As taxas dos DIs fecharam em baixa firme, acompanhando o recuo dos rendimentos dos Treasuries, em um dia de ajustes após dados e comentários duros do Federal Reserve sobre inflação, nos dias anteriores, terem favorecido a abertura da curva de juros nos EUA e no Brasil, com a ata do Copom ficando em segundo plano durante a sessão desta terça-feira.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que, em sessões mais recentes, certo estresse tomou conta dos negócios globais, na esteira de dados positivos sobre a economia norte-americana e de declarações de autoridades do Fed, como o chair da instituição, Jerome Powell.
Estes fatores deram força à curva de juros nos EUA, com reflexos no Brasil, em meio à percepção de que o Fed não deve iniciar o ciclo de cortes de juros em março, como vinha sendo precificado.
Nesta terça-feira, porém, os yields dos títulos norte-americanos cederam, com investidores ajustando posições, o que também pesou sobre as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil.
“O mercado de juros brasileiro está mais colado ao exterior. Nos últimos dias, tivemos alguma alta (das taxas) com o Fed mais hawkish (duro com a inflação). Hoje (terça-feira) temos um ajuste, em um dia mais positivo para o risco”, avaliou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Durante a tarde, declarações da presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, reforçaram o otimismo entre os investidores.
Para ela, se a economia dos Estados Unidos tiver o desempenho esperado, isso poderá abrir a porta a cortes na taxa básica de juros. Por outro lado, Mester disse que ainda não está pronta para oferecer qualquer cronograma para uma política monetária menos restritiva.
“O dia foi bem positivo, de bastante apetite ao risco. Os (rendimentos dos) Treasuries estão fechando, as taxas dos DIs estão fechando, as bolsas estão subindo bem e o real está se valorizando”, resumiu Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
O viés de baixa para as taxas futuras, trazido pelo exterior, superou qualquer influência da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, publicada pela manhã.
Isso porque o documento trouxe poucas novidades e manteve a perspectiva de curto prazo mais geral, de que o BC promoverá pelo menos mais dois cortes de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic, em março e maio. Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano.
No documento, o Copom avaliou que o cenário doméstico tem evoluído como o esperado, com um progresso desinflacionário relevante, mas que a incerteza internacional prescreve cautela à política monetária. O BC frisou que ainda há um longo caminho a percorrer no retorno da inflação à meta.
O Copom reiterou que a desancoragem das expectativas de inflação são um fator de preocupação, que requer atuação firme da autoridade monetária.
“Está meio implícito que não dá para ser muito audacioso, porque existem riscos associados. Neste primeiro momento, acho pouco provável o BC ir a 8,5% (com a Selic)”, pontuou o economista-chefe na Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo, ao discutir o nível terminal da taxa básica no atual ciclo de cortes. “Mas não houve surpresa com a ata”, acrescentou.
A curva de juros brasileira seguiu precificando de forma majoritária nesta terça-feira a expectativa de corte de 0,50 ponto percentual da Selic na reunião de março do Copom. As apostas neste sentido estão em 96%. Já a possibilidade de corte de apenas 0,25 ponto percentual está precificada em 4%.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,945%, ante 9,984% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,67%, ante 9,731% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 9,83%, ante 9,9%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,09%, ante 10,159%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,5%, ante 10,574%.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos referência global para decisões de investimento caía 7,40 pontos-base, a 4,0904%.
No Brasil, investidores também seguem acompanhando as articulações entre governo e Congresso em Brasília, na volta do recesso parlamentar.
Na tarde desta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que uma reunião que ele teria com o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), e outros deputados sobre as pautas do governo no novo ano legislativo foi adiada a pedido de Guimarães. O ministro não deu nova data para a reunião.
Pela manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que dados preliminares sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre mostram que o crescimento pode surpreender positivamente no período.