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Responsabilidades do investidor diante dos juros baixos

by Conrado Navarro
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Responsabilidades do investidor diante dos juros baixosAnderson comenta: “Navarro, não parece que a queda da Selic vai se transformar em benefícios ao tomador de crédito, afinal o spread continua alto. No entanto, parece que os bancos já estão se mexendo para evitar que correntistas e investidores migrem seus recursos para a poupança. E, claro, para que mantenham seus investimentos em produtos com taxa de administração (ainda que menor). Devemos prestar atenção a este movimento? Parabéns pelo blog. Obrigado”.

As sucessivas quedas dos juros básicos da economia (taxa Selic) e seu atual patamar de um dígito – nível mais baixo da história – sugerem que consumidores e empresas terão benefícios importantes ao tomar dinheiro[bb] emprestado. Bom, assim deveria ser. Com a justificativa (plausível, é verdade) de que a inadimplência ainda está em níveis elevados, bancos e instituições financeiras pouco fazem para diminuir o famoso spread – diferença média entre quanto o banco paga pelo dinheiro e por quanto ele o empresta. Há queda, mas em ritmo muito menor do que o da taxa Selic.

Tomar dinheiro emprestado requer cautela e muita pesquisa, já que cenários econômicos favoráveis tornam a concorrência mais acirrada. Os bancos estatais lidam com a missão declarada de forçar a queda dos juros dos empréstimos e financiamentos, ao mesmo tempo em que tentam se manter lucrativos e bem administrados. A verdade é que reflexos mais incisivos da forte queda dos juros básicos só serão vistos no decorrer do ano ou em anos seguintes, se a tendência se confirmar – o que é discutível, já que 2010 é um ano de eleição presidencial. Mas como fica a Selic para quem recebe juros e investe?

O outro lado da história
Se pouco muda para quem deseja tomar dinheiro emprestado, muito se modifica a questão dos investimentos[bb]. Quem vê na multiplicação de seu capital a porta para realizar seus objetivos e garantir um futuro melhor deve prestar muita atenção às sucessivas quedas da Selic. A popularização dos fundos DI e de renda fixa em geral, decorrente dos altos retornos sem risco e da agressiva estratégia dos bancos, deve ser questionada. Produtos conservadores e que sustentam características do passado hoje podem render muito pouco.

Até então era natural encontrar produtos acessíveis, com aporte inicial exigido relativamente baixo, cujas taxas de administração ficavam entre 2,5% e 4%. Fundos cujos aportes iniciais exigidos eram mais altos ofereciam taxas de administração mais interessantes, da ordem de 2% ou pouco menos. Com a Selic em 8,75% ao ano, produtos com essas características apresentam rendimento líquido menor que o da caderneta de poupança – cabe lembrar que nos fundos de renda fixa existe incidência de Imposto de Renda semestral (come cotas) e no ato do resgate.

Como garantir a competitividade?
Os bancos e instituições financeiras já começaram a mexer em seus produtos conservadores, mudando principalmente o valor do aporte inicial de produtos cujas taxas de administração são mais baixas. Poucos optaram por diminuir a própria taxa de administração, o que representaria perda imediata de arrecadação para os cofres das instituições, como explica o jornalista Fabricio Vieira em reportagem da Folha de S. Paulo de 20 de julho:

“Para analistas consultados, as medidas tomadas foram mais interessantes para os bancos do que se eles simplesmente tivessem baixado as taxas cobradas em todos os fundos. A simples redução das taxas de administração dos fundos significaria perda imediata e global para as instituições. Já as possíveis perdas com os ganhos das taxas decorrentes das alterações tomadas vão ocorrer apenas se os clientes decidirem mudar de aplicação”

Investidor, atenção redobrada!
Se você já é cliente de um grande banco e tem seu dinheiro investido em um produto de renda fixa conservador, procure visitar o gerente e discuta a situação atual de seu patrimônio:

  • A taxa de administração do fundo continua a mesma? Discuta as mudanças econômicas apresentadas neste texto com o objetivo de entender as ações do banco diante da queda da Selic. Procure compreender o que os gestores da instituição estão fazendo para manter as aplicações competitivas;
  • Há algum produto semelhante, adequado ao seu perfil e que ofereça taxa de administração mais interessante? Seu produto pode não ter sofrido alteração, mas outro sim. Agora é possível achar um fundo com taxa de administração menor – e que antes exigia aportes altos – com novos limites para o investimento inicial. Acesse o site do banco, pesquise os produtos e estabeleça um diálogo capaz de colocar à sua disposição novas oportunidades de investimento;
  • Será que vale a pena migrar parte do capital ancorado em renda fixa para a caderneta de poupança? A resposta passa por uma importante avaliação matemática, já que ao resgatar seu capital do fundo de renda fixa você terá que pagar IR. Faça bem as contas, mas não deixe de considerar esta possibilidade;
  • Você já pensou na possibilidade de investir com mais arrojo? Pode ser hora de definir objetivos e metas de longo prazo e encarar os riscos da renda variável (mercado em ações[bb], por exemplo). Sempre lembrando de não colocar ali capital destinado para acontecimentos de curto prazo e manter ativos uma reserva de emergência e investimentos conservadores, menos arriscados.

Mauro Calil, professor e educador financeiro, deu excelente contribuição para a matéria “Bancos se mexem para evitar fuga de fundo”, publicada pela Folha de S. Paulo no dia 20 de julho:

“Os bancos têm buscado um caminho indireto para reduzir as taxas. O cliente atento, que mudar de aplicação aproveitando as medidas que os bancos têm tomado, conseguirá pagar uma taxa de administração menor para o mesmo montante que tem para aplicar. É normal no mercado que os fundos que exigem maiores aportes dos clientes cobrem taxas menores”

Portanto, caro investidor[bb], a ordem do dia é: pesquise os produtos oferecidos pela instituição onde mantém seu dinheiro aplicado e considere migrar seus recursos. A avaliação constante dos investimentos e do planejamento financeiro é parte da rotina de quem quer tirar o máximo de seu capital. Bons negócios!

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Conrado Navarro
, educador financeiro, tem MBA em Finanças e é mestrando em Produção (Economia e Finanças) pela UNIFEI. Sócio-fundador do Dinheirama, autor do livro “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec),  Navarro atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.

Crédito da foto para stock.xchng.

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