Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial.
Caros leitores, comecemos pelos fatos objetivos. Xi Jinping é o Vice Presidente da China. Mais do que isso, ele deverá se tornar, ao longo dos próximos dois anos, o principal líder Chinês, substituindo Hu Jintao, que se notabilizou como um duro negociador com o ocidente. Jinping faz parte do grupo conhecido como “os pequenos príncipes”, que reúne os filhos de líderes revolucionários chineses – uma elite formada como fruto da revolução cultural, destinada a conduzir o futuro do país. Sim, os comunistas também adoram uma elite (a própria, naturalmente).
Avancemos pelo histórico do senhor Xi Jinping, filho de um proeminente – e corajoso – político chinês, expulso do partido comunista em 1962 por apoiar uma publicação considerada crítica ao presidente Mao Zedong, mas que, reabilitado em 1978, assumiu papel relevante na construção da China moderna com sua adesão ao capitalismo de estado.
Em 1987, seu pai defendeu reformas políticas no partido e em seguida condenou a violenta repressão aos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial, episódio marcado como a última mobilização de grande relevância da sociedade chinesa, que na época clamava pela mistura de capitalismo com democracia. Como nem tudo se pode ter nessa vida, os tanques avançaram, os líderes foram presos e perseguidos e, para o pai de Xi, restou (por sorte) apenas o desprestígio político.
Por que interessa saber quem é Xi Jinping?
Mas, o contexto familiar, suas sequelas e um passado marcado por vários contatos e interações com o ocidente, como a ocasião na qual liderou uma delegação de especialistas em alimentação animal em uma viagem oficial ao estado de Iowa (EUA), podem ter contribuído para a formação de um perfil significativamente diferente de Jintao, a quem deverá suceder.
Durante anos, e ao longo de sua ascensão na hierarquia do partido comunista, Xi Jinping cultivou uma forte relação com os EUA, com inúmeras viagens, relacionamentos sólidos e construídos de forma confiante e assertiva, incluindo encontros regulares nos últimos anos com Henry Paulson, ex-secretário do Tesouro. Sua esposa, Peng Liyuan, é uma famosa cantora pop na China e sua filha estuda em Harvard.
Uma China mais próxima do Ocidente?
O resultado de tudo isso é um provável arejamento na relação com o Ocidente, o que não representará necessariamente refresco no avanço das ambições da China, país que hoje figura como o principal do grupo apelidado de Bric’s.
Precisamente na última semana, Xi iniciou uma visita de cinco dias aos EUA, começando com o programado encontro com o presidente Barack Obama e se estendendo aos estados de Iowa e da Califórnia, onde serão realizados encontros com empresários e investidores. Mas o que realmente marcou a visita foi o tom sutilmente mais conciliatório, sem deixar a retórica das temáticas mais espinhosas em linha com a estratégia diplomática. Ainda assim, ficou patente a inequívoca diferença em relação ao atual líder.
Os mais otimistas começam a alimentar as esperanças de que Xi Jinping poderá, juntamente com a esperada renovação nos quadros do partido comunista Chinês, iniciar um processo de distensão, lenta e gradual (parafraseando a expressão adotada pela ditadura militar brasileira nos anos 70), para aí sim garantir à China o status de economia de mercado – e, quem sabe, equipada com o sopro de liberdade típico de uma crescente democracia.
Se essas expectativas se concretizarem, o resultado não será certamente o de um cenário com menos concorrência e reduzida ambição internacional. No entanto, a calibragem de muitos parâmetros tornará a briga no mínimo mais razoável. Quem viver verá. Até o próximo.
Foto de sxc.hu.