que virá depois disso).
Como escolher e se sentir mais livre e feliz?
Esta é uma importante pergunta, e a sua resposta está dentro de cada um de nós; está principalmente em nossos valores. Eles são como um GPS: são os princípios que nos orientam para tomarmos melhores decisões e agirmos em função delas. Observe que quando fazemos nossas escolhas, estamos mostrando para o mundo quais são os nossos valores e princípios (ou a falta deles quando tentarmos ser quem não somos).
O que tem valor para você?
Recorri ao dicionário e encontrei alguns significados para palavra valor: “preço; medida de riqueza; intensidade relativa; qualificação; apreciação da importância de um bem; e apreciação que revela as preferências de uma pessoa” (gosto particularmente desta última).
Dá para perceber que valor é algo relativo, subjetivo e que depende das referências e experiências sociais de cada um. Questões como família, amigos, cultura e religião têm um peso enorme na definição de valores, o que consequentemente influencia as prioridades. Valores e prioridades são os pilares da educação financeira.
Seus valores e as suas finanças
Mas o que isso tudo tem que ver com as suas finanças? Se você olhar para os seus valores e também para quais deles são mais importantes para você (as prioridades nascem aqui), você terá condições de tomar decisões financeiras mais conscientes e que estejam alinhadas com os seus valores.
Vamos agora a um exemplo (clássico) para fecharmos o raciocínio. Havia um indivíduo que estava seriamente endividado. Ao ser questionado sobre qual era o seu principal valor e sua prioridade, ele respondeu ser a sua família.
Poucos meses antes, no entanto, ele comprou um carro de luxo que custava mais do que ele podia pagar no momento. Ele fez um financiamento e, para pagar as prestações, ele precisou dobrar sua carga de trabalho.
Com isso, ele não tinha mais tempo para estar com sua família e, quando estavam juntos, os momentos eram de tensão e confusão por causa das dívidas e da pressão para pagá-las. A impressão de fora é de que a família tinha sucesso e muito conforto, mas essa é sempre uma visão superficial e perigosa.
A escolha de comprar o carro novo acabou distanciando o pai de família daquilo que ele disse ser o mais importante para ele, e isso é muito comum. Quando ele finalmente reconheceu que tomou uma decisão que estava desalinhada com seus valores, ele corrigiu seu erro: trocou o carro por outro mais simples, quitou suas dívidas e melhorou sua qualidade de vida com a família.
Um diálogo inspirador sobre status
Recebi um texto pelo celular que ilustra bem o raciocínio em torno de valores, prioridades e riqueza. Infelizmente, não sei quem é o(a) autor(a) para dar os devidos créditos. Veja que fantástico:
Um dia, um pai de família rica, grande empresário, levou seu filho para viajar até um lugarejo com o firme propósito de mostrar o quanto as pessoas podem ser pobres. O objetivo era convencer o filho da necessidade de valorizar os bens materiais que possuía, o status, o prestígio social; o pai queria desde cedo passar esses valores para seu herdeiro.
Eles ficaram um dia e uma noite numa pequena casa de taipa, de um morador da fazenda de seu primo. Quando retornavam da viagem, o pai perguntou ao filho:
– E aí, filhão, como foi a viagem para você?
– Muito boa, papai.
– Você viu a diferença entre viver com riqueza e viver na pobreza?
– Sim, pai! – Retrucou o filho, pensativo.
– E o que você aprendeu com tudo o que viu naquele lugar tão paupérrimo?
O menino respondeu: – É pai, eu vi que nós temos só um cachorro em casa, e eles têm quatro. E continuou: – Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim, eles têm um riacho que não tem fim. Nós temos uma varanda coberta e iluminada com lâmpadas fluorescentes e eles têm as estrelas e a lua no céu. Nosso quintal vai até o portão de entrada e eles têm uma floresta inteirinha. Nós temos alguns canários em uma gaiola eles têm todas as aves que a natureza pode oferecer-lhes, soltas!
O filho suspirou e continuou: – E além do mais papai, observei que eles oram antes de qualquer refeição, enquanto que nós em casa, sentamos à mesa falando de negócios, dólar, eventos sociais, daí comemos, empurramos o prato e pronto!
E ainda disse mais: – No quarto onde fui dormir com o Tonho, passei vergonha, pois não sabia sequer orar, enquanto que ele se ajoelhou e agradeceu a Deus por tudo, inclusive a nossa visita na casa deles. Lá em casa, vamos para o quarto, deitamos, assistimos televisão e dormimos. Outra coisa, papai, dormi na rede do Tonho, enquanto que ele dormiu no chão, pois não havia uma rede para cada um de nós. Na nossa casa colocamos a Maristela, nossa empregada, para dormir naquele quarto onde guardamos entulhos, sem nenhum conforto, apesar de termos camas macias e cheirosas sobrando.
Conforme o garoto falava, seu pai ficava estupefato, sem graça e envergonhado.
O filho, na sua sábia ingenuidade e no seu brilhante desabafo, levantou-se, abraçou o pai e ainda acrescentou: – Obrigado papai, por me haver mostrado o quanto nós somos pobres!
Moral da história: não é o que você tem, onde está ou o que faz que determina a sua felicidade, mas o que você pensa e faz a respeito disso. Tudo o que você tem depende da maneira como você olha, da maneira como você valoriza. Se você tem amor e sobrevive nesta vida com dignidade, tem atitudes positivas e partilha com benevolência suas coisas, então você tem tudo! Se você só tem dinheiro e coisas, então não tem nada!
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Conclusão
Quando não temos consciência dos nossos valores e não os traduzimos em prioridades, terminamos fazendo nossas escolhas baseadas nos valores e expectativas dos outros (status). No exemplo que citei, desejar um carro de luxo não é um problema, desde que isso esteja alinhado com os seus valores e seja uma decisão consciente e possível.
Portanto, tenha cuidado com as decisões impulsivas, motivadas pelo o que os outros fazem, pela moda, para ter aceitação de um grupo ou aquelas estimuladas pelas propagandas. Sempre decida de forma consciente, refletindo sobre seus valores, prioridades e o impacto da escolha sobre elas.