Cléber comenta: “Navarro, tenho lido bastante sobre os problemas financeiros mundiais, mas a abordagem dos periódicos e principais telejornais brasileiros tem dado destaque maior aos efeitos da crise nos mercados, além da grande repercussão das frases de figuras importantes, como o presidente Lula, o ministro Guido Mantega e o secretário do Tesouro Henry Paulson. A economia real, o cidadão e seu dia-a-dia serão afetados? Confesso, não entendi bem a crise e se ela já tem afetado, por exemplo, o cidadão comum. O que vem por ai?”
Ventos mais calmos têm soprado por aqui e por lá. O mundo viveu uma segunda-feira assustadoramente tranqüila nas bolsas de valores. Aqui, presenciamos o índice Bovespa fechar em alta de 8,36%, seguindo as tendências das bolsas asiáticas, européias e dos Estados Unidos. Alguns bancos já falam em 50 mil pontos para daqui a pouco. Claro, previsões são mecanismos necessários para o planejamento. No entanto, essas mesmas previsões são, muitas vezes, falhas e relativas. Lançar qualquer prognóstico sobre os eventuais efeitos colaterais desta crise não tem funcionado.
Acho positivo o desafio de debater os efeitos reais da crise – aqueles que já estão entre os cidadãos – e que podem influenciar o andar da economia global e o crescimento de países como o Brasil. Por exemplo, não é novidade que a confiança do consumidor caiu: o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) registrou queda de 0,7% no mês de outubro em relação a setembro. Seu valor, 139 pontos, ainda denota otimismo (é maior que 100), mas já coloca a população em alerta.
A crise em quatro passos
Entender o problema financeiro mundial não é uma tarefa fácil. Pois bem, explicá-lo e comentá-lo são desafios ainda maiores. Por isso, concordo que Lula exagerou em algumas de suas declarações, especialmente por se tratar de um presidente tão relevante no cenário internacional. Veja, por exemplo, este trecho de seu discurso em Maputo, na semana passada:
“Cade a solidez da economia americana? Cadê o infalível Banco Central americano? Cadê o infalível FMI? Cadê o infalível Banco Mundial? Cadê o infalível Banco Central Europeu? Será que eles não sabiam que o seu sistema financeiro estava envolvido na maior agiotagem financeira que o mundo conheceu?” (Presidente Lula)
Mas não foi exatamente isso que aconteceu? Temos que ser mais sérios na avaliação da questão ou corremos o risco de banalizar também a relação entre os países afetados pelo problema e sua economia real. Para que os principais aspectos da crise sejam endereçados, optei por citar quatro fatores que levaram as economias ao completo caos vivido nos últimos meses:
- Os juros baixos e a abundância de crédito levaram o mercado imobiliário americano ao superaquecimento. No começo, e ao longo de um bom tempo, os imóveis ficaram caros e cada vez mais mutuários decidiram por refinanciar suas hipotecas, saindo com mais dinheiro nas mãos para consumir;
- Os bancos, também desejosos por “consumir”, decidiram vender produtos de investimento lastreados nas hipotecas citadas no item anterior. Os investidores, muitas vezes bancos de investimento, espalhavam estes produtos por todo o sistema financeiro na forma de produtos de investimento ainda mais sofisticados e(ou) títulos;
- Os juros começaram a subir para conter a inflação e os preços dos imóveis começou a despencar. Com o preço das parcelas mensais subindo e o imóvel valendo menos que o valor refinanciado, muitos mutuários optaram pelo calote. Os produtos relacionados com essas hipotecas micadas perderam valor. O efeito dominó começa a fazer suas vítimas;
- Com cada vez menos recursos provenientes dos mutuários e com os produtos hipotecários sem valor, os bancos passaram a viver um período de fortes perdas e ajustes nos resultados. A enorme interdependência do sistema financeiro e a fraca regulação levaram a crise para todo o mercado.
Os efeitos sentidos e você!
Com o problema financeiro veio a crise de confiança, cujas bases vêm do medo de calote por parte dos bancos. Sem saber se os tomadores honrarão seus compromissos, instituições financeiras e bancos optam por duas alternativas:
- Encarecem o dinheiro emprestado. Em outras palavras, sobem os juros dos empréstimos de todas as modalidades;
- Congelam os empréstimos por algum tempo, esperando por uma definição melhor do cenário macroeconômico global.
Vamos ver: se os bancos emprestam menos ou emprestam mais caro, as empresas e as pessoas que usariam este dinheiro agora terão que também esperar e deixar o gasto para depois, certo? Pois é, a chamada escassez de crédito faz com que as companhias revejam seus planos de investimento e com que as pessoas passem a se deparar com juros mais altos nas operações financeiras de empréstimo ou parcelamento. A economia esfria.
Não se engane, estes problemas já estão entre nós. A Renner, um dos maiores varejistas do país, soltou um comunicado em jornal de grande circulação dizendo que “as taxas de juros praticadas para novas compras de produtos e/ou serviços sofrerão reajustes, tornando sem efeito todo material impresso porventura existente e cujo recolhimento não foi possível”. Alguns bancos já anunciaram alta nos juros do financiamento imobiliário.
A inadimplência também avançou. Segundo a Serasa, a inadimplência de pessoas físicas avançou 7,6% de janeiro a setembro de 2008 ante igual período de 2007. Entendeu o recado? Cuidado redobrado com o crediário, com as letrinhas miúdas dos anúncios de parcelamento e com as compras de bens em “parcelas a perder de vista”. Dinheiro é um recurso escasso, finito. Em crises, essa realidade se acentua. Cuide bem do que é seu!
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