Por Gustavo Chierighini (@GustavoChierigh), fundador da Plataforma Brasil Editorial.
Caro leitor, convido-o a me acompanhar por estas linhas, onde abordarei os reflexos econômicos originados a partir dos arrepiantes sinais de um estado cada vez mais arbitrário. Justiça seja feita, um estado entoado por diversas siglas políticas, de esquerda, de direita e de centro (salvo honrosas exceções, de centro, esquerda e direita). Vamos lá.
Você e o flanelinha
Imagine uma situação ficcional onde você, ao estacionar o carro em uma rua qualquer, seja interpelado pelo flanelinha dizendo que ali o “preço” é de R$ 30,00, sendo que o habitual seria uma gorjeta de valores que variam entre R$ 2,00 e R$ 5,00, a depender de sua generosidade para esta prática já absorvida pelos motoristas de grandes centros urbanos.
Você então questiona se ele, o flanelinha, ao menos se responsabilizaria pela integridade física do seu carro, ficando ali até o seu retorno. Em resposta, ele deixa claro que sairá dali em questão de poucos minutos, e que é bom tomar cuidado no retorno, pois a região é perigosa.
Diante do cenário, em uma fração de segundos e diante de um olhar inquisidor, você precisa tomar uma decisão. Você pensa em diferentes alternativas. Pensa em chamar a polícia, afinal trata-se de um logradouro público onde não cabe este tipo de exploração. Ela não está por perto.
Pensa em argumentar com o flanelinha sobre os seus direitos de cidadão, destacando os impostos pagos regularmente e tantas obrigações com as quais honra pontualmente. Inútil, o olhar inquisidor “e ai, vai ou não vai?” permaneceria e isso só aumentaria a tensão da situação.
Sem saída, com o tempo escasso para mais argumentações e necessitando deixar o carro ali, pois tem algo urgente a resolver, você se resigna, paga antecipadamente os R$ 30,00 e reza para nada acontecer ao seu carro e a você no momento do retorno.
Nossos impostos têm contrapartida?
Sim, uma história absurda, pouco provável de acontecer, mas que, lamentavelmente, ilustra algo recorrente e possível: a relação de nossa sociedade civil com o aparelho do estado. Em princípio, este existe para nos prover serviços e uma existência razoável em troca dos impostos que pagamos, com especial atenção aos cidadãos que apresentam condições econômico-sociais mais debilitadas.
Uma realidade pautada por massacrantes pagamentos e obrigações civis (impostos, regras, proibições e restrições), que, no entanto, não retornam em serviços como segurança, saúde e transporte público de qualidade, e nem mesmo em infraestrutura a altura dos desafios que continuamente se apresentam cada vez mais robustos e complexos.
Neste ano de 2013, o Brasil estará bem próximo de vencer a disputa pelo ranking internacional de arrecadação tributária. No entanto, nosso país ocupa, sem arredar o pé, o último lugar no retorno que oferece aos seus cidadão pelos impostos pagos, segundo uma pesquisa realizada com os trinta países que mais arrecadam no mundo.
A não participação da sociedade traz consequências
Mas a opressão e o arbítrio sempre estão compostos por varias facetas, e estas se multiplicam fertilmente diante de uma sociedade civil desorganizada e desatenta que não sabe impor seus direitos.
A consequência econômica disso? A escala envolvida, impactando em desembolsos duplicados. Afinal, além de pagar os impostos, precisamos adquirir na iniciativa privada os serviços que o estado deveria ter disponibilizado em troca dos impostos. Além disso, vemos efeitos também na competitividade das empresas e na falta de infraestrutura para o crescimento.
O exagero só distorce a relação estado-cidadão
Como cidadão, não posso parar por aqui. Constato que, agora, além de ser reconhecidamente caro e ineficiente (é claro que existem exceções, “sim, eu tenho medo do estado no Brasil”), o aparelho estatal resolveu ser chato também.
A alteração na legislação de trânsito que borda a chamada “Lei Seca”, com tolerância zero ao consumo de álcool para motoristas (a lei anterior já era bem rigorosa e um pouco exagerada na minha modesta opinião) comprovam uma chatice arbitrária sem fim. Um bombom de licor ou o uso de um enxaguante bucal colocando nossa liberdade em risco soa como falta absoluta de bom senso do estado.
Bom senso e envolvimento, só isso!
De forma alguma advogo uma vida civil sem regras, leis e regulamentações. Seria simplesmente impossível de se viver, além de absolutamente anticivilizatório.
O que me chama a atenção neste tipo de iniciativa é a existência de um rolo compressor estatal, pesado e interventor, que importuna o cidadão sem oferecer uma troca compatível, avançando na sua sanha de chateações sem encontrar pela frente um bloqueio cidadão, que traria calibragem e bom senso para as suas ações.
Qual será a próxima restrição? É esperar pra ver. Até o próximo.
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