O cenário econômico brasileiro não parece favorável e isso influencia diretamente nossas oportunidades de investimento. Como se não bastasse, as mudanças no universo das finanças internacionais também mexem bastante com o nosso mercado.
O que esperar de 2014? Como investir melhor e de forma mais inteligente, especialmente na renda variável (bolsa de valores)? Conversei com Raymundo Magliano Neto, economista e presidente da Magliano Corretora sobre isso.
Acompanhe nosso papo:
Raymundo, o ano de 2013 foi muito desafiador para investidores do mercado de renda variável brasileiro. O que podemos esperar para 2014?
Raymundo Magliano Neto: Mais desafiador ainda. Teremos ainda mais volatilidade porque teremos três carnavais: Carnaval, Copa e Eleições. Esses momentos de euforia e depressão causarão ressaca no mercado. O único remédio é estar atento as notícias.
Como deve ser a estratégia do investidor que deseja investir em ações em meio a tanta volatilidade? O foco deve ser o longo prazo? Dá pra aprender algo com os gestores profissionais e aproveitar estas lições no investimento direto?
R. M. N.: O foco do mercado de ações deve ser sempre o longo prazo. O curto prazo é somente para profissionais de mercado, que vivem disso e podem assumir mais riscos. É importante aprender com gestores, mas melhor ainda consultar sempre um consultor de investimentos para embasar tecnicamente as melhores decisões.
Além disso, acompanhar sempre as notícias nos jornais, Blogs como Dinheirama e conhecer mais sobre as empresas que vai investir. Só assim poderá fazer melhores escolhas de investimento pensando sempre no longo prazo.
Há um temor de que o mercado de ações norte-americano tenha vivido um ano “fantástico demais” em 2013 e possa corrigir uma eventual distorção neste ano. Qual sua opinião sobre isso e como devemos, enquanto investidores brasileiros, olhar para este cenário?
R. M. N.: Realmente foi fantástico. Estaticamente, depois de um ano fantástico temos novamente um ano bom, que seria em 2014. Acontece que temos uma incógnita muito grande que é o “quantitative easing” que é uma quantidade de títulos que o governo americano compra todo mês (hoje está em $ 65 bi por mês).
Mas ninguém sabe o que vai acontecer com o mercado, pois este tipo de política nunca tinha acontecido, nem essa compra gigantesca de títulos mensais, nem a diminuição desses compras. O impacto disso ninguém sabe ainda, mas estamos falando de um volume enorme que será reduzido nesse ano, teremos menos dinheiro circulando na economia.
A troca do presidente do FED também pode ter influência e agora contamos com uma mulher no comando do principal órgão financeiro do mundo. Não sabemos qual será o reflexo disso e temos que ficar atentos porque qualquer movimentação ou decisão lá fora pode causar volatilidade no mercado acionário brasileiro.
O número de investidores pessoa física no Brasil estacionou em pouco mais de 550 mil e está muito aquém dos 5 milhões que já sonhamos ter no médio prazo. A renda fixa pagando tanto e a falta de educação financeira explicam isso? Por favor comente.
R. M. N.: Com certeza essas duas questões mencionadas explicam. A Educação Financeira não pode acabar nunca e iniciativas, eventos como a Expo Money e programas nas escolas devem continuar e evoluir para alcançar um número cada vez mais maior da população. Só a educação financeira resolverá no longo prazo.
A renda fixa pagando mais do que a variável também pode ser uma barreira. O governo incentiva, por exemplo, títulos como LCI e LCA (renda fixa, sem imposto de renda) e acaba tirando o foco do mercado de renda variável, que é uma forma de desenvolvimento e crescimento das empresas e do país.
Vejo que esse é um dos problemas do atual governo, de tomar iniciativas de tirar apenas um imposto, quando deveria fomentar e incentivar todas as opções de investimento, tanto fixa quanto variável (o Brasil precisa poupar mais, o nível de investimento é muito baixo para um país que quer crescer).
Se o investidor tiver educação financeira e conhecimento, poderá fazer as melhores escolhas. Hoje existe um desequilíbrio e sofremos com essa gangorra.
Nós recebemos muitos e-mails de investidores que relatam que suas primeiras experiências na bolsa são “traumáticas”, com perdas e com recomendações de trades bastante ruins por parte das corretoras. Em parte, a culpa é do próprio investidor e de suas expectativas erradas ao entrar na renda variável, mas há também muito ruído? Como agir?
R. M. N.: É importante lembrar que mercado acionário é sempre de longo prazo e recomendações de trade não são para investidores individuais, e sim para especuladores (traders).
Essas pessoas físicas precisam de recomendações de investimento para 5, 10 ou 15 anos. É importante receber recomendações de investimento e comprar ações ou fazer escolhas pensando nesse objetivo.
Existe uma frase de Warren Buffet que gosto muito: “Não compre uma ação por dez minutos se não quiser ficar com ela por pelo menos cinco anos”.
A falta desse pensamento de longo prazo e também de conhecimento, que faz com que investidores tomem decisões erradas que podem fazer com que ele não volte mais para o mercado acionário. Esse é um erro enorme da parte do investidor e também de quem o orientou.
A pessoa só pode investir na renda variável se estiver preparada financeiramente e psicologicamente para não se assustar com os movimentos de altas e baixas. Focar sempre no longo prazo, se tiver esse pensamento terá melhores resultados, é o que mostram as estatísticas.
Se você pudesse conversar diretamente com o investidor que hoje tem todo o seu dinheiro na poupança e que não possui condições de investir mensalmente grandes quantias, o que diria a ele?
R. M. N.: A principal coisa ele já está fazendo que é poupar e investir o dinheiro extra. Quando conseguir acumular R$ 10 mil ele pode começar a investir em produtos de renda fixa e com R$ 50 mil em renda variável, mas sempre reservando uma menor fatia para os investimentos de maior risco, que são focados no longo prazo.
É importante também lembrar dos conselhos de consultores e especialistas que recomendam que a pessoa tenha uma reserva mínima de oito salários para emergências, perda de emprego, problemas de saúde. Essa fatia deve estar sempre garantida em um produto de menor risco.
Raymundo, muito obrigado pela participação e disponibilidade. Por favor deixe mais informações sobre seu trabalho para quem quiser conhecê-lo melhor. Até a próxima.
R. M. N.: Sou economista de formação, investidor e também um grande defensor da Educação Financeira. Fui responsável pelo lançamento da Expo Money, maior evento de Educação Financeira e Investimentos da América Latina, e conduzi a iniciativa até 2010, quando vendemos o produto para um grupo de mídia.
Acredito que só a EF pode ajudar a termos um país melhor e famílias com condições melhores. Hoje sou presidente da Magliano Corretora, uma corretora tradicional do mercado acionário, com mais de 80 anos de existência e focada na transparência e confiabilidade.
Sempre levamos em conta o perfil do investidor e suas expectativas. Hoje administramos carteiras de ações e também oferecemos um amplo leque de fundos de investimento para atentar a cada perfil dos nossos clientes. Convido o leitor a acessar www.magliano.com.br para mais detalhes. Até a próxima.
Foto: divulgação.