Tropas paramilitares isolaram um assentamento cristão no leste do Paquistão, onde uma multidão muçulmana vandalizou e incendiou várias igrejas e dezenas de casas depois que dois homens que moravam no local foram acusados de profanar o Alcorão, disseram a polícia e testemunhas nesta quinta-feira.
O ataque ocorreu em Jaranwala, no distrito industrial de Faisalabad, na quarta-feira, e continuou por mais de 10 horas sem qualquer intervenção da polícia que estava no local, disseram moradores e líderes comunitários. A polícia negou a acusação, dizendo que as forças de segurança impediram uma situação ainda pior.
A multidão, liderada por clérigos locais, carregava barras de ferro, paus e facas durante o tumulto, exigindo que os dois homens acusados, que haviam fugido de suas casas, fossem entregues a eles.
As tropas isolaram a colônia cristã, bloqueando todos os pontos de entrada e saída com arame farpado, de acordo com um cinegrafista da Reuters TV.
Centenas de cristãos se refugiaram em um distrito próximo, disse o líder comunitário Akmal Bhatti à Reuters, acrescentando que quatro sacerdotes retornaram às igrejas, que ainda estavam queimando.
Ele afirmou que pelo menos 50 casas foram completamente destruídas.
“Os violentos ataques da multidão são apenas a mais recente manifestação da ameaça de violência vigilante que qualquer um pode enfrentar no Paquistão após uma acusação de blasfêmia”, afirmou o grupo de direitos humanos Anistia Internacional em um comunicado.
A polícia prendeu mais de 100 supostos manifestantes, disse o comunicado do governo, acrescentando que um inquérito foi ordenado sobre o incidente.
A blasfêmia é punível com a morte no Paquistão e, embora ninguém jamais tenha sido executado, muitos acusados foram linchados por multidões indignadas.