O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse nesta quinta-feira que os recentes desenvolvimentos no cenário cambial e seus possíveis reflexos para a inflação “ligam um alerta para todos os Poderes”, indicando que um retrocesso na questão dos preços pode penalizar a camada mais pobre da população.
“Acho que essa semana a questão do câmbio e o reflexo que isso pode gerar sobre a inflação liga um alerta para todos os Poderes”, disse Ceron em entrevista à GloboNews.
Nesta semana, o dólar (USDBRL) teve uma sequência de ganhos expressivos ante o real, atingindo seu maior valor em mais de um ano.
Na quarta-feira, a moeda norte-americana se aproximou do patamar de 5,27 reais na venda, antes de recuar no dia seguinte e fechar em 5,2445.
Os avanços do dólar no Brasil têm ocorrido em meio ao ganhos generalizados da moeda norte-americana no exterior, com investidores reagindo à perspectiva de juros altos nos Estados Unidos por mais tempo e às tensões no Oriente Médio, além de, localmente, às preocupações com as contas públicas.
Ceron apontou que o cenário externo está “muito estressado” no momento e argumentou que qualquer ruído, seja no exterior ou internamente, pode impactar o câmbio e, em consequência, prejudicar as famílias com uma alta da inflação.
Para evitar uma piora na situação econômica, o secretário defendeu que o país siga no caminho de aprovação de “reformas corretas”, o que garantirá a sustentabilidade do crescimento com uma inflação baixa.
“Retroceder, é muito difícil de entender a razão para isso. Por que nós vamos colocar em risco com o país algo que estamos conquistando com tantos esforços?”, questionou.
Ceron também buscou reafirmar o compromisso da equipe econômica do governo com a recuperação fiscal do país, classificando a postura do Executivo como “inegociável” e pedindo “compactuação entre os Poderes”.
Ele afirmou que compreende pedidos “meritórios” por parte da sociedade e do Congresso para investimentos em determinadas áreas, mas ponderou que o governo não tem espaço para renúncia de receitas ou ampliação de gastos públicos na atual situação fiscal.
No início da semana, ao apresentar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, o governo propôs uma meta de superávit primário zero para o próximo ano, em uma redução do esforço fiscal anunciado anteriormente, e diminuiu o ritmo do ajuste das contas públicas para os anos seguintes.
Ceron indicou que as novas metas fiscais ainda apontam para um “processo desafiador” de ajustes das contas, mas admitiu que o ruído gerado pela alteração dos objetivos trouxe dúvidas sobre o compromisso fiscal do governo.
Taxa Selic e Petrobras
Na entrevista desta quinta-feira, Ceron disse acreditar que ainda há “espaço” para a redução da taxa Selic, atualmente em 10,75%, afirmando que o patamar dos juros no Brasil ainda está elevado e distante da taxa neutra.
No entanto, ele apontou que os “próximos eventos”, tanto no cenário externo como doméstico, podem aumentar a incerteza em relação à economia e forçar o Banco Central a ter “uma outra postura” ao determinar a política monetária.
“Temos muito espaço para reduzir a taxa Selic, tendo as condições para tal. Os próximos eventos contam, seja no ambiente internacional… como também no nosso cenário doméstico”, disse.
O secretário afirmou que a equipe econômica pretende continuar criando as condições para que o BC possa manter os cortes na taxa de juros, defendendo que a sociedade tem um papel importante em apoiar a autarquia em seu processo de afrouxamento monetário.
Questionado sobre a decisão da Petrobras (PETR3; PETR4) em não distribuir dividendos extraordinários a seus acionistas no mês passado, Ceron disse que os dividendos adicionais não estavam na previsão de receitas do governo.
Ele acrescentou que caso haja o repasse desses dividendos, os recursos extras podem ajudar o Ministério da Fazenda na perseguição do déficit zero para este ano ao compensar outras “frustrações” de receita, mas sinalizou que isso deve ocorrer apenas se não impactar o plano de investimento da empresa.
“Sobrou caixa ainda para fazer distribuição depois dos investimentos que estão previstos? Se a conclusão for que sim, têm que ser distribuído de forma natural. Isso traz previsibilidade e segurança a todos os agentes, nós defendemos isso.”