Juliano comenta: “Navarro, vi por ai que 2008 pode ser um ano de menor força para a Bovespa e que, ao mesmo tempo, aplicações como os títulos públicos, fundos multimercado e até a boa e velha caderneta de poupança renderão mais que alguns produtos comuns como os fundos referenciados DI e de renda fixa. Até que ponto isso é verdade? Quais devem ser nossos focos de atenção para tais comentários e para o ano de 2008? Obrigado.”
Juliano, obrigado pela visita. Percebemos, em decorrência do fantasma de recessão que ronda os Estados Unidos, que o começo de ano foi bastante movimentado para o mercado de capitais e para a economia mundial em geral. Essa tensão reflete-se nas alternativas de investimento disponíveis que, como você bem disse, não podem ser ignoradas. O momento exige atenção aos aspectos ligados à economia internacional, mas também exige que nos preocupemos com a inflação e as taxas de administração cobradas por diversos produtos financeiros locais.
De tudo que li e acompanho sobre o ano que finalmente começa (lembre-se que o Carnaval já ficou para trás), tenho trabalhado com algumas variáveis mais relevantes e que exploro neste artigo: Bolsa em recuperação, temor de inflação, Selic estacionada e a opção sempre interessante pela caderneta de poupança.
Bovespa retoma vigor
Já dedicamos alguns artigos ao universo acionário de 2008, assim prefiro apenas manter minha opinião e recomendação: as ações são uma ótima alternativa de poupança de longo prazo. Este ano será marcado por grande volatilidade, mas acredito que os resultados finais serão de variação positiva. Os ganhos, no entanto, não devem ultrapassar as marcas registradas no ano passado. Vale lembrar também que o ingresso cada vez maior de investidores nesse mercado reforça sua importância para o país.
Medo da inflação e a Selic estacionada
Depois de quatro anos de quedas consecutivos, vimos a inflação subir novamente em 2007. Nada que se compare aos períodos críticos de mega ou hiperinflação, mas algo que representa um quadro de preocupação para as finanças pessoais. O IPCA, índice adotado pelo governo, fechou 2007 muito próximo da meta, de 4,5%, estipulada pelo Banco Central (BC), atingindo 4,46%. Acredita-se que não deva haver queda e já se cogita a possibilidade de estourarmos a meta este ano, também fechada em 4,5%.
Com a constante tensão observada diante da possível alta da inflação, o BC já sinalizou que deverá passar grande parte do ano sem mexer na nossa taxa básica de juros. É bem verdade que uma inflação mais alta que a de 2007 pode levar o Copom ao aumento dos juros. Essa eventual alta da taxa pode encarecer os custos de captação das empresas e segurar um pouco o consumo e a compra de bens duráveis, como imóveis e veículos.
Por que isso afeta o seu bolso?
Os alimentos tiveram grande alta no ano passado e parece que este ano será a vez dos serviços. Os contratos de prestação de serviço normalmente são reajustados pelo IGP-M, índice de preços que subiu quase 8% no ano passado. Isso significa que valores de aluguéis, serviços médicos e preços administrados em parte pelo governo (energia, água e gás) poderão subir ao longo de 2008. Alexandre Schwartzman disse recentemente à revista EXAME que:
“Os momentos mais críticos serão no segundo e no terceiro trimestre, quando teremos uma noção mais clara da inflação e da atividade industrial, que está bastante aquecida”
Sobre a Selic, Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, completa:
“Acabou a era da paulada nos juros. A volatilidade na Selic é menor hoje. O país mudou e a crise [norte-americana] terá pouca influência sobre a inflação e os juros”
A poupança na mira dos investidores
No universo dos investimentos, com o possível aumento da Selic, muitos investidores voltam a olhar com carinho para os produtos de renda fixa, títulos públicos e fundos referenciados. Vale lembrar que o Brasil ainda possui uma das taxas de juros mais altas do mundo, o que nos remete a excelentes rentabilidades líquidas, neste segmento, que variam de 7% a 10%. Como esse retorno vem acompanhado de baixíssimo risco, fica fácil entender porque a alternativa é tão atraente.
A dica aqui fica por conta da matemática que envolve as taxas de administração de alguns produtos financeiros oferecidos pelo mercado. Fundos que cobram taxas de administração iguais ou superiores a 2,5% dificilmente serão mais rentáveis, no curto e médio prazos, que a boa e velha caderneta de poupança.
Nos últimos seis meses, quem investiu R$ 10 mil na poupança conseguiu um rendimento de R$ 360 reais. A média de um fundo referenciado DI, com taxa de 2,5% a.a., foi de R$ 319,00 no mesmo período. Lembre-se que estamos falando de rentabilidade líquida, ou seja, percentual final descontados imposto de renda e taxa de administração.
As dicas e opiniões deste artigo não são verdade absoluta. Nem pretendem ser. Tudo que quero dizer é: esteja sempre atento aos produtos que escolhe para investir seu dinheiro e com as guinadas da economia. Leia os prospectos e faça algumas contas básicas. Muitas vezes você não precisa de produtos sofisticados ou de muita matemática financeira. Pode ser que a poupança resolva. Pode ser que não.
Crédito da foto para Marcio Eugenio.