Na última semana, durante um bate-papo com amigos, o assunto que tomou espaço foi a forma como algumas pessoas lidam com as redes sociais. O comentário foi de que em seus perfis ninguém de fato mostra a sua vida como ela é, mas como gostaria que fosse.
Atendo-me ao tema de nosso interesse neste espaço, observei que quem tem problemas financeiros muitas vezes acaba criando um personagem fictício em seus perfis virtuais, alguém que só demonstra felicidade e ostenta o melhor da vida.
Confesso que nunca havia pensado a fundo na questão, mas durante nossa conversa entendi que seria um ótimo tema para um texto. Vou compartilhar algumas ideias por aqui e a partir delas abrir mais uma discussão. Gostaria muito de saber a sua opinião sobre o assunto.
Redes Sociais e status, uma combinação perigosa para o bolso
Existe um grande mal que faz parte de nossa sociedade e que sempre se renova: a necessidade e a pressão para ter e ostentar cada vez mais. Se não bastasse ter, é necessário ter o melhor (mais caro e mais moderno) e, ainda por cima, exibir tais “conquistas”.
E que lugar é mais apropriado para tanta qualidade de vida artificial e ostentação do que as redes sociais? Navegando por determinados perfis, é clara a intenção de mostrar-se absolutamente diferente da realidade.
Em 2007, ainda no começo do Dinheirama, o Conrado Navarro escreveu o texto “Ego, Dinheiro e Status? Cuidado!”, em que trouxe um ponto de vista muito interessante sobre o assunto, acompanhe um trecho do texto muito relevante:
“Status é importante? Claro que é. Como sabem, odeio hipocrisia. O ser humano é movido por muitas forças e uma delas é o ego. Sim, o ego. Status é bacana, fala sério! Quem não quer ser reconhecido, ser tido como uma referência, ser respeitado, comentado? Todos queremos. Eu quero.
O problema está em fazer dessa necessidade um projeto de vida, viver em função do status. Desfrutá-lo depois de um merecido esforço é uma coisa, criar um status artificial é outra. Ter dinheiro não tem nada a ver com ter status, embora muitos façam essa perigosa associação. Sinto desapontá-los, mas status é muito mais que isso”.
Leitura sugerida: Ego, Dinheiro e Status? Cuidado!
Só o ego pode te fazer uma pessoa pior
A verdade é que as redes sociais e a exposição característica de uma vida desejada serve como uma fuga da realidade, uma tentativa de diminuir o sofrimento com a vida real e seus inúmeros problemas e desafios.
Essa tentativa de fuga pode ser muito cruel, tanto para si como para os outros, já que alimenta a necessidade de ostentar, infla o ego e desperta inveja. O sapato, o carro e o celular novo que estão exibidos nas fotos não retratam, em boa parte dos casos, a real situação das pessoas.
Como acontece com muita gente e (quase um traço cultural por aqui), há nas redes sociais uma exploração da característica de não admitir as dificuldades, fingindo e se escondendo atrás de uma realidade que não existe. Alguém precisa pagar a conta (salgada!).
Ao começar essa reflexão sobre a ostentação que existe em boa parte dos perfis, também percebi que parece existir uma disputa, uma competição entre amigos tipo “quem tem mais e melhor”. Uma espécie de avaliação de quem pode mais, ainda que “só” na Internet.
Leitura sugerida: Status: suas festas precisam ser melhores que as do vizinho?
A educação financeira pode te fazer uma pessoa melhor
Posso parecer chato ao abordar esse assunto, afinal sei que a Internet é, para muita gente, um mundo à parte, um lugar de diversão e de acontecimentos distantes da realidade. Apesar de achar a visão muito simplista e ingênua, respeito quem pensa dessa forma.
No entanto, como alguém que gosta de observar o comportamento das pessoas, me vejo em condições de fazer uma análise crítica dessa situação. É simples: para manter um status artificial na Internet, muita gente acaba partindo para decisões precipitadas e que conduzem ao endividamento.
Um bem de alto valor comprado sem reais condições, usando linhas de crédito com juros altos, é sinônimo de muitos problemas, e problemas bem reais, difíceis de resolver aqui do lado de fora do monitor.
Dentro desse contexto, a educação financeira é grande aliada das pessoas porque age justamente no cerne do problema: só através do consumo consciente é possível construir uma relação duradoura e sustentável com as finanças. Ou seja, não se trata de dinheiro, mas de prioridades de vida e escolhas.
Via de regra, a ostentação demonstrada nas redes sócias mais prejudica que beneficia o indivíduo que opta por essa estratégia. Ao esconder uma realidade desagradável, isso acaba se tornando um problema difícil de admitir e enfrentar; é fácil acreditar na vida criada online e defendê-la, quando o certo seria lembrar do que acontece, de fato, no mundo real.
Porque, convenhamos, não somos apenas o que publicamos; somos quem somos. Redes sociais, no meu entender, são plataformas, ferramentas de comunicação e interatividade, não um trampolim para o Mundo Encantado dos Prazeres Realizados. O que você pensa disso tudo? Registre sua opinião no espaço de comentários. Obrigado.